O homem que não acreditava em São Tomé - Final

Começou a caminhar lentamente em meio a escuridão usando uma filmadora e óculos infravermelhos, porém era impossível não ser percebido com o barulho insuportável do ranger do chão de taco e das dobradiças das portas. Andou e vasculhou de cima a baixo, porém não havia nada já estava ficando entediado pensando que seria mais uma vez como das outras, acabaria em frustração.

Ao subir as escadas levou um susto de imediato, pensou ter avistado o Capitão, porém ao observar melhor aproximou-se com desdém do tão famoso auto-retrato de Atílio que ficava no final do corredor superior da casa. Examinou-o e rindo de seu momento de humanidade, resmungou:

– Eu sabia, é como sempre digo, São Tomé não existe!

Nesse momento o quadro lhe respondeu:

– Ah é! Eu também acho!

O rapaz no primeiro momento pensou estar ouvindo coisas, porém o homem do retrato começa a tomar forma e esbugalhar seus enormes olhos vermelhos, dando em seguida uma risada sardônica que devia ter aprendido com o próprio Diabo no inferno. Serrano não teve outra ação que não fosse correr por entre qualquer espaço que encontrava, sentindo um torpor, um gosto de sangue frio e amargo na boca que não o deixava, apenas suava frio.

Correu tanto que uma determinada hora viu algo brilhando de relance no teto e ao puxar uma corda descobriu que se tratava do tesouro de Camaquã escondido no sótão acima do lustre da sala central. Não conseguia acreditar nisso, e pensou rápido que seria impossível provar a existência daquele fantasma, então se não conseguisse fama naquela noite tornaria-se ao menos rico.

Não conseguia alcançar o teto, subiu então no corrimão da escada para ganhar altura de puxar os valiosos objetos, estava quase chegando quando o fantasma do Capitão o surpreendeu, mas ele se encheu de coragem e o interpelou:

– O Senhor não pode me fazer mal, pois eu achei o tesouro e agora o livrei da maldição!

O capitão começa a rir e lhe devolve:

– Ingênuo rapaz, a maldição da feiticeira não se trata de libertação e sim de solidão, crer em mim como ninguém mais acreditou. Eu vagaria sozinho por essa casa até que alguém tão arrogante pudesse crer em mim e passaria a viver da mesma forma que eu para sempre até que mais alguém pudesse se juntar ao nosso seleto clube. Agora teremos muito tempo juntos para que isso ocorra.

– Não pode ser! – grita o rapaz.

O Capitão então o empurra do corrimão e o faz ganhar o chão, porém Serrano não percebeu nada, logo estava de pé, só a sensação era pior que a de antes com um vazio por dentro como se não tivesse coração, o frio estava presente em todo seu corpo, sua pele era emborrachada, empalidecida e não havia segurança, proteção, era simplesmente horrível.

O Capitão Atílio então o questiona:

– Pronto para festa?

Ele nada falou, apenas saiu correndo pela casa e desapareceu nas sombras de seu próprio pesadelo.

Com o amanhecer Marilu pode notar pelas frestas das janelas que Serrano estava caído inerte ao chão da sala central, ela foi procurar ajuda, mas nada pôde ser feito, o rapaz estava morto, havia caído das escadas e quebrado o pescoço.

A moça então velou o corpo de seu desprezado amor junto a família dele, voltou para Ouro Preto e retomou os estudos, tempos depois lançou um livro ficcional de contos de terror e numa entrevista à TV quando perguntada respondeu:

– A senhorita escreveu esse livro de Contos de Terror, realmente acredita nisso?

– Tudo começou com meus ancestrais vindos do Sul que me contavam histórias, principalmente minha avó. Mas eu não creio nelas, isso eu deixo para aqueles que acreditam em cartas anônimas escritas em papel de pão. – terminou enfática.

– Acabamos de falar com a famosa escritora do terror Marilu Eulália. Boa noite!

É, uma mulher desprezada pode ser pior que qualquer fantasma, por vier das dúvidas vale acreditar em São Tomé, eu acredito.

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Fim.

Obrigado por lerem!!!! Se puderem comentar eu agradeço e sigam acompanhando minhas histórias que estão por aí, em todas as partes e cantos do recanto!!!! Bye!!