GAROTA ESTRANHA

G A R O T A E S T R A N H A

- Viche! Você me assustou menina.

- Não foi intencional.

Achei estranha a presença daquela menina ali naquela hora tão avançada, mas ela era bonita, mesmo no lusco-fusco ali do momento apresentava estar bem vestida, como não dava para discernir as cores tentei visualizar o formato das roupas bem como do corpo; indicava ser blusa em tonalidade vermelho escuro ou algo próximo desta cor, com um decote em “V”, isto estava bem caracterizado uma vez que a tonalidade da pele era bem clara, não deixava dúvida, saia rodada em tonalidade bem escura, preto ou talvez azul, alguns centímetros acima do joelho. O corpo apresentava curvas bem femininas, talvez provocantes demais, não sei se pelo avançado da hora, pela juventude da menina ou se pelo local do encontro. Mas quando ela disse: “Não foi intencional”, me pareceu uma voz muito gutural, meio cavernosa, coisa de outro mundo. Outra grande relevância é que estávamos praticamente na porta do cemitério.

Não acredito nestas estórias de que fulano morreu e apareceu para sicrano, ou, o João depois de quase vinte anos que morreu apareceu para Maria; para mim isto é invenção, não tem respaldo científico, ou melhor, não tem lógica. Mesmo não acreditando fiquei encabulado com aquela menina, porém passei direto por ela, daí a alguns instantes nem mais me lembrava do encontro.

Uns sete anos depois, ao passar pelo mesmo local, numa hora um pouca mais avançada, eis a menina:

- Olá! Como vai? Faz tempo que nos encontramos aqui, você se lembra?

Ela simplesmente respondeu:

- Como não, se estou esperando-o desde então.

Menino! Nesta hora as pernas amoleceram, os cabelos eriçaram, o coração acelerou e eu quase corri.

- Parece que você ficou com medo.

- Para ser sincero fiquei sim, mas acredito mais na lógica do em qualquer outra coisa, e logicamente você é de carne e osso, está bem vestida...

Aí me lembrei da indumentária dela no primeiro encontro e quase desmaiei.

Ela estava exatamente com a mesma roupa, mesmo penteado, se é que pode dizer que ela estava penteada. Propositadamente também estava de pé na mesma posição de sete anos atrás, ou seja, de certa forma tentava esconder o rosto e parte do corpo na sombra que fazia uma daquelas palmeiras comuns em portas de cemitério. E as curvas provocantes também eram as mesmas. Considerei este novo encontro como se já fossemos conhecidos de há muito tempo, se bem que na realidade já havia se passados sete anos, só que nossa intimidade não era para tanto, mas aquele corpinho estava cobiçável, e perguntei:

- Estava esperando-me com algum propósito definido?

- Não.

- Você é tão bonita e tão jovem...

Rapaz! Quando fiz uma reavaliação, cá com meus botões, dos sete anos passados, em mim e nela, não tive dúvidas, ela era de outro mundo. Para esclarecer só perguntando:

- Você mora muito longe daqui?

- Não. Alameda “C”, túmulo 12.

(fevereiro/1986)

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 02/02/2011
Código do texto: T2766922
Classificação de conteúdo: seguro