‡ A Bela e a Fera ‡

Encontram-se de maneira estrondosa, espantosa, inimaginável. A noite gélida fazia com que seus corpos se procurassem. Se tocassem. E tocaram-se!

Os lábios rubros, carnudos e adocidados da belíssima e suntuosa Madelaine, eram mordiscados por seus dentes a medida em que seu amado, Edgard, a encarava com seu olhar faiscante. Seus olhos cruzavam-se, suas dermes efusivas adornavam a rústica cama daquela cabana construída em meio à mata virgem. As mãos pontiagudas dele, deslizavam pelos longos, lisos e plumosos cabelos de sua amante. Veludíneo era o pescoço de Medelaine, que a cada mordiscada, eriçava-se retesada. Seus mamilos róseos apontavam aos céus a cada investida de carinho de seu homem.

A cada toque, cada beijo, cada mordida, cada afago; a casucha flamejava em energia lasciva, concupiscente; langue!

Seus corpos embebidos pelo amor e calor, misturavam-se à beleza egrégia daquela natureza selvagem.

Minutos depois, a lua cheia osculava o negrume céu, esvaindo-se das nuvens acinzentadas pelas quais tomavam aquele manto escuro. Edgard sentia-se estranho. Pego por uma espécie de convulsão , seu corpo se contorcia. Madelaine, assustada, cobriu seu esbelto corpo com o lençol. Edgard caiu ao chão em espamos. Podia escutar seus ossos estalando e aos poucos aumentando de tamanho. A moça nada entendia e tentava, de alguma maneira, apartar seu homem, mas os gritos de horror de Edgard sobressaíam-se naquele quarto tempestuoso.

Aos poucos, pêlos nasciam em seu corpo, suas mãos contraíam tais quais seus músculos, os dentes aumentavam de tamanho e rilhavam-se, seu corpo se modificava tal qual uma criatura hórrida e carniceira. De sua boca esvaía babas de raiva e na posição tal qual a de um quadrúpede, fitou aos céus pela janela da cabana, uivando para a deusa lua. Ergueu-se em seus mais de dois metros e meio de corpo piloso, olhou para sua amada e saltou janela a fora, estilhaçando todos os seus vidros.

Madelaine, assustada, não compreendia o ocorrido e caiu em pranto.

*****

No dia seguinte, caminhando pela floresta, Madelaine encontrou Edgard caído ao chão telúrico, totalmente nu, com seu corpo arranhado. Ela então acordou-o com um beijo, e este, levantou-se com seus lábios ensanguentados e gosto de carne. Ainda trôpego, voltou com a amada para a cabana.

A moça então, cuidadosamente, tratou de cuidar dos ferimentos do rapaz. Edgard contou o que lhe acontecera na noite em que, num acampamento, fora mordido e atacado por uma imensa e dantesca criatura e que sua antiga namorada, havia desaparecido no mesmo momento. Tais lembranças tocavam profundamente o rapaz, que em lágrimas polvorsas, caiu aos prantos ao colo de Madelaine.

A moça, sorumbática e incoformada, tentava encontrar alguma explicação para aquilo tudo. Pensou em desistir de seu homem, pensou em entregá-lo às autoridades, pensou até em matá-lo, mas seu coração gritou mais alto. Ela o queria, o desejava, e sendo assim, resolveu ajudá-lo de alguma maneira.

*****

A noite despencava fria, e com ela, a angústia tomava conta de ambos. Em uma das partes da cabana encontraram grandiosas correntes e cadeados imensos. Acharam estranho, mas, obtiveram a partir daí uma ideia. Edgard pediu para que sua amada prendesse seu corpo à cama e ela o fez.

Sentou-se então em uma poltrona no aguardo do surgimento da poderosa lua preteada.

Os minutos corriam e a transformação era iminente. O corpo viril de Edgard, aos poucos, era tomado por pêlos e um força terrivelmente iracunda. As correntes eram esticadas pelos seus desmedidos movimentos. Madelaine apenas o observava.

Depois de muito debater-se, seu olhar fora tomado por uma completa ternura, pedindo para que seu amor o soltasse.

Ela então chegou perto de seu homem, pegou sutilmente em suas garras e o agraciou em carícias. O olhar fúnebre da besta deu lugar ao carisma e sensibilidade os quais sempre fizeram parte de Edgard. Medelaine despiu-se, sentando-se sobre o seu amado. Sua vulva rósea apenas tocava o membro bem dotado da criatura e suas mãos agraciavam o peitoral cabeludo de Edgard. Os olhos do Licantropo, aos poucos cerravam-se, dando lugar aos desejos humanos mais profundos e profanos.

Madelaine finalmente sentiu o falo da criatura fincando em seu sexo róseo e retesado. Ela gritava de dor e prazer. Sendo assim, cavalgava feito uma verdadeira loba no cio, apertando seu corpo esbelto ao da besta ali presente.

Os raios lunares cada vez mais rutilavam sobre seus corpos amantes, até que um estrondo tomou conta do ambiente, terrificando-os. Uma outra criatura entrara no quarto pela janela quebrada da noite anterior.

Madelaine saltouda cama espavorida, encarando o olhar maquiavélico do Licantropo.

Edgard tentava soltar-se mas não conseguia, sua parte humana, pega pelo amor e sexo, o deixaram enfraquecido. Madelaine meneava de um lado para o outro, a fim de escapar da gélida criatura.

As chaves do cadeado estavam do lado contrário da cama, em cima de uma cômoda, em frente à outra fera.

Precisava pensar em algo rapidamente.

Madelaine, ao lado da cama, passou por cima de seu amado e quando estava saindo da mesma, o outro Licantropo, num só pulo, caiu em cima de Edgard. Madelaine correu para a cômoda e pegou a chave. Neste momento, Edgard conseguiu morder o pescoço de seu oponente e percebeu, ao olhar no fundo de seus olhos lôbregos; que a conhecia. Era ela, sua antiga namorada que desde aquela fatídica noite, havia também transformado-se em uma besta noctívaga. Ela também o reconhecera, mas um dos dois teria de vencer aquela peleja, enquanto que Madelaine, num canto penumbroso do quarto, aguardava ansiosa.

Mas, o amor possui variadas faces e num gesto delicado, o lado feminil da criatura arrebentou as correntes do Licantropo, beijando sem cessar o seu amado lobisomen.

Levantaram-se e na mátria treva, a suntuosa Madelaine, com uma poderosa arma e balas de prata, apontava para seus oponentes.

- O que foi meu querido? Por que desse olhar melancólico? - Indagou, irônica Madelaine, para o Licantropo.

As duas criaturas, extasiadas, apenas encarando aquela poderosa arma e os olhos assassinos da moça, resfolegantes e balbulciuando torpes; aguardavam inertes.

- Ah meu querido, você não desconfiou quem eu era? O porque lhe ter trazido exatamente aqui, neste fim de mundo? O por que das correntes? Herdei a caça de minha família, de meus ancestrais e vocês, Licantropos, são a escória do mundo, a sujeira, a esbórnia da criação. Terão de pagar caro meus queridos, pois não estou aqui para brincadeiras e jamais sairão vivos deste lugar. Daqui há algumas horas, outros de minha casta surgirão e de sua prole, nada mais restará.

Notaram que a presença da moça atraía outras criaturas noctâmbulas, tais quais corvos e morcegos. Notaram também que os caninos de Madelaine haviam crescido e que sua casta era tão somente a dos sugadores de sangue, inimigos número um dos Licantropos.

Edgard num gesto ímpar e impulsivo saltou em direção de Madelaine, fazendo-a disparar contra o seu peito. Sarah, a outra criatura, vendo seu amado ser friamente atingido, atacou a vampira, e num só golpe, cortou ao meio a cabeça de Madelaine.

Edgard ao chão, ensanguentado, voltava aos poucos à sua forma humana.

A lua fora se escondendo por detrás das nuvens, a madrugada despencava e as lágrimas de Sarah, irrigavam a ferida no peito aberto do amado. O amor, naquela noite, fora provado que realmente existia, pois além de resistir ao tempo, provou que a força que ele guardava em ambos, se fazia presente.

- Meu amor, não, não se vá!!

E ali, jazido no chão daquele quarto rústico, Edgard num último suspiro, bradou: - Paaa..pa..para sempree...te aaa..amareii, Sa-raahhh....

Aos prantos, Sarah deitou-se sobre o corpo de seu amado e aguardava em total ira, a chegada da noite, pois, a partir daquela data, a família de Madelaine seguiria à sua procura e Sarah aguardaria ansiosa....

Mas, esta já é uma outra história.....

Tiago Tzepesch
Enviado por Tiago Tzepesch em 25/01/2011
Reeditado em 04/02/2011
Código do texto: T2750866
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