ENCONTRO MACABRO (HISTÓRIA REAL)
Os fatos relatados abaixo aconteceram realmente comigo. Os nomes das pessoas, locais e eventos também são reais.
Acho que o ano era 1994, eu tinha em torno de vinte anos e era saxofonista de uma banda de pop rock cujo nome era Expresso 21, nosso forte eram músicas próprias e chegamos a emplacar algumas baladas nas rádios de Porto Alegre, mas fazíamos muitos shows tocando cover também.
No verão sempre fazíamos shows no litoral, éramos em cinco: Róger (vocal-guitarra), Régis (bateria), Dâmi (vocal-baixo), Chico (vocal-teclado), Cesar (sax). Além disso, tinha o Flávio que era nosso empresário e mais uma galera de umas oito pessoas entre amigos e namoradas de uns e de outros que normalmente nos acompanhavam nas apresentações.
Nossa banda era versátil e para ganhar uma grana a mais a gente também tocava carnaval, este show por muitos anos foi sempre no mesmo local, na praia de Magistério, onde eles fechavam a avenida principal e instalavam um palco ao ar livre. Aí o pau comia e eram quatro noites conosco agitando a galera, era uma praia pequena e a zoeira já tinha virado tradição.
Bom, agora que vocês já se situaram vamos ao fato em si. Estávamos com o show de carnaval marcado e combinamos de nos encontrar diretamente na praia, visto que era véspera de carnaval e muitos já estavam no litoral, o restante da galera que estava na capital iria em horários diferentes devido a compromissos.
De Porto Alegre iriam alguns de carona com o Flávio e comigo em carros divididos, mas como eu iria somente à noite acabei indo sozinho no meu carro e o pessoal acabou optando em ir com o Flávio para chegar ainda durante o dia.
Na época eu tinha um Monza 2.0 com dois anos de uso, era um puta carro. Mas para falar a verdade o carro não era meu, eu tinha era um Fusca caindo aos pedaços, o Monza era do meu avô que me emprestava de quando em vez (você deve estar pensando: o que me interessa que porra de carro tu tinha, né???.........OK, vou parar de divagação e vamos ao que interessa).
Acabei me atrasando e quando peguei a estrada já eram em torno de 20:00hs, a viagem era em torno de duas horas pela Rodovia RS 040 e eu não gostava de andar por ela pois era sem iluminação nenhuma, poucas construções em suas margens e a maior parte com mato cerrado de ambos os lados.
O trânsito de veículos estava intenso, ao fazer uma ultrapassagem o carro simplesmente “morreu”, com muito custo consegui parar no acostamento sem causar nenhum acidente. Desci do carro e ato contínuo abri o capô para verificar o motor (é impressionante, deve ser ato instintivo, pois já repararam que mesmo quem não entende merda nenhuma de mecânica a primeira coisa que faz é abrir o capô e ficar olhando para o motor?). Como já era esperado, não notei nada de errado e aí começou a cair a ficha quando eu olhei em volta e só via aquele matagal para todos os lados. Antes que algum engraçadinho pense em usar o celular, cabe ressaltar que esta coisinha comum hoje em dia não existia naquele tempo (ao menos para mortais como eu).
Os minutos foram passando e eu ficando cada vez mais preocupado e com medo de ser assaltado ou algo do tipo, sem nenhuma idéia melhor ficava alternando momentos de reflexão olhando para o motor com espiadas constantes para o matagal que já estava me deixando realmente com medo.
Foi neste momento que vi parar um carro que vinha em alta velocidade e parou muitos metros a frente, logo em seguida deu ré e começou a vir na minha direção. Para minha surpresa, era o Flávio com mais três amigos nossos que reconheceram meu carro e pararam. Após eu me refazer do susto inicial me disseram que também haviam se atrasado e acabaram saindo depois de mim de Porto Alegre.
O Flávio conhecia alguma coisa de mecânica e logo verificou que meu carro teve um problema no alternador, mas como também não tinha nenhuma ferramenta não havia nada o que pudesse fazer.
Foi neste momento que a coisa começou a tomar um rumo inesperado, uns cinco minutos após eles chegarem um carro parou atrás do meu e o motorista desceu. Como estávamos todos atrás do capô e ele parou atrás do meu carro, demonstrou uma certa surpresa ao nos ver. Passada a surpresa inicial, ele disse que havia parado espontaneamente para ver se precisávamos de ajuda, alegou que era mecânico e tal. Dissemos qual era o problema e ele falou que tinha ferramentas no carro e podia dar uma olhada.
Eu e o Flávio trocamos um olhar receoso ao notar que o motorista tinha uma arma na cintura parcialmente encoberta pela camisa, mas como estava sozinho ponderamos que podia ser um fato normal, pois ele havia parado a noite para ver o que estava acontecendo. Além disso, ele tinha um ar meio estranho pois lhe faltavam alguns dentes e tinha uma aparência muito humilde, aquele tipo de gente maltratada pela vida, completamente incompatível com o Escort praticamente zero quilômetro que estava conduzindo, mas como estávamos em cinco pessoas ficamos mais tranqüilos e resolvemos levar a situação adiante.
O cara realmente entendia de mecânica, pois retirou um parafuso com porca de uma placa da rodovia e conseguiu fazer um paliativo para o carro funcionar. Nestas alturas do campeonato, a gente já estava até se sentindo meio culpado por ter desconfiado da boa vontade do cara e fiz questão de pararmos no primeiro restaurante para lhe pagar uma cerveja, também quis dar uma gratificação, mas ele recusou com veemência.
Como combinado, paramos no primeiro local que encontramos alguns quilômetros à frente, tomamos umas cervejas, jogamos algumas partidas de sinuca e demos várias risadas juntos ao falar da situação em que confessamos que ambos estávamos com receio um dos outros. Ele inclusive confessou que só parou o carro porque não viu que havia um carro na frente do meu e tinham cinco caras parados no acostamento. Ele contou que o carro não era dele, que era da patroa e que o estava levando para o litoral a pedido dela que tinha ido para a praia com familiares. Após vários agradecimentos novamente nos despedimos e cada um seguiu seu caminho.
Apesar do atraso, ainda cheguei a tempo para tocar com a banda. Após o carnaval, em vez de voltar para Porto Alegre, fui para a casa da minha namorada na época. Ao chegar, enquanto aguardava minha sogra preparar o almoço estava na sala com minha namorada assistindo televisão, foi quando tive um dos maiores sustos da minha vida. No telejornal estava dando a notícia de um crime que eu tinha ouvido falar, ocorrido na mesma tarde em que saí de Porto Alegre para minha viagem. Uma mulher havia sido encontrada morta em sua casa, havia sido brutalmente torturada e após várias facadas teve sua cabeça decepada. Quase entrei em estado de choque quando apareceu a imagem do bandido que havia sido capturado, pois bem na minha frente eu estava vendo o homem que tinha me prestado socorro, com quem eu havia tomado cerveja e jogado sinuca.
Na reportagem informaram que ele era um tipo de caseiro dela, alguém que ela tinha ajudado desde o tempos de criança e que fazia alguns serviços quando ela precisava. Ele a torturou porque queria que ela lhe dissesse onde tinha dinheiro e objetos de valor escondidos. Só foi pego porque era completamente amador e tinha roubado o carro dela, ao abandoná-lo tinha esquecido uma nota fiscal de roupas que ele havia comprado com seu nome próprio nas Lojas Gang no Shopping Iguatemi em Porto Alegre.
Esta história me assombrou por muitos meses, pois eu ficava imaginando qual era a intenção dele em parar para me ajudar. Pensei em ir até o presídio e perguntar diretamente à ele, mas fui convencido a não fazer isso pelo pai de um amigo que era da polícia civil. Em contato com o jornal que publicou a matéria, descobri o nome do delegado responsável pelo caso. Fui até a delegacia e conversei como delegado Bolívar, contei o caso e perguntei a opinião dele, baseado na sua experiência ele me disse que a hipótese mais provável é que ele tinha a intenção de se desfazer do carro da vítima e pegar o meu e deve ter desistido ao ver que estávamos em um número grande de pessoas, a partir daí resolveu agir naturalmente para não chamar atenção.
Até hoje não consigo deixar de pensar que por uma mera casualidade o fato do meu amigo ter se atrasado, e mais... ter chegado apenas alguns minutos antes... pode ter sido a diferença entre a minha vida ou a minha morte.
Para ler mais textos como este acesse:
http://www.recantodasletras.com.br/autores/maddox
ou
www.cesarfonseca.recantodasletras.com.br
Os fatos relatados abaixo aconteceram realmente comigo. Os nomes das pessoas, locais e eventos também são reais.
Acho que o ano era 1994, eu tinha em torno de vinte anos e era saxofonista de uma banda de pop rock cujo nome era Expresso 21, nosso forte eram músicas próprias e chegamos a emplacar algumas baladas nas rádios de Porto Alegre, mas fazíamos muitos shows tocando cover também.
No verão sempre fazíamos shows no litoral, éramos em cinco: Róger (vocal-guitarra), Régis (bateria), Dâmi (vocal-baixo), Chico (vocal-teclado), Cesar (sax). Além disso, tinha o Flávio que era nosso empresário e mais uma galera de umas oito pessoas entre amigos e namoradas de uns e de outros que normalmente nos acompanhavam nas apresentações.
Nossa banda era versátil e para ganhar uma grana a mais a gente também tocava carnaval, este show por muitos anos foi sempre no mesmo local, na praia de Magistério, onde eles fechavam a avenida principal e instalavam um palco ao ar livre. Aí o pau comia e eram quatro noites conosco agitando a galera, era uma praia pequena e a zoeira já tinha virado tradição.
Bom, agora que vocês já se situaram vamos ao fato em si. Estávamos com o show de carnaval marcado e combinamos de nos encontrar diretamente na praia, visto que era véspera de carnaval e muitos já estavam no litoral, o restante da galera que estava na capital iria em horários diferentes devido a compromissos.
De Porto Alegre iriam alguns de carona com o Flávio e comigo em carros divididos, mas como eu iria somente à noite acabei indo sozinho no meu carro e o pessoal acabou optando em ir com o Flávio para chegar ainda durante o dia.
Na época eu tinha um Monza 2.0 com dois anos de uso, era um puta carro. Mas para falar a verdade o carro não era meu, eu tinha era um Fusca caindo aos pedaços, o Monza era do meu avô que me emprestava de quando em vez (você deve estar pensando: o que me interessa que porra de carro tu tinha, né???.........OK, vou parar de divagação e vamos ao que interessa).
Acabei me atrasando e quando peguei a estrada já eram em torno de 20:00hs, a viagem era em torno de duas horas pela Rodovia RS 040 e eu não gostava de andar por ela pois era sem iluminação nenhuma, poucas construções em suas margens e a maior parte com mato cerrado de ambos os lados.
O trânsito de veículos estava intenso, ao fazer uma ultrapassagem o carro simplesmente “morreu”, com muito custo consegui parar no acostamento sem causar nenhum acidente. Desci do carro e ato contínuo abri o capô para verificar o motor (é impressionante, deve ser ato instintivo, pois já repararam que mesmo quem não entende merda nenhuma de mecânica a primeira coisa que faz é abrir o capô e ficar olhando para o motor?). Como já era esperado, não notei nada de errado e aí começou a cair a ficha quando eu olhei em volta e só via aquele matagal para todos os lados. Antes que algum engraçadinho pense em usar o celular, cabe ressaltar que esta coisinha comum hoje em dia não existia naquele tempo (ao menos para mortais como eu).
Os minutos foram passando e eu ficando cada vez mais preocupado e com medo de ser assaltado ou algo do tipo, sem nenhuma idéia melhor ficava alternando momentos de reflexão olhando para o motor com espiadas constantes para o matagal que já estava me deixando realmente com medo.
Foi neste momento que vi parar um carro que vinha em alta velocidade e parou muitos metros a frente, logo em seguida deu ré e começou a vir na minha direção. Para minha surpresa, era o Flávio com mais três amigos nossos que reconheceram meu carro e pararam. Após eu me refazer do susto inicial me disseram que também haviam se atrasado e acabaram saindo depois de mim de Porto Alegre.
O Flávio conhecia alguma coisa de mecânica e logo verificou que meu carro teve um problema no alternador, mas como também não tinha nenhuma ferramenta não havia nada o que pudesse fazer.
Foi neste momento que a coisa começou a tomar um rumo inesperado, uns cinco minutos após eles chegarem um carro parou atrás do meu e o motorista desceu. Como estávamos todos atrás do capô e ele parou atrás do meu carro, demonstrou uma certa surpresa ao nos ver. Passada a surpresa inicial, ele disse que havia parado espontaneamente para ver se precisávamos de ajuda, alegou que era mecânico e tal. Dissemos qual era o problema e ele falou que tinha ferramentas no carro e podia dar uma olhada.
Eu e o Flávio trocamos um olhar receoso ao notar que o motorista tinha uma arma na cintura parcialmente encoberta pela camisa, mas como estava sozinho ponderamos que podia ser um fato normal, pois ele havia parado a noite para ver o que estava acontecendo. Além disso, ele tinha um ar meio estranho pois lhe faltavam alguns dentes e tinha uma aparência muito humilde, aquele tipo de gente maltratada pela vida, completamente incompatível com o Escort praticamente zero quilômetro que estava conduzindo, mas como estávamos em cinco pessoas ficamos mais tranqüilos e resolvemos levar a situação adiante.
O cara realmente entendia de mecânica, pois retirou um parafuso com porca de uma placa da rodovia e conseguiu fazer um paliativo para o carro funcionar. Nestas alturas do campeonato, a gente já estava até se sentindo meio culpado por ter desconfiado da boa vontade do cara e fiz questão de pararmos no primeiro restaurante para lhe pagar uma cerveja, também quis dar uma gratificação, mas ele recusou com veemência.
Como combinado, paramos no primeiro local que encontramos alguns quilômetros à frente, tomamos umas cervejas, jogamos algumas partidas de sinuca e demos várias risadas juntos ao falar da situação em que confessamos que ambos estávamos com receio um dos outros. Ele inclusive confessou que só parou o carro porque não viu que havia um carro na frente do meu e tinham cinco caras parados no acostamento. Ele contou que o carro não era dele, que era da patroa e que o estava levando para o litoral a pedido dela que tinha ido para a praia com familiares. Após vários agradecimentos novamente nos despedimos e cada um seguiu seu caminho.
Apesar do atraso, ainda cheguei a tempo para tocar com a banda. Após o carnaval, em vez de voltar para Porto Alegre, fui para a casa da minha namorada na época. Ao chegar, enquanto aguardava minha sogra preparar o almoço estava na sala com minha namorada assistindo televisão, foi quando tive um dos maiores sustos da minha vida. No telejornal estava dando a notícia de um crime que eu tinha ouvido falar, ocorrido na mesma tarde em que saí de Porto Alegre para minha viagem. Uma mulher havia sido encontrada morta em sua casa, havia sido brutalmente torturada e após várias facadas teve sua cabeça decepada. Quase entrei em estado de choque quando apareceu a imagem do bandido que havia sido capturado, pois bem na minha frente eu estava vendo o homem que tinha me prestado socorro, com quem eu havia tomado cerveja e jogado sinuca.
Na reportagem informaram que ele era um tipo de caseiro dela, alguém que ela tinha ajudado desde o tempos de criança e que fazia alguns serviços quando ela precisava. Ele a torturou porque queria que ela lhe dissesse onde tinha dinheiro e objetos de valor escondidos. Só foi pego porque era completamente amador e tinha roubado o carro dela, ao abandoná-lo tinha esquecido uma nota fiscal de roupas que ele havia comprado com seu nome próprio nas Lojas Gang no Shopping Iguatemi em Porto Alegre.
Esta história me assombrou por muitos meses, pois eu ficava imaginando qual era a intenção dele em parar para me ajudar. Pensei em ir até o presídio e perguntar diretamente à ele, mas fui convencido a não fazer isso pelo pai de um amigo que era da polícia civil. Em contato com o jornal que publicou a matéria, descobri o nome do delegado responsável pelo caso. Fui até a delegacia e conversei como delegado Bolívar, contei o caso e perguntei a opinião dele, baseado na sua experiência ele me disse que a hipótese mais provável é que ele tinha a intenção de se desfazer do carro da vítima e pegar o meu e deve ter desistido ao ver que estávamos em um número grande de pessoas, a partir daí resolveu agir naturalmente para não chamar atenção.
Até hoje não consigo deixar de pensar que por uma mera casualidade o fato do meu amigo ter se atrasado, e mais... ter chegado apenas alguns minutos antes... pode ter sido a diferença entre a minha vida ou a minha morte.
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http://www.recantodasletras.com.br/autores/maddox
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