O fantasma do cemitério
Ela estava com um ódio mortal do seu ex noivo, pensava consigo: aquele verme, coveiro idiota, tinha a deixado para ficar com a sua vizinha, que nem era melhor do que ela, era simplesmente feia, ridícula e ela loura, alta, seios grandes, pele porcelana, tinha sido trocada por uma "neguinha" tanajura do cabelo ruim, só podia ser boa de cama, só isso, devia ter algum mel lá embaixo..
Ághata ficou 5 anos com Daniel, que vivia nos pagodes, escola de samba, rodeado de mulheres, bebida e boemia, ele conheceu Ivaneide, a mulata da bunda grande, em uma dessas rodas e logo a atração foi recíproca e no mesmo dia que se conheceram, foram para a cama em um motelzinho de quinta perto do barzinho. No outro dia essa fofoca tinha chegado aos ouvidos da sua noiva, que louca da vida, terminou tudo!! mas o amor pelo vagabundo continuava em seu coração.
O que realmente não combinava com Daniel, é que fazia 2 anos que era Coveiro no cemitério saudade, seu turno era á noite, pois como os ladrões estavam roubando as sepulturas, ele ficava vigilante para pegar os espertinhos. Ele não gostava de ser coveiro, mas também não gostava de nenhum outro trabalho..trabalho não era com ele e pelo menos sendo coveiro, ninguém enchia o saco e não precisava prestar contas do seu serviço, era só deixar as sepulturas limpinhas, vigiar, colocar os mais abusadinhos para fora..cansava de pegar macumbeiros, casalzinho mais abusado, góticos á noite. Daniel só folgava aos fins de semana e ele se ocupava da sua preta.
Ághata não se conformava, chegou aos ouvidos dela que seu ex noivo se casaria com a nega da escola de samba, seis meses com a ordinária, que nem se comparava a ela, o traste estava literalmente de 4 pela safada. Isso não ficaria assim, daria um jeito de se vingar do vagabundo.
Então pensando com seus botões, Ágatha que tinha a pele muito branca, os olhos azuis bem claros como o céu em um dia de sol, e os cabelos louros encaracolados até embaixo do ombro, pegou um vestido que usava em suas peças de teatro, modelo século XIX, branco, lindo, rendado e iria colocar seu plano em ação, iria assustar Daniel até deixar o homem dóido.
Então, em uma sexta feira quando Daniel fazia a ronda pelos túmulos, viu algo que o deixou paralisado: Uma moça com a pele muito pálida, uns machucados no rosto, sangue escorrendo, sentada em cima de uma sepultura, ao seu lado um gato preto, olhos laranjas, olhar de mal e ela começou: __Daniel, você me deve, vou te matar, sua hora está próxima, você é um homem mal..e ela nem tinha terminado de falar tudo, o homem saiu voando ladeira abaixo do cemitério, ele chegou na sua sala pingando, as roupas grudadas, o corpo trêmulo, não conseguia falar, só queria sair dali. Será mesmo que era um homem ruim?? aí se lembrou dos vários chifres que colocava em sua ex noiva, que a tinha traído, mas apesar de Ághata ser linda, uma mulher de cultura, estudada, bons modos, não a amava, era do lado da sua nega que ele havia conhecido o amor, será que tinha culpa de ter se apaixonado por Ivaneide? e quando aquela nega pegava ele de jeito..nossa, ele nunca mais precisou procurar outra e agora morria de medo de levar um chifre.
Na primeira semana Daniel, ficou estranho, mas no fundo achava que era sono, alguma coisa assim, mas como toda sexta feira aquele fantasma aparecia, ele estava endoidando. Não comparecia aos pagodes, ficava com medo, logo ele começou a ter fama de louco e seus amigos viviam caçoando de sua cara. Sua nega, cansada dessas conversas de espírito, enchia ele de chifre, estava com mais galhos do que as renas de papai noel, apesar de ser corno, ele estava tão atormentado que não ligava mais, mas a sua nega que tinha um fogo se satisfazia com outros homens, mas amava mesmo o doidinho do Daniel.
Ivaneide, cansada das histórias sem pé e cabeça de Daniel, resolveu ir em uma sexta feira 13 acompanhá-lo em seus turnos no cemitério, Daniel ficou tão atordoado que até estava mais magro.
__Escuta barnquinho, tá vendo não tem ninguém aqui, homem de Deus, isso está em sua cabeça, vamos parar com essa besteira..já sei algo para a gente fazer no cemitério..nunca transei aqui, vai ser inesquecível..rsrrss
__Pará, nega, será que a unica coisa que você consegue pensar na vida é sexo? eu sei bem dos vários galhos que você colocou em minha cabeça, esse ano até posso me candidatar a ser rena do papai noel, sua biscate!!
__Calma, branquinho, você sabe, amor e sexo são duas coisas diferentes, posso dormir com vários, mas eu amo você, sempre amei, eu prometo que vou parar de sair com outros!!
__você só fala sua piranha!! acho que a maior besteira que eu fiz foi ter trocado minha ex noiva por você!!
__ah, seu ingrato, vai lá ficar com aquela branquela aguada que não sabia fazer nada para você!! cala sua boca, vou te dar o que você precisa!!
Ivaneide pegou Daniel de jeito, quase rasgando as roupas do homem, jogou ele no chão, subiu em cima dele e quando ia começar...uns passos de salto alto e um miado insuportável, ela olhou: Meu Deus, um fantasma!! Ivaneide que estava nua, levantou-se imediatamente e o fantasma a olhando e rindo..e o gato preto com seu olhar diábolico e julgador ironizando de sua situação. Ivaneide não conseguiu falar, e Daniel levantou-se nu também, não sabiam o que fazer..até o fantasma pegar uma pedra e atirar na direção deles..os dois saem correndo nus pelo cemitério ladeira abaixo, Daniel besta e atordoado, saí sem direção alguma, sem visibilidade ele tropeça em uma oferenda de macumba e bate a cabeça em uma pedra, o sangue jorra fazendo uma poça. Ivaneide corre que nem um animal, agora ela acredita nas palavras de Daniel, havia um fantasma. Ela chega a sala e deita em uma cadeira nua. Enquanto isso Ághata a fantasminha do cemitério foge com seu gato preto de olhos laranjas.
A polícia chega pela manhã, acharam o coveiro morto, nú na ladeira caído e Ivaneide nua na sala. O Delegado Pedro, ao investigar o caso, ao saber das escapadas da namorada do falecido, tem certeza que ela assassinou o pobre..três meses de investigação e nada se tem contra a tanajura. Ele arquiva o caso por falta de provas junto com o jornal popular que dava destaque as caso: "Mulata fogosa mata coveiro com uma trepada no cemitério" Pedro, não tinha dúvidas que havia sido ela, com aquela cara de safada, a bicha se fazia de inocente fingindo que tinha endoidado.
Depois de 6 meses que o caso já tinha sido abafado na vizinhança, Ivaneide nunca mais foi a mesma, agora ela é a irmã da igreja, adotou as saias, o cabelo cumprido, as roupas discretas, nada mais lembra aquela mulata sensual que foi um dia. Ela agora tem pavor de homem, ficou tão dóida, o sentimento de culpa era tanto que várias vezes procurou o Delegado Pedro para expor sua culpa, mas o Delegado chocado com aquela transformação e convencido agora que a dóida era inocente a mandava embora. E ela dizia: Fica em paz irmão e o delegado abestado dizia: Amém irmã!!
Ivaneide, vivia na igreja de segunda a domingo, fazia vigílias, orava por bêbados, estranhos, drogados, prostitutas, desconhecidos, antes ela era conhecida como a pomba gira da Vila, agora era a Santa Ivaneide, seu apelido agora era Madalena e ela não achava ruim..tinha vergonha do seu passado, vivia para servir a Deus, porque servir aos prazeres dos homens nunca mais.
Ágatha, estava parada na sepultura de Daniel, ela almadiçoou o ex noivo: __Espero que você esteja batucando para o capeta, seu verme!! nenhum homem me abandona e você teve o que mereceu. Descanse nas trevas..o gatinho de olhos laranjas estava no colo dela, quando ia se virar deu de cara com Ivaneide, a irmã Ivaneide, ela olhou com desprezo, apesar de estar toda empacotada, a nega ainda era bela, que ódio!! Ivaneide tremia, se achava culpada por ter roubado Daniel de Ághata, na verdade, Ivaneide achava-se culpada de todas as coisas ruins que aconteciam no mundo, Ághata disse para ela: __saía daqui sua maldita, você é culpada por isso, me tirou meu ex noivo!!__calma, moça eu só vim aqui visitar o pobre, quem matou Daniel fui eu sabia Ághata? estava com ele á noite quando era uma pecadora e não tinha Deus e estava praticando relações sexuais ilícitas quando apareceu o fantasma e destruiu a nossa vida, a culpa foi toda minha..Ághata riu muito alto e disse:__perdoado irmã Ivaneide, vá em paz. Ivaneide grata por ser perdoada por uma "alma tão boa", agradeceu a Deus e colocou flores brancas no túmulo de Daniel e Ághata saiu rindo ladeira abaixo do cemitério com seu gatinho preto de olhos laranjas miando alto...