Lady B, desafio aceito e cumprido, espero que esteja a altura de tantas outras narrativas primorosas que me antecederam e ainda estão por vir.... A minha escolhida para nossa roleta russa literária é a talentosa SHEILLA LIZ... boa morte pra você Sheilla.
 
 
               MINHA MORTE !!! – Por Maddox
 
 
Já faz algum tempo que fiz a passagem, não sei precisar muito bem porque aqui as coisas são um pouco diferentes. Gostaria de contar o que nos aguarda depois do que chamamos de “morte”, mas infelizmente não posso, existem regras e o pouco que posso dizer é que morri, mas ainda existo...
 
Pela forma que eu levava minha vida, sempre tive duas certezas: eu iria morrer jovem e não seria numa cama.......... (eu estava certo).
 
Nunca tive muita noção do perigo e logo me identifiquei com esportes radicais, fiz de tudo um pouco: pára-quedismo, alpinismo, asa-delta, bung jump, surf, rafting e mergulho. Quanto mais o tempo passava, mais eu ia ficando viciado em adrenalina. Aos 37 anos eu já tinha uma coleção considerável de troféus pelo corpo: cicatrizes, ombro direito deslocado, pinos na perna direita e havia perdido o dedo mínimo de uma mão que teve que ser amputado devido a um congelamento irreversível durante uma escalada.
 
Eu já tinha uma bagagem respeitável como mergulhador quando fui para Nassau nas Bahamas realizar um antigo desejo: mergulho com tubarões. Cheguei para passar uma temporada, mas bastou o primeiro mergulho para que eu decidisse viver ali para o resto dos meus dias. Para minha família eu disse que foi o cenário paradisíaco, mas o que me seduziu foi que aquele era o estilo de vida que eu sempre havia buscado.
 
Logo arrumei emprego como instrutor numa operadora de mergulho, não foi difícil, pois não tem muita concorrência neste meio profissional. Esta modalidade do mergulho é considerada de alto risco e somente mergulhadores avançados podem participar, mesmo habilitados tem que passar por um teste prático e assinar um termo de responsabilidade isentando a empresa e os instrutores em caso de óbito.
 
Era uma tarde como outra qualquer. Preparamos a lancha e fomos para mar aberto com um grupo de oito mergulhadores como clientes, sendo duas mulheres. Um deles me preocupou desde o início, seu nome era Rick e fazia o tipo falastrão, apesar de ter capacitação parecia pouco qualificado. Durante o percurso, como Dive Master (mergulhador líder), passei as instruções que deviam ser seguidas à risca por eles:
 
- Pessoal, prestem muita atenção nas orientações porque qualquer acidente pode ser fatal. Iremos mergulhar numa profundidade de 30 metros, seremos 04 instrutores, nossa formação será um na frente, um atrás e dois nas laterais. Vocês devem descer em duplas no meio do grupo, mantenham os braços sempre cruzados em frente ao corpo e não façam movimentos bruscos, ao chegar ao fundo vocês devem ficar de joelhos um ao lado do outro formando um grande círculo. Alguma dúvida até aqui?
 
- Porque precisamos ficar com os braços cruzados? – perguntou uma das mulheres.
 
- Para evitar movimentos bruscos e não sermos confundidos com uma tartaruga ou leão marinho que são alimentos potenciais dos tubarões.
 
- Mais alguma dúvida? – face ao silêncio continuei as orientações.
 
- Todos os instrutores possuem bastões com descargas elétricas para afugentar os tubarões em caso de alguma situação de risco, quando estivermos no fundo um de nós irá alimentá-los e eles ficarão agitados. Alguns poderão esbarrar em vocês, isso é normal, mantenham a posição e em hipótese alguma tentem espantá-los com os braços, este erro pode ser fatal. A espécie mais comum por aqui é o tubarão-tigre e alguns chegam a medir seis metros de comprimento.
 
- E tubarão-branco?
 
- É raro, mas pode aparecer algum. Caso isto aconteça subiremos imediatamente, pois este tubarão é imprevisível e extremamente agressivo. Para finalizar, se alguém for atacado se afastem do mergulhador e subam rapidamente, pois a situação ficará muito grave.
 
Começamos a descida com seis mergulhadores, dois haviam desistido e baixas era uma coisa normal após as instruções finais. Eu vinha na retaguarda e no início tudo ocorreu normalmente, chegamos no fundo e os mergulhadores ficaram na posição correta, meu colega Bob havia ficado encarregado de alimentar os tubarões e no centro do circulo começou a tirar pedaços de peixe do bolsão que carregava. Em segundos os tubarões se aproximaram, nadando em circulo e abocanhando a refeição fácil que Bob oferecia. Mark, Tony e eu ficamos posicionados um pouco acima dos mergulhadores acompanhando com atenção e com os bastões em prontidão. Em menos de cinco minutos já havia mais de trinta tubarões-tigre aglomerados ao redor dos mergulhadores, eles estavam indo bem, com exceção de Rick – o falastrão – que movimentava a cabeça para os lados freneticamente numa clara demonstração de que estava prestes a entrar em pânico. Pressentindo que aquilo representava um perigo iminente, fiz sinal para que iniciássemos a subida. Bob começou a se afastar dos mergulhadores para atrair os tubarões, mas neste exato momento um grande tubarão galha-branca esbarrou nas costas de Rick, foi o suficiente para iniciar o inferno.
 
Tudo aconteceu muito rápido, Rick entrou em pânico e começou a agitar freneticamente os braços à medida que começava a subir se debatendo, num movimento involuntário acabou retirando o próprio regulador da boca ficando sem receber ar do cilindro. A situação era dramática e o risco de ataque iminente, para proteger os demais Bob continuou a se afastar para atrair os tubarões. Mark estava perto do atrapalhado mergulhador e chegou em seguida em seu socorro, aproximando-se por trás conseguiu colocar o regulador em sua boca, mas não foi rápido o suficiente para imobilizar seus braços. Um tubarão-tigre de uns quatro metros atacou e em segundos arrancou um dos braços de Rick. O sangue na água deixou os tubarões em um verdadeiro frenesi e em instantes Mark e Rick foram feitos em pedaços. Bob foi atacado em seguida, pois estava no meio de mais de dez tubarões.
 
Não havia mais nada a fazer por eles e Tony e eu iniciamos a subida tentando proteger os cinco mergulhadores restantes, sabíamos que restava pouco tempo e apesar de sabermos dos riscos de uma embolia por uma subida muito rápida, não tínhamos outra opção e incitamos os mergulhadores a nadar freneticamente em direção a superfície. A maior parte dos tubarões ainda estava envolta do banquete macabro alguns metros mais abaixo e conseguimos afugentar com nossos bastões alguns animais menores que investiram.
 
Nossa sorte desapareceu quando os mergulhadores começaram a ficar separados, agora não havia razão, somente o instinto de sobrevivência prevalecia e logo os mais lentos começaram a ficar para trás tornando nossa proteção a todos praticamente impossível. Tony viu que uma mulher estava muito afastada e freou sua subida para escoltá-la, eu estava mais acima e tentava proteger os que estavam no meio e os mais próximos a superfície ficaram entregues a própria sorte.
 
Dois mergulhadores emergiram e conseguiram subir na lancha em segurança, eu continuava minha luta para trazer dois mergulhadores até que dois galha-branca atacaram, um eu consegui afugentar, mas o outro levou a mulher entre os dentes. O terceiro mergulhador aproveitou o momento e conseguiu subir, vendo que ele estava em segurança voltei minha atenção para Tony e a segunda mulher. Eles estavam subindo com Tony praticamente a rebocando, foi neste momento que o vi: provavelmente atraído pela grande quantidade de sangue na água, vindo das profundezas no encalço de Tony estava um gigantesco tubarão-branco de mais de oito metros, mesmo que Tony o visse não haveria o que fazer.
 
Tudo aconteceu em segundos, mas na minha mente era como se o tempo tivesse parado, eu sabia que eles não iriam conseguir. Tinha que fazer uma escolha: era eu ou eles, ou partia em direção ao barco enquanto eram devorados me dando o tempo necessário para escapar ou fazia o movimento contrário lhes dando a vantagem que precisavam.
 
Até hoje não sei o que me motivou a escolher ir de encontro ao tubarão, pode ter sido culpa por ser o maior responsável por aquelas vidas que foram perdidas, talvez a matemática pura e simples de achar que duas vidas valem mais do que uma, mas no fundo eu acho que foi meu instinto e minha alma indomável que me lançaram na minha derradeira aventura.
 
Estiquei o braço usando o bastão como se fosse uma lança e nadei com todas as minhas forças em direção ao fundo do imenso oceano que por muitos anos foi a minha casa, Tony lançou um sorriso quando me viu indo em sua direção, ao passar por ele nossos olhares se cruzaram e em silêncio seu sorriso se transformou em uma triste resignação de agradecimento ao ver o que eu faria. Nadei com mais força ainda em direção ao mestre dos oceanos com a certeza da minha morte certa, e em meu intimo só pedi para ter um último lampejo de coragem para conseguir encarar minha morte com os olhos abertos...
 
Aquele foi o ataque de tubarões com o maior número de vítimas em uma única vez. Dez mergulhadores entraram no mar naquela tarde, apenas quatro retornaram e seis ficaram para sempre no mar. Eu fui um dos que ficaram...
 
 
Querida Sheilla Liz, o jogo não para por aqui e você deve escolher um dos condenados(as) abaixo para desafiar:
 
- Dulcie
- Lana Fey
- JC King
- Sidney Muniz
- Julio Crisostomo
Maddox
Enviado por Maddox em 22/01/2011
Reeditado em 22/01/2011
Código do texto: T2744423
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