O MENINO DO QUARTO "ESCURO"
Estava escondido em um quarto escuro. Escondia-se debaixo da cama e sobre ela havia alguns livros abertos, papel branco e uma caneta.
O chão era simples, rústico igual às paredes e não havia muitas mobílias naquele cômodo.
Ele parecia estar muito amedrontado, chorava e talvez em sua mente passasse apenas a imagem de sua mãe, a única pessoa a quem ele pudesse estender a mãos.
Pessoas aproximavam-se com pisadas fortes, pareciam estar enfurecidas. Gritavam muito e também xingavam aquele menino. Entraram arrebentando a porta do quarto fazendo um grande barulho. Derrubaram uma pequena prateleira de livros que estava em um canto de uma das paredes, chutaram uma cadeira e desarrumaram o lençol.
Ele ficou ali embaixo da cama, segurava o choro para não o ouvirem. Fechou os olhos e no mesmo instante veio a imagem de Cristo e logo a de sua mãe e de seus irmãos. Desejou profundamente – tão fundo que seria impossível qualquer homem mensurar a profundidade – estar próximo de algum amigo ou alguém que o pudesse escondê-lo.
_ Ah! Então você está ae! – Um homem exclamou com uma voz rouca e muito exaltada. Puxou-lhe pelos cabelos e tirou-o do seu esconderijo.
Antes mesmo que pudesse se virar, aquele garoto levou vários murros nas costas e mais dois rapazes se aproximaram e começaram a chutá-lo. Sua mãe estava em pé ao lado da porta e chorava olhando aquela cena.
Levantaram-no e deram um soco no rosto. Estava com muito medo e não sabia para quem pedir ajuda. Levaram-no para fora da casa e o jogaram-no no meio da rua de barro.
Havia muitas pessoas, traziam pedras nas mãos. Próximo havia também algumas árvores e tinha frutos nelas, mas não deu para ele reconhecer que frutos eram.
Ninguém se calava e em meio aquela gritaria ele olhava para aqueles rostos desfigurados e cheios de ódio, reconheceu um amigo – o seu melhor amigo. Estendeu a mão em sua direção suplicando ajuda.
_ Vocês conhece ele? – Uma mulher perguntou raivosamente.
_ Não. Não senhora. – Respondeu o outro menino falando muito baixo. E olhou para o amigo com os olhos de quem pede desculpa por não poder fazer nada.
Começaram a atirar pedras naquele filho de Deus caído no barro. Ele gritava do fundo de sua alma. Enquanto sua mãe escondia o rosto para não ver ou talvez para não ouvir.
_ Pai! Pai! Me ajuda! Mãe! Mãe!!!
Não havia muitas pedras e quando elas acabaram, aquelas pessoas usaram as próprias mãos e os pés. Agrediram aquele menino até a morte. Enquanto faziam o que fizeram, gritavam o mesmo nome a quem o garoto deveria estar pedindo ajuda. E a esse nome era dedicada tal ação.
Realizaram tal ato sem derrubar exteriormente uma única gota de sangue. Não deixaram um único hematoma externo e nem causaram, se quer, uma fratura (de ossos).