DANÇANDO COM O DEMÔNIO
‘Estás linda!’, diz Tia Mei.
Ora! Diandra sabia disso. Como podia não estar linda para a noite mais importante da sua vida?!
Diante do espelho, suspira: ‘Ai, Tia, será que Ele...?’
A velha já saíra do quarto... Ah, para o inferno!
‘Não, pro inferno vou eu!’, emenda Diandra.
Ela vai para a pequena sala de estar. Senta-se no sofá muito séria.
Daí a pouco, Tia Mei traz uma xícara fumegante. ‘Vai te fazer bem, minha filha... ’
Diandra recusa.
A velha, contrariada, volta para a cozinha.
O relógio na estante marca 23:41. ‘Quase na hora!...’, pensa a garota alisando o vestido preto insinuante.
Tia Mei vem sentar-se junto dela. Ficam ambas caladas, até que a velha rompe o silêncio: ‘Estás fazendo 15 anos... Meu Deus, o tempo trai!’
Diandra não responde. Mantém-se ereta e sisuda – os pequenos olhos cor de amêndoas presos à porta.
‘E se Ele não vier?...’, solta a velha de repente.
A garota lança à Tia um olhar feroz.
O silêncio torna a cair. Só o relógio tic-tac na estante.
Meia-noite em ponto, a porta se abre. O cheiro de enxofre precede o estranho que entra pisando firme...
‘Meu amor!’, exclama Diandra.
Tremendo de felicidade, ela corre para o esperado abraço...
Dançam sem música por horas seguidas... Então o Grande Demônio ordena: ‘Vem comigo, doçura!’
Tia Mei, gritando e chorando, bem que tenta impedir – mas é repelida com um safanão da sobrinha...
Diandra sorri para o Grande Demônio. ‘Tô pronta!’, ela exclama.
Agarradinhos, os dois saem; atrás deles, a porta se fecha – para sempre! – com um baque surdo...
Caída no sofá, olhos revirados, a velha dá um grito pavoroso – e morre.