Becos Sombrios
As ruelas estreitas de uma cidade grande sempre foram e sempre serão um lugar assustador, ainda mais para uma menina de dezessete anos, com seu aspecto virginal e seus cabelos loiros. Era mais ou menos assim que Valéria pensava. O idiota do namorado havia marcado com ela às sete horas em frente ao Clube Whiplash, mas já eram oito e meia e ele não havia aparecido, ela cansou de esperar e resolveu voltar para a velha pensão onde morava.
Seguiu aquela avenida estreita, ela levaria até o ponto de ônibus mais próximo, que era perto do supermercado, de lá até a pensão seria rápido. No meio do caminho, um grupo de amigos dela apareceu de carro, eles a convidaram para irem a um barzinho na rua ao lado. Ela já estava com raiva mesmo, resolveu afogar as mágoas.
Saíram do barzinho por volta das onze e meia. Ela agradeceu a carona dos amigos disse que preferia ir de ônibus. Seguiu despreocupada, pois estava meio bêbada. Era menor de idade, mas já bebia como uma adulta, afinal, muita gente já fez isso não?
Ela seguiu direto pelo caminho, para a avenida, esperou os poucos carros que passavam naquela hora, estava bêbada e não confiava totalmente em si, resolveu que iria atravessar em uma passarela próxima. Caminhou até a passarela. Subiu a escadaria e rumou para o outro lado, mas quando estava chegando à outra ponta, um grupo de três rapazes que subiram a escadaria correndo, abordou ela:
- Bora moça, passa o celular.
Valéria sentiu o corpo estremecer, devido uma descarga de adrenalina. Eles pegaram sua bolsa, lhe deram um empurrão que a fez se desequilibrar e cair, saíram correndo pela passarela. A menina caiu e machucou o cotovelo, o sangue começou a verter dos pequenos arranhões. Como ardia, o efeito do álcool fazia o corte arder ainda mais. Normalmente, sairia gritando de dor, mas ela estava bêbada o suficiente para cair da escada da plataforma, caso corresse. Passou alguns minutos ali, caída no chão quase em prantos. Estava muito assustada, além de não saber como voltaria para casa sem ter nenhum dinheiro. Pensou em ligar para sua amiga Cris ou para a amiga Zeni, mas talvez ambas estivessem fora de casa, afinal, hoje era noite de balada.
Levantou-se e desceu vagarosamente as escadas.
A rua estava deserta, ao longe, ela pode ver um telefone público. Rumou para lá ia ligar a cobrar para a única pessoa que estaria em casa àquela hora, sua amiga Vera. Chegou ao telefone, mas constatou que algum vândalo o tinha quebrado, pois o fone estava completamente destruído. Resolveu que iria procurar um lugar para dormir ali mesmo.
Começou a andar pela avenida, mal sabia que lá ao longe, olhos poderosos viam todo o seu sofrimento, viu ainda quando ela entrou em um beco que daria em uma rua paralela.
Começava a esfriar, ela puxou a gola da camisa para evitar o frio. De repente, ela sentiu uma pancada na parte traseira do joelho que a fez vacilar e o joelho ir ao chão. Olhou ao redor, não viu nada, nem viu ninguém. Não estava tão fraca para ficar caindo assim. Continuou a caminhada, como se nada tivesse acontecido, um vento esquisito soprou ao seu lado. “Estranho”, ela pensou, novamente, o vento soprou, mas dessa vez, ela sentiu a mão doer, um corte começava a sangrar. “Mas, como?”, pensava a menina.
- Você está bem? – uma voz suave, atrás dela.
A menina virou-se, atrás dela estava um homem jovem, ele estava vestido com uma camisa branca de mangas compridas e uma calça de couro, sua pele era pálida e a luz da lua parecia ainda mais branca.
- É eu estou bem, mas ainda não entendi como me cortei. – disse assustada e virando-se para continuar a andar – não se preocupe.
Mas, quando ela se virou o homem estranho já estava em sua frente, sorrindo para ela, sua dentição perfeita e os grandes caninos chamaram a atenção da menina. Um arrepio percorreu seu corpo. Os olhos do homem começaram a transmutação, Valéria pode ver quando eles ficaram vermelhos, na escuridão do beco, pareciam duas brasas quentes. O homem abriu a boca e a menina pode ver os grandes caninos aumentando de tamanho, o medo fazia com que ela ficasse paralisada.
Aquele homem, não era um ser humano. Era um demônio. Demônio que agora urrava e partia para cima dela.
- Ai, meu Deus! – gritou a menina, cruzando os braços na frente do rosto, tentando esconder-se daquele monstro.
Valéria sentiu uma mão forte fechando-se em volta de seu pescoço, não permitindo que ela respirasse. Uma mão fria tocou a sua face. Presas afiadas cortaram seu pescoço. Ela deu um grito desesperada, mas a mão fria tapou-lhe a boca. Ele estava sobre ela. O ar faltou-lhe nos pulmões, e a mão que lhe esganava não vacilava um segundo, impedindo a menina de respirar. Valéria grunhiu, tentando inspirar mais uma vez. Se tivesse ar nos pulmões, gritaria. Sentiu- se tonta, mais tonta ainda. O monstro estava bebendo todo o seu sangue. Ela rezou. Que Deus a levasse logo.