Obrigado Capitão Anilto, pelo convite, também lhe admiro muito!
Eu escolho Ana Paula Mendes, para nos relatar a sua morte, inspiração e uma boa viagem, rsrsrsrsrsr.

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Minha Morte
 
A luz azul clara por entre as brumas povoa o horizonte de uma imensa paz, este é o lugar dos espíritos e hoje faço parte desta ante-sala da eternidade, nada se espera estando aqui a não ser reviver momentos ao lado de quem amou e que vieram antes de nós, ídolos, amigos, e todos aqueles a quem amamos na terra.
Foi num dia maravilhoso de verão que eu aqui cheguei...
Lembro que depois da sesta do almoço, entediado pelo silencio daquele domingo, levantei, abri a cortina e lá fora no canil, Faquir, meu velho cão parecia estar precisando de um passeio reparador, e eu de algo para afastar o tédio.
Senti-me despertar completamente quando a água fria da torneira inundou meu rosto, no espelho, olhos cansados da noite anterior, a longa festa ainda se fazia presente nos traços sonolentos do meu rosto.
Recoloquei a camiseta regata, fui à despensa, revirei algumas gavetas e achei o que procurava a coleira e a corrente do Faquir, que notando a minha presença com a corrente, refestelou-se como a sorrir com o rabo.
Como não fosse um cão de grande porte, durante a sua passagem pelo terreno da minha casa eu o deixava solto, encoleirando-o, porém ao sair na rua.
Aproximei-me do portão, e chamei-o insistentemente, porque apesar de ser um cão de idade avançada, era muito brincalhão e cada movimento que eu fazia era para ele uma proposta de brincadeira.
Aproximou-se, deitei-o, passei a coleira e quando fui engatar a fivela, escorregou entre minha mão e o portão já aberto e ganhou a rua, num descuido meu.
Ficou algum tempo ao lado de uma árvore farejando algum outro cão que havia demarcado território naquela árvore, aproximei-me devagar e por trás, mas notando a minha presença, correu para o meio da rua, e no ímpeto de pegá-lo o quanto antes invadi a via de rolamento, senti o impacto.. A minha consciência foi sumindo aos poucos, e depois um silencio perturbador mostrou a minha frente um túnel longínquo e sua luz, à medida que eu voava, ia se tornando cada vez mais forte, e uma paz que eu nunca havia sentido, tomou-me com alguém que é tomado pela ternura de um grande amor.
Abriu-se abaixo de mim como que uma janela, então eu vi meu corpo ali no asfalto, Faquir rodeando nervosamente, depois os homens do resgate, me colocaram na maca, minha cabeça sangrava muito, olhei ao meu redor e não podia entender como eu estou ali, e daqui me vendo?
Durante todo o tempo duas forças antagônicas agiam sobre mim, uma que me pressionava na direção da luz e a outra em direção ao meu corpo dentro da ambulância...
E no momento em que o médico deu a segunda carga do desfribilador em meu peito, foi como se eu apagasse como expectador de mim mesmo e começasse a sentir a presença humana do meu lado, o seu contado e o som de suas vozes...
Desfibrilador, adrenalina, codeína, luva, bisturi, tudo eu ouvia, no deslocamento irregular do carro de socorro, pelos solavancos.
Abri um dos olhos, e percebi as suturas em minha cabeça sendo feitas, nada havia quebrado, e nas laterais a luz do dia passava rápido, um misto de alívio por estar vivo e decepção por ter deixado tanta paz, na breve experiência além do corpo.
Já havia certo silencio, eu apenas ouvia o som do oxigênio ligado, quando o estridente som de pneus em frenagem balançou de um lado e de outro o veiculo, e um longo vôo até o impacto ensurdecedor no solo, depois a explosão, e novamente me senti voando para o silencio que se seguiu.
Caí consciente no solo, depois que a porta traseira se abriu e arremessou a maca para fora da ambulância, assisti ao desespero dos homens, presos nas ferragens que ardiam em chamas, e por 10 minutos, presenciei a morte daqueles que tentavam me salvar.
Algumas sombras de árvores já anunciavam à tarde quando ouvi sons de sirene aproximando-se, e em meio ao cheiro de borracha queimada, combustível e rala fumaça, vi surgirem dois homens e uma maca, respirei a salvação, porém não sei por que não me achava no direito de receber esta dádiva, fui colocado na maca, vislumbrei um pequeno morro e lá em cima o som de caminhões que passavam.
Lentamente fui levado até o topo, as margens da rodovia, um soldado posicionou-se no acostamento, depois outro, a viatura em frente, olhei tudo ao redor, o verde do pequeno morro, os olhos dos socorristas... Depois o violento estrondo me trouxe a realidade... A viatura foi arremessada sobre nós, pelo impacto de um caminhão e eu senti como que cortado ao meio, depois a escuridão...
Novamente ao caminho da luz, eu tinha apenas uma força a me guiar em direção ao infinito... E aqui estou para contar esta passagem, espero encontrá-los todos um dia.
 
Malgaxe

Ana Paula deverá chamar para o além um desses escritores:

- DULCE
- SHEILLA LIZ
- MADDOX
- LADY B


Obs:
Capitão Anilto publicou o conto dele em "INSÓLITOS", para ciencia de todos.
Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 17/01/2011
Código do texto: T2735266
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