Te odeio eternamente.

 


Eu a odiei por toda a minha vida, e sempre que ela me olhava parecia um deboche dissimulado, pois eu via no seu semblante a caricatura das mais temíveis e malignas criaturas, sabia da sua força, um ser que atravessou as eras, sugou o sangue derramado em Hiroxima e Nagasaki, onde sobreviveu.

Foi lixo nas ruas noturnas do Bronx e das veredas enfumaçadas da índia mística, era o mal vestido e cingido para testemunhar o meu imenso medo e desespero.

Vagou nas catedrais sua astúcia vivendo de restos humanos, lascas de hóstias e por vezes sorveu do vinho sagrado num sacrilégio profano e imundo, aliás imundo como ela mesma.

Vivenciou tragédias, esteve com o rei e o súdito e de todos usufruiu de uma hospedagem fortuita e doentia, deglutiu de seus víveres, atormentou seus entes, e riu de suas esposas gordas e medrosas.

Combateu as tempestades e venceu, riu da falsidade humana, e foi cúmplice de todo tipo de adultério, foi sujo em sua essência e na imagem que propôs desde a antiguidade, onde nasceu sua saga lendária.

Eu o odiei desde seu primeiro olhar, um olhar maligno, que não conhece o amor, que nunca ouviu uma poesia, que desconhece o ser humano como um ser semelhante a Deus, ela freqüenta o submundo do mundo e seu espectro está em todo o lugar...

Eu a odiei sempre, e naquele dia em que a vi ali no alpendre me olhando, perdi o medo, a segui de corpo e alma,  saiu pelo portão, correu na calçada, por vezes fez menção de subir nos postes, a minha perseguição era implacável, até o momento em que vi sua covarde valentia, descer na sarjeta, e descontrolada, entrar embaixo de um carro, depois lá estava ela esmagada no meio da rua, o destino perfeito que toda a barata deveria ter... Ou não?

Malgaxe

Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 13/01/2011
Código do texto: T2727579
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