Olhos Horripilantes [19]

Todos olharam. De onde viera aquela voz?

-Quem é você? –Indagou Zoe.

-Alguém que conhece Megan... Megan Koll... Campez... Não podemos ficar aqui... Está muito frio... –Disse a mulher.

-O que?! A senhora ta doida é?! Ta uns quarenta graus aqui! –Fez Jéfer absurdo.

-Ah isso? Aqui é o que você acredita que seja... Se acreditar que está fazendo frio... Fica frio... A mesma coisa com o calor. Experimente...

Jéferson suspirou desanimado, fechou os olhos e exclamou:

-Puxa como está frio hoje!

No mesmo instante ele começou a sentir um frio incrível, o deserto desapareceu e em seu lugar surgiram ruas, como as de Londres. Ruas gélidas e escuras, totalmente cobertas pela neblina.

-Incrível! –Comentou Jéferson.

-Sim. Agora vamos...

-Pra onde?

-Até minha casa. Não fica longe daqui, lá poderemos conversar melhor.

...

Sentado no escuro, numa cela de úmidas paredes de pedras, Daniel Seet estava adormecido. Estava tendo um pesadelo, ou era o que aparentava. Acordou num pulo.

Levantou-se lentamente, seus olhos quase não enxergavam nada, de modo que mal sabia se era noite ou era dia.

-Ainda estou aqui...

Ouviu passos rápidos. Daniel recuou por um momento temendo que fosse seu raptor ou algo pior. De repente o dono dos passos surgiu em frente sua cela.

-Vejo que já está de pé, rapaz!

O mesmo abriu a cela, e jogou para dentro dela algumas roupas. Depois disse:

-Troque-se, meu mestre quer vê-lo hoje.

O mesmo homem também havia trazido uma bandeja com pão, leite e bolachas. Pôs a mesma dentro da cela, e a trancou novamente.

-Volto depois que estiver trocado e tiver terminado seu café.

O homem sumiu, e os ecos de seus passos foram desaparecendo.

Daniel, ainda estava assustado. Não compreendia muito bem o que havia acontecido. Lembrava-se de ter saído da igreja no domingo a tarde, juntamente com Zoe e Leon, de terem encontrado Jéferson e ido até a sorveteria. E logo depois, uma forte pancada na cabeça. Acordara ali, na manhã seguinte. E desde então, não comera, não bebera, e nem falara nada com ninguém. Apenas permanecera trancafiado numa cela escura e úmida de onde pouco som se escutava. Onde ele estaria?

O rapaz olhou para as roupas que o homem trouxera.

-Que estranho! Que traje antigo!

Pensou em não vesti-lo. Mas logo foi tomado por um pensamento. Se ele não vestisse o homem poderia surrá-lo, não sabia com que tipo de pessoas estava lidando. E talvez se ele vestisse, pudesse ter uma chance de sair dali, indo visitar o tal mestre. Resolveu que vestiria.

Tirou a camiseta já suada, e as calças. Sentiu o frio do gélido cômodo onde ele havia passado os últimos dois dias, deitado em um chão de pedra acinzentada. Por um minuto sentiu-se como um bebê, indefeso, querendo a mãe. Mas pensou: Eu sou um homem. Tenho de encarar isso como um homem! E é o que vou fazer!

Vestiu-se. Estava com tanta fome, que chegava a comparar a qualidade do café, com o da mãe. Tomou o café.

Alguns minutos depois, o homem retornou, dessa vez, com um imenso molho de chaves. Abriu a cela de Dan. Ordenou:

-Saia!

Daniel obedeceu. Não demonstrava medo, embora o sentisse. Mas havia resolvido que jogaria o jogo deles.

-Pra onde vai me levar?

-Fique quieto! Aqui não podemos falar.

O que ele queria dizer com: “Aqui, não podemos falar?”. Era o que Dan queria saber. Mas manteve a curiosidade para si. Mais adiante havia de perguntar.

Passaram pelo imenso corredor de celas. Até se depararem com uma porta fechada. O homem pegou o molhe de chaves, selecionou uma, e abriu a porta.

Daniel passou pela porta e o homem trancou-a por dentro.

-Hei o que está fazendo?!

Agora Daniel se via sozinho. Pensou em gritar. Não o fez. Caminhou lentamente para mais um corredor que havia. Distraiu-se com uma espada pregada na parede. Quando ia tocá-la, ouviu uma voz:

-Hei! Você é Daniel Seet? –Indagou um homem, logo mais a frente no corredor.

Ele virou-se respondendo:

-Sim.

-Venha comigo.

Daniel afastou-se da espada e seguiu o homem sem nada perguntar. Não queria ser inconveniente para evitar problemas.

Caminharam. Ao chegar à outra porta, o homem disse a Dan:

-Siga o próximo corredor, e encontrará uma pessoa que te levará até o primeiro lance de escadas.

Mas espera aí? O primeiro lance de escadas? Afinal, quantos lances de escada havia? Daniel não questionou, seguiu o corredor que o homem mandara.

Chegando lá, topou com uma mulher alta, cujo rosto estava tapado com um capuz.

-Venha comigo Daniel Seet.

-Quem é você? Como sabe meu nome?

-Eu? Quem sou eu? Pensei que você mesmo pudesse me responder isso... Daniel Seet... –Disse a mesma retirando o capuz que lhe escondia o rosto.

Daniel assustou-se, mas então era verdade? Jéferson realmente não mentira.

O rapaz recuou. O azul de seus olhos se fez aguar, a pele branca, ficou ainda mais pálida, realçando ainda mais as duas lagoas azuis em seu rosto.

-O que foi Daniel Seet?

-Você é a...

-A mulher que Jéferson viu. Sim... Sou eu...

-Fique longe de mim! –Exclamou o rapaz.

-Me surpreende um rapaz tão belo e forte como você, me temer... Venha comigo!

-Está louca a senhora hein?

-Está bem... Pode ficar aí... De dez em dez minutos o guarda vigia passa por aqui e decepa todo e qualquer prisioneiro que esteja fora da sua cela, sem perguntar nada... Mesmo os bonitinhos como você! Olhe só, faltam apenas dois minutos... E além do mais, foi você quem pediu que eu me apresentasse... Deveria pensar bem naquilo que pede meu rapaz... E então, vai ficar esperando pela morte?

Daniel permaneceu imóvel. Ela seguiu pelo corredor, até virar à esquerda e sumir. Assim que ela o fez, Seet começou a caminhar rapidamente atrás dela... A idéia de poder morrer aos dezoito anos e pouco, não lhe agradava nem um pouquinho...

Mas ao virar à esquerda, deu de topa com o guarda.

-O que está fazendo aqui?

-Decepador... –Daniel engoliu seco.

-É um prisioneiro fugitivo, não é?

-Não...

-É eu sei. E você deve saber que os fugitivos aqui são...

-Mortos? –Disse Dan afastando-se.

-É um rapaz esperto. –Concluiu o homem.

O guarda retirou e levou à mão a espada que carregava consigo.

-Espere... Não, ele está comigo!

O guarda recuou-se dizendo:

-Desculpe-me.

-Venha comigo Daniel!

Seet permaneceu no mesmo local.

-Vamos! Venha logo comigo! –Exigiu a mulher acenando.

Daniel foi até ela, e saíram andando.

-Não deve zanzar sozinho por esses corredores! Poderia estar morto agora, o que pra mim não seria nada demais! Se eu não tivesse chegado antes...

-Obrigado...

-Não precisa agradecer! Agora Vamos! Não temos tempo.

-Aonde vamos?

-Encontrá-lo...

-E quem é ele?

-Ah... Faz perguntas demais! Já irá conhecê-lo.

Haviam chegado ao final do corredor, no qual não se ouvia mais nenhum ruído. Havia uma única porta, a moça ergueu-se para Dan e acenou com a cabeça e disse:

-Entre.

Daniel suspirou fundo, fechou os olhos e quando abriu... A mulher havia desaparecido.

[continua...]

Madelaine Grumam

Meli Francis
Enviado por Meli Francis em 13/01/2011
Reeditado em 13/01/2011
Código do texto: T2726543
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.