Um Posto, Uma Parada

A estrada estava escura e deserta, e Carl McCarthy estava completamente perdido. Lisa queria ajudá-lo a encontrar o caminho, mas o que ela sabia sobre as rodovias da Carolina do Sul? Não que ele soubesse alguma coisa, mas ora, ele era o homem, estava dirigindo e se recusava a admitir que não sabia sequer o caminho de volta.

"Você quer pegar o volante, querida?" perguntou ele sem se importar com a resposta. "Estamos indo visitar a sua mãe, então posso ao menos dirigir em paz?"

"Admita, você está perdido, amor" ela disse impassível. "Eu nasci aqui, talvez saiba me localizar. Não é vergonha deixar sua mulher lhe ajudar a chegar. Você nunca veio do Alabama à Carolina."

"Estaremos na sua cidadezinha de Greenwood antes que você possa dizer Carolina do Sul."

"Carolina do Sul."

"Engraçadinha."

Carl revirou o mapa mais algumas vezes, mas ao perceber que não daria resultado, pelo menos não cansado e àquela hora da noite, desistiu. No dia seguinte conseguiria pensar melhor, e não precisaria da ajuda de ninguém.

"Acho melhor fazermos uma parada, docinho. Está ficando muito tarde e escuro, talvez seja melhor continuarmos pela manhã", ele disse.

"Seria ótimo" ela respondeu "mas não estou vendo nenhum lugar onde poderíamos ficar."

"Tem um posto vazio ali na frente, nós podemos encostar e dormir no carro, e..."

"De jeito nenhum" ela interrompeu "não vou dormir dentro do carro em um posto abandonado no meio da estrada. Vamos andar mais um pouco e ver se achamos um lugar decente."

"Querida, eu não sei você, mas não vejo sinais de civilização em nenhuma distância próxima. Assim que descansarmos um pouco e eu puder pensar melhor, retomaremos o rumo."

"Só mais vinte minutos de estrada, querido, por favor. Se não encontrarmos nada nesse tempo, passaremos a noite no acostamento, se quiser", ela ponderou.

"Lisa, será inútil. Confie em mim."

"Mais vinte minutos, amor..."

"Confie em mim."

"Mas..."

"Serão só algumas horinhas de parada, eu prometo", ele disse em um tom que não era o de alguém que pedia autorização. Ela percebeu que ele mais uma vez seria intransigente e cedeu. Desde quando namoravam ele sempre havia sido dominador e cabeça-dura, mas de algum modo estava cada vez pior. Lisa percebeu que isso teria de mudar, e decidiu que dormir numa beira de estrada deserta seria a última vez em que se sujeitaria a tamanha submissão. A partir dali as coisas seriam diferentes. Mas enquanto não eram, Carl estacionou no posto.

Era um lugar que certamente não estava mais em atividade, pelas bombas e estrutura abandonadas. O tempo havia dado um ar um tanto quanto sinistro ao local, que era ladeado pela estrada e por um denso matagal.

Carl estacionou o carro ao lado de uma das velhas bombas. Abriu as janelas, desligou o ar e reclinou seu banco. Em poucos minutos embarcou em um sono restaurador. Lisa continuava desperta. Abriu a porta e se dirigiu à extremidade do posto onde o matagal se estendia até onde os olhos podiam ver. A brisa era agradável, e ela se surpreendeu por não ser atacada por mosquitos. Andou brevemente pelo posto, pensando sobre ela e Carl, sobre como passaria a se impor mais na relação, e voltou para o velho Chevy.

Lisa reclinou o banco do passageiro e caiu em um sono leve. Não durou muito.

O vento começou a soprar forte. O farfalhar do mato se tornou alto. Isso foi suficiente para Lisa sair de seu cochilo. Mas havia mais alguma coisa.

Ela saiu do carro e foi até a beirada do matagal. Viu, ao longe, uma fumaça negra. Incêndio, ela pensou. Virou-se para voltar ao carro e acordar Carl para saírem dali antes que o fogo se alastrasse.

Não era fogo. E já era tarde demais.

Logo depois de Lisa ter iniciado o trajeto de volta ao veículo, sentiu um bafo quente atrás de si. A fumaça pairava agora sobre ela, na forma de duas enormes mãos negras. Ela gritou e saiu em uma corrida desenfreada.

As garras vindas do matagal eram mais rápidas. Agarraram-na e a atiraram contra o antigo Chevrolet. Carl acordou e viu a mulher jogada, gritando de dor e medo, sobre o capô do carro. De início não compreendeu, mas ao olhar na direção oposta a da estrada, se deparou com a visão mais aterradora de sua vida.

As mãos agora não eram apenas mãos, e sim um monstro horrendo de fumaça negra. A aparição era muito maior que qualquer homem, e se dirigia a eles.

Carl saltou rapidamente para fora do automóvel em socorro de Lisa. Ela estava com cortes na mão direita e na cabeça. Chorava incontrolavelmente. Ele tentou acudi-la, mas mais uma vez já era tarde demais para os McCarthy.

"Faça alguma coisa, Carl!", gritou Lisa desesperada entre soluços, quando a criatura a agarrou mais uma vez e agora a sacudia a três metros do chão.

Carl, o bom e velho cabeça dura, tirou sua velha pistola Rugger do porta-luvas e fez diversos disparos na direção da Coisa. Mas, como era de se esperar, de nada adiantou.

Após os disparos, o monstro suspendeu o carro, com a mão livre, e o arremessou no meio da estrada, destruindo-o.

A fumaça se tornou disforme e retrocedeu ao matagal, arrastando Lisa, que arranhava o chão e berrava por salvação.

Escuridão.

O sol raiava e tocava suavemente a face de Carl McCarthy. Ele se levantou da cama do hotel, e no instante seguinte já estava em seu carro, agora um Ford. Dirigiu por duas horas até alcançar seu destino.

O posto.

Saltou do carro. Pegou as flores que havia trazido, pelo terceiro ano consecutivo, do banco de trás. Colocou-as no chão do posto, junto ao matagal.

Após Lisa ter sido arrastada, Carl desmaiara. Na manhã seguinte, fora levado a um hospital na cidade de Abbeville por um rapaz que passou pela estrada algumas horas depois.

O carro capotou, pois eu estava em alta velocidade. E sim, estava sozinho. Foi o que Carl contou às autoridades responsáveis. Que sorte ele tinha de ter saído ileso, foi o que disseram. É, ele concordou.

Ao receber alta, localizou o posto. Voltou para o Alabama, e uma semana depois retornou ao local onde tudo ocorrera. Adentrou o mato, gritando por sua esposa.

Tempo perdido.

Mas agora, três anos haviam se passado. E ele ainda, toda vez que voltava ao posto, sentia uma esperança de que sua Lisa seria devolvida a ele, assim como havia sido tirada de uma forma tão sinistra e inesperada.

Ah, como tudo teria sido se ao menos ele a tivesse ouvido e dirigido por mais vinte minutos?

Dylan Jokerman
Enviado por Dylan Jokerman em 13/01/2011
Reeditado em 11/03/2011
Código do texto: T2726060
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