A morte acidental. 

Mas... O que era aquilo? Alan tinha a seus pés a sua namorada esquartejada, olhos arrancados e miseravelmente, morta. Ele tinha a sua boca amordaçada e seu corpo grudado em um poste, preso...
Uma hora atrás enquanto caminhava num parque a beira de um lago, fora imobilizado, sua garota estuprada e morta horrivelmente em frente a seus olhos.
Vingança? Obra do acaso, a saciedade da sede de sangue de algum maníaco? Latrocínio covarde?
E porque nesta sede de sangue o assassino o deixou vivo?
Aquela cena era bem familiar a Alan, afinal aquela era uma das poucas noites que ele saía com sua namorada, que fora a uma balada, que a levara passear. No restante dos dias repetia o modus operandi do seu algoz, era também um assassino, sua segunda identidade, sua segunda alma saciada com o sangue alheio, movido por um ódio nato e antigo.
Nas madrugadas sentado no alpendre, olhos vermelhos da maldita insônia, ruminava suas matanças como aquela em Queen Village... Um antro noturno.
Possesso, passeou pelo meio de jovens drogados, retalhos humanos embriagados como ele, freqüentadores daquela pocilga fétida, mortos vivos cheirando a misturas de cocaína com LSD. A escória humana ficou menor naquele dia...
Duas espadas sob o blazer, dois punhais dentro das botas e na cintura um velho SW calibre 38 antigo como o seu ódio por aqueles vermes.
Depois de duas passagens pelo meio do salão, parou ao lado das latrinas preparou os punhais e entrou no lado masculino...
Depois como um felino, saiu deste e foi ao feminino, a surda matança era rápida e eficaz, hoje era a vez de Queen, ontem na maldita vida que levava fora outras baladas e a mesma saciedade de sangue.
Fora uma noite especial, inesquecível, usara todo seu arsenal, em rasantes investidas as suas espadas fizeram um trabalho excepcionalmente sangrento, belo à sua concepção.
Mas hoje havia uma interrogação em sua desgraçada vida, quem era o assassino, que o poupou da morte?
O conhecia muito bem, porque por duas vezes apontou o dedo em sua direção, naquela fatídica noite.
E foi assim pensativo, que desceu do alpendre e caminhou entre as árvores castigadas do outono, num bucólico e solitário passeio pela madrugada...
Já amanhecia quando lentamente subiu a escada de seu sinistro palacete, e subitamente lembrou-se de algo no dedo do assassino...
O anel... Sim o anel era familiar, era o anel de seu pai...
Mas como? Seu pai havia falecido há muitos anos...
Entrou sorveu duas doses de conhaque, acendeu um cigarro e viu sobre a mesa um pequeno pedaço de tecido, vermelho, rendado..
Um arrepio lhe percorreu a espinha, era um pedaço do vestido de sua namorada, logo depois diante do espelho, olhou a sua miséria estampada, nas mãos com longos dedos finos, e espectros de sangue entre as unhas, novamente imaginou o anel na mão do assassino... E desgraçadamente a meia lucidez o fez apalpar o bolso sujo da calça imunda de dias sem troca, os olhos esbugalharam, um gemido abafado encheu o fétido banheiro... No seu bolso, a voz da morte em forma de um anel, lhe iluminou a consciência.
Nas suas longas viagens pelo estranho mundo das drogas, e da sede de sevícia e morte imaginava coisas, seres, da berlinda da sua loucura via inimigos, praticava a morte e aguardava vinganças inexistentes.
Na noite da morte de sua namorada, estava no ápice de sua loucura, vestira um blazer azul escuro, armou-se para saciar sua sede e usou o anel que fora de seu pai...Na confusão mental, estrangulara a namorada e depois retalhou o corpo e pendurou em um poste...
Na sua demência vira-se amarrado, olhara diversas vezes para o anel, e depois lúcido, concluiu que fora vítima de um assassino, agora estava claro porque não tinha sido morto...
Colocou o rosto entre as mãos, depois levantou os olhos, caminhou até embaixo do chuveiro, arrancou os fios elétricos, enrolou no pescoço e destravou a água.
Olhou pela ultima vez o anel, e juntou as pontas dos fios eletrificados...

Malgaxe
 
Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 12/01/2011
Reeditado em 12/01/2011
Código do texto: T2724658
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