Minha Morte por João Murillo

Missão cumprida, beijo a querida amiga Faby, e como ela mesmo disse: eu desafio a escrever sobre a sua morte o genial:

JOE PHOENIX

Boa sorte...

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“Hoje tive um sonho, um sonho muito estranho, sonhei com minha morte...”

Sonhei que estava em meu Honda Civic Turbo 95 dirigindo a cem por hora. No CD Player tocava uma musica do Guns N´ Roses. Acelerei mais, queria ver até quanto meu possante conseguia puxar, afinal, estava um retão. Cheguei a cento e vinte, que maravilha. A sensação de liberdade era ótima, toda a minha atenção estava no asfalto a minha frente, a direção chega ficava mais leve. Apertei mais o pé no pedal da direita, cento e cinqüenta. Uma nova música começa “Speed King” do Deep Purple, era exatamente como eu estava me sentindo, o rei da velocidade. Fiz uma curva suave para a direita, estou a cento e sessenta por hora. Nossa senhora, aquilo é bom demais. Continuei assim por algum tempo.

De repente, na minha frente apareceu um corpo cinza cruzando a estrada. Ainda consegui gritar:

- Meu Deus!

Tentei frear, mas é em vão. Bati no jumento a cento e sessenta por hora, ele rodou por cima do capo de carro e as suas patas ficaram presas quando ele quebrou pedaços do pára-brisa. Perdi o controle do carro. O animal começou a se debater em cima do capô, deve ter quebrado uma perna ou algum osso, suas patas passam a poucos centímetros de mim. Ainda tento controlar o carro, mas não tenho mais o que fazer. O barulho de pneus queimando na pista é ensurdecedor. Finalmente, levo um coice no ombro, outro no peito e um no queixo que me fez apagar por um ou dois segundos. Acordei quando o carro começou a capotar. O animal no capô e despedaçado. Ainda tenho chance de ver o pára-brisa todo manchado de sangue, fezes e tripas, antes dele estourar em mil pedaçinhos de vidro. Não sei quantas capotagens aconteceram, pois levei fortes pancadas da direção no peito e depois bati com a cabeça no teto do carro várias vezes.

Acordei em uma cama estreita, o ambiente branco me inspira paz. Tento falar, mas alguma coisa em minha garganta me proíbe. Aquela coisa me da uma sensação de que logo vou vomitar. Olho para o lado e vejo uma serie de tubos e máquinas ligadas a mim. Flashes de memória começam a aparecer. Vejo o velocímetro do meu carro a cento e quarenta por hora. Depois tudo fica branco, novamente, outro flash. Agora estou sendo retirado por bombeiros dos destroços do carro.

Uma dor forte em meu queixo me desconcentra por algum tempo, o pouco que posso mover minha língua me revela que perdi alguns dentes. Uma enfermeira aparece do nada e diz:

- Hora de voltar a dormir.

Quando tento falar alguma coisa, noto que não consigo nem sequer articular palavras. Ela aplica um medicamento no meu soro e poucos segundos depois eu estou dormindo.

Acordo com uma dor sufocante no meu peito. Tento gritar, mas o máximo que consigo é dar um gemido alto o suficiente para que duas enfermeiras venham me socorrer. Elas aplicam outro medicamento, fazendo com que a dor alivie em poucos minutos. Uma delas me diz:

- Meu amigo, em cinco horas será horário da visita da UTI. Procure descansar, para que quando seus familiares vierem lhe ver, você esteja direitinho.

Apenas faço um gesto positivo com a cabeça. Não tenho nada para fazer nessas cinco horas, não consigo nem sequer me movimentar. Nesse tempo que me separava de minhas visitas, fiquei pensando se alguém viria me ver, nossa será que a minha noiva viria? Será que minha mãe viria? Algum tio ou primo?Alguém?

Cinco horas depois, enquanto eu tirava um leve cochilo, fui despertado por uma mão que apertava a minha delicadamente, abro os olhos e vejo a figura de minha mãe. Ela me diz:

- Olá, meu filho?

Lágrimas escorrem de nossos olhos, mas ela rapidamente enxuga as delas, afinal, ela deve ter recebido instruções para não chorar dentro da UTI, pois isso seria ruim para o paciente e para o ambiente dos demais enfermos. Ela conversou um pouco sobre assuntos sem importância, a única coisa que me disse que eu fiquei muito surpreso foi que já se haviam passado três dias desde o acidente, eu passara três dias em coma total. Ela se despediu e saiu. O aperto que senti em meu peito, deve ter sido o mesmo que ela sentiu, pois éramos muito ligados. Pouco depois vi a figura de meu velho pai com seus cabelos brancos, eles me fizeram pensar que eu não iria alcançar honra da idade. Meu pai olhou para mim, depois ficou olhando para os monitores. Pela segunda vez na minha vida, eu o vi chorar, mas depois de alguns soluços ele se animou e falou comigo sobre futebol, nosso time havia ganhado a última partida, de dois a zero. Disse que não sabia mais o que falar para mim, assim como eu não sabia o que dizer para ele quando ia visitá-lo no hospital há dez anos, ele me desejou boa sorte e saiu.

Finalmente, vejo meu amor chegar, ela diferentemente de meus pais não vem chorando, minha noiva chega com um sorriso no rosto e diz:

- Oi, meu Pindobinha.

Aquele apelido carinhoso, me fez chorar. Deu-me um beijo demorado na minha testa e ficou debruçada sobre a lateral da cama olhando para mim, uma lagrima escorreu de seus olhos, mas um sorriso me fez ganhar o dia. Ela conversou muito comigo, na verdade foi um monólogo, pois só ela falava, me contou sobre o que aconteceu nesses três dias e como a nossa família tinha sido pega de surpresa. A enfermeira veio dizer que o horário da visita havia acabado. Reuni toda minhas forças e consegui gemer baixinho:

- Amo você.

***

Quando acordei, aquela dor estava voltando. Senti um gosto de sangue na boca. Parecia que ria vomitar, pois não conseguia nem sequer respirar, também não conseguia vomitar. Uma enfermeira correu para tentar me ajudar, ela gritou para um médico vir me socorrer. Estava começando a perder os sentidos, estava sem ar, ainda pude ouvir uma voz masculina dizer:

- Ele esta se afogando no próprio vômito! Rápido! Temos que tirar o tubo da garganta dele!

Mas, era tarde demais. Tudo escureceu, não sentia mais nenhuma dor. Só tinha paz e silêncio. E um enorme desconhecido diante de mim.

João Murillo
Enviado por João Murillo em 12/01/2011
Reeditado em 12/01/2011
Código do texto: T2724117
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