Os Leões de Etienne
 
Nos cinzentos anos da idade média o conde Gerard Etienne, além de chefe da guarda do rei de seu feudo, tinha uma singular diversão, alimentar os seus leões. 4 leões que ele tinha desde a mais tenra infância dos felinos, ele pessoalmente fazia questão de alimentá-los.
Indigentes, mendigos, rebeldes capturados ou até mesmo cidadãos de sua inimizade pessoal, encontravam seu destino nas masmorras ensangüentadas do castelo feudal.
A sua fúria assassina vibrava na espada de prata e com uma voraz desenvoltura retalhava um ser humano em segundos servindo quase mastigada a carne para seus “gatinhos”.
Acima das 4 jaulas, passarelas separavam-nos do mundo, e jamais tiveram um contato humano, apenas eram servidos da carne humana, de maneira que se um ser humano caísse dentro de uma das jaulas era imprevisível a conseqüência. Etienne sabia disso, e talvez por isso sentisse tanto prazer em presentear a si mesmo em algumas oportunidades com seres humanos vivos...
E para o espetáculo ficar mais excitante, havia portas entre as jaulas, de maneira que às vezes ele concentrava todos os 4 leões sobre uma vitima.
Etienne dedicara toda sua vida a servir o rei, e a alimentar seu estranho lazer, passara sua juventude ali e agora já perto dos 50 anos, via suas força escassearem, mas o sangue o excitava, era impossível viver sem ter as mãos sem o cheiro adocicado do sangue coagulado nas mãos.
Mas um dia parece ter chegado abruptamente o seu fim, ao desamarrar o jovem mouro, prisioneiro de guerra, para despedaçá-lo, sentiu sua espada esbarrar em um férreo escudo que o jovem trazia embaixo da vestimenta, viu partir em duas sua arma na segunda investida, e a pesada bota do rapaz atingir-lhe o baixo ventre, abaixou-se, fechou os olhos, vislumbrou o fim...
O jovem mouro inspecionou rapidamente todo o recinto da masmorra,  as jaulas, amarrou Etienne nos ferros da passarela, encostou o seu punhal na garganta dele e perguntou...
_____ Com quem divides os segredos deste lugar?
_____ Somente eu, e por toda a minha vida, só eu! Respondeu.
O mouro virou as costas e continuou...
_____ A que direção e distancia habitas daqui?
_____ Ao norte, 2 milhas mais ou menos...Há...há um leão esculpido em meu portão.
O mouro, olhou de lado e sorriu, deixando Etienne ali amarrado e amordaçado, por um desvio ganhou o lado de fora do castelo e na tarde que caía, caminhou para o norte...
Na penumbra que sobrepunha à madrugada, Etienne acordou ouvindo passos e blasfêmias veladas.
Por sobre o ombro olhou para trás e por uma ventarola viu sob a luz da lua primeiro ser atirado para dentro da masmorra seu filho primogênito, e depois sua mulher, e somente quando este no escuro acariciava o rosto de ambos é que pode notar...
____Meu Deus... Os olhos, onde estão os seus olhos, gritou já sem a mordaça, retirada pouco antes...
____Eis o teu espetáculo maldito... Eu os arranquei os seus olhos... Sussurrou o mouro, sedento de vingança.
Com um violento empurrão jogou Etienne no chão e pegou seu filho...
Como um cão o jovem ganiu, e logo depois os urros satisfeitos dos leões despedaçaram vivo o primogênito de Etienne.
Depois de suas mãos chorosas, foi arrancada a mulher e sacrificada igualmente, até que as línguas dos leões fossem ouvidas lavando o chão da cela.
Lentamente o mouro encaminhou-se para Etienne, amarrou também seus pés, o desamarrou dos ferros e o deitou de costas, direcionando a ponta do punhal entre a 5ª e a 6ª vértebra da coluna vertebral, segurou e levantando a mão direita, apenas pressionou levemente contra a junção de ossos... Um choque subiu até o cérebro de Etienne, e ao tentar mexer as pernas, estava imóvel, ele sabia o que tinha acontecido...
Depois adormeceu profundamente, e somente quando um raio de sol lhe tocou a face é que acordou, ergueu levemente o pescoço, e pode ver...
Todos os leões com o ventre aberto e pendurados pelo pescoço, cada um em sua cela.
Etienne sentiu que tinha mãos e pés desamarrados, e pode manobrar o corpo até a beirada da passarela... Vislumbrou lá embaixo as afiadas pontas dos ferros em volta das jaulas, posicionou o corpo para que acertasse pelo menos uns 4 deles, e precipitou-se no vazio para a morte...
 
Malgaxe
 
 
 
 
 
 
Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 10/01/2011
Reeditado em 10/01/2011
Código do texto: T2720796
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