A menina corcunda
Quando ela nasceu, seus pais se assustaram ao ver a deformidade que se apresentava em suas costas.
Mas a amaram da mesma forma que amaram aos outros filhos.
Mas mesmo assim sabiam que ela enfrentaria muitas brincadeiras de mal gosto com o decorrer do tempo.
Quando foi para a idade escolar foi a pior fase.
As crianças não foram ensinadas a conviver com diferenças.
Quase todos os dias ela voltava chorando para casa.
Parecia que as maldades das outras crianças não tinham medidas.
Com o passar do tempo ela foi se fechando em seu mundo, falava muito pouco, tinha um olhar perdido no tempo e quase nenhuma amizade.
Ela foi crescendo juntamente com o ódio acumulado em seu coração.
Até que uma certa tarde, na saída da escola alguns garotos começaram a zuar com ela.
Ela continuou caminhando de cabeça baixa.
Os garotos a seguiam, falando coisas que a feriam.
Ela mudou de caminho, e eles continuaram seguindo-a.
Eles nem notaram que estavam fazendo outro caminho, totalmente diferente do normal.
De repente percebem estar num beco sem saída.
A menina corcunda então se abaixa abraçando seus joelhos e deixando a corcunda mais saliente ainda.
Os garotos sentem medo, um calafrio os invadem quando o tempo muda e nuvens escuras tomam conta do céu, até então bem claro e com sol.
Eles tentam correr mas se sentem paralisados, grudados ao chão.
Tentam gritar mas a voz não saí.
Medo.
A menina corcunda então sente algo forçando sua blusa nas costas, sente medo.
Os garotos olham apavorados ao verem algo rasgando a blusa da menina e tomando forma.
São asas, seria ela um anjo?
Não, as asas são negras, e enormes, como as de um morcego.
Quando a menina corcunda se vira com seus olhos vermelhos e garras afiadas no lugar das unhas, eles sentem que será o fim deles.
Num pulo, ela levanta vôo e salta sobre eles.
Ataque fatal, usando as garras e as asas como armas mortais.
Pedaços de carne e ossos voam como folhas de papel.
Nenhum grito. Apenas sangue, muito sangue espalhado pela rua.
A vingança foi feita, todo seu ódio foi colocado para fora.
Ela dá mais um vôo e volta para o chão.
Se abaixa, abraça os joelhos e sente as asas voltando ao normal.
Agora é apenas uma menina corcunda novamente.
Ela pega seus cadernos e sai do beco, tomando novamente o caminho para casa.
Agora ela já sabe como se defender.