Tenho sede, muita sede !!
Na verdade esse é um conto gótico.
O barulho no galão de água durante a madrugada me deixava intrigado.
Sabem aquele barulho tipico de quando você pega um copo de água direto no galão de água e faz um som de bolhas?
Pois é, esse era o som que sempre eu ouvia, mas o que me incomodava era o horário, na madrugada.
Se ninguém estava tomando água, de onde vinha o barulho ??????
Comecei a prestar atenção e descobri algumas coisas interessantes.
Não era todo dia que isso acontecia. Somente às sextas feiras.
E sempre perto das três horas da manhã.
Minha curiosidade aguçou mais ainda.
Numa sexta feira tomei a decisão de descobrir o mistério.
Confesso que senti um certo medo do desconhecido.
Estava disposto a passar a noite acordado.
E foi o que eu fiz.
Peguei um livro e me sentei em uma cadeira lá na cozinha.
Meia noite, tudo tranquilo.
Uma, duas horas e nada.
O sono chegando. E o medo também.
Duas e quarenta e cinco.
De repente. Blurb blurpppp, blurp.
Me levantei num pulo. Fixei meu olhar para o galão.
A torneira se abriu. A água caia mas não chegava ao chão.
Senti um medo tomar conta de mim.
Arrepiei. A água evaporava.
Havia alguém ali. Um ser invisível.
Tomei coragem e perguntei:
-Quem é você ??
Como se levasse um susto, a torneira se fechou.
Senti que ele ou ela me olhava.
Um frio tomou conta de meu corpo todo.
Eu não vi nada. Nenhum vulto.
Mas o que eu ouvi me deixou extremamente apavorado.
Não a frase em si, mas o tom de voz, o modo como cada palavra era pronunciada.
Senti naquela voz uma dor sem tamanho, quase um desespero.
Era uma voz feminina aparentando ser de uma pessoa bem jovem, quase criança.
- Tenho sede, tenho muita sede.
Fiquei calado por alguns segundos e sem mesmo perceber respondi:
- Pode ficar à vontade. Beba. Mate a sede.
Senti que ela me agradeceu com um olhar meigo.
E depois disso, se foi.
Mas toda sexta feira de madrugada ela volta e mata a sede.
Nunca mais questionei isso.
Durmo tranquilo.