A carona.

Ela estava em um posto de gasolina, no meio do nada. Tinha comprado umas bolachas, e depois as botou em sua mochila. Saindo na rua, avistou um Gol branco. Dentro do carro, estava um homem e uma mulher. A garota era esbelta, tinha cabelos longos e castanhos e estava de óculos de sol, ele já era alto, olhos azuis e cabelos cutos. Viu o frentista conversando com o homem, e em seguida passou por ela e entrou na loja. Essa era a hora. Aproximou-se da janela do carona; onde estava a mulher.

-Bom dia. Desculpe incomodá-los, mas será que vocês não podiam me dar uma carona, até a cidade mais próxima?

O casal fitou a moça por um tempo. Em seguida trocaram olhares.

-Para onde você quer ir? – perguntou a mulher.

-Eu fiquei de encontrar com umas amigas para fazer Rafting. Eu perdi o ônibus da excursão. Se eu chegar à cidade mais próxima, posso pegar outro ônibus.

-Tudo bem – disse o homem – Pode entrar.

Ela entrou no banco traseiro. Em seguida, o frentista veio dar o troco da gasolina.

-Obrigado.

-De onde você é? – perguntou o homem.

Já fazia uns cinco minutos que eles tinham partido.

-Do interior.

-Mora com quem?

-Sozinha.

-E seus pais?

-Morreram muito cedo.

Continuaram conversando por mais uns dez minutos.

-Quanto tempo será que falta? – perguntou a mulher.

-Acho que mais dez minutos.

A garota tirou da mochila um jornal, que carregava consigo, e começou a ler. A mulher olhou de relance para ela. Leu uma matéria na seção de esporte, e em seguida foi para a seção policial; que chamou sua atenção: Casal é procurado por assassinato. Dizia que o casal tinha assaltado a casa de um dono de uma empresa e roubado todo seu dinheiro. Carlos, a vitima, tentou reagir e os dois acabaram matando – o a facadas. Tinha uma foto do suspeito. A garota, que se chamava Liza, viu. Era o seu carona! E provavelmente a mulher era sua comparsa. Abaixou o jornal e guardou na mochila. Ficou uns trinta segundos tentando reformular o que ia falar.

-Acho que eu vou ficar por aqui.

-Como assim? – perguntou o homem.

-Vou descer aqui.

-Mas estamos no meio do nada.

-Mas eu não quero atrapalhar vocês.

-Você não está atrapalhando. Daqui a pouco chegaremos.

Liza começou a suar frio. Eles vão me matar! Eles sabem que eu sei!

-Eu preciso fazer xixi!- disse ela de repente. – Estou apertada.

-Ah, mulheres! – o homem suspirou e parou o carro no acostamento.

Liza desceu rapidamente do carro, junto com a mochila.

-Eu vou ali no meio do mato. Eu... Gosto de privacidade. Sabe como é.

Sumiu de vista dos dois. A mulher quebrou o silêncio.

-Ela sabe.

-Oi? O que você...

-Ela sabe o que a gente fez.

-Por que você acha...

-Ela saiu com a mochila.

A mulher tirou, do porta luvas uma arma do tipo Springfield. O homem botou a mão em seu ombro.

- O que você pensa que vai fazer?

-Vou matá-la.

Saiu rapidamente do carro. Luiza estava a uns 30 metros de distancia; corria que nem uma louca. Atrás dela vinha a mulher, que parou no meio do mato e atirou. Liza caiu.

-Na mosca – ela murmurou.

Voltou ao carro e partiram. Quinze minutos depois o carro começou a dar solavancos.

-O que é isso? Pensei que você tinha posto gasolina suficiente.

-E botei. Acho que o carro está começando a pifar.

-MAS ELE NÃO PODE PIFAR AQUI. ESTAMOS NO MEIO DO NADA!

E foi nesse momento que o carro parou

-EU NÃO ACREDITO!

-CALMA, ROSANE!

-Como calma? Você disse que estávamos perto da cidade.

-Eu sei.. Acho que me perdi.

-Seu idiota! E agora? Já está escurecendo.

-Podemos pedir carona.

Rosane negou com a cabeça.

-Eu não vou fazer isso. – resmungou.

-A única solução é esperar o motor esfriar.

-Então vamos fazer isso.

Esperaram, esperaram e esperaram. Dormiram que nem viram a hora passar. Quando acordaram, já era noite.

-Nossa, dormimos demais.

-Pelo menos o motor já deve ter esfriado. – disse a mulher – Ligue o carro.

Ele ligou os faróis. Os dois tomaram um susto com o que viram ali na frente.

-Não pode ser. – ela murmurou.

A moça que tinha pedido carona estava ali: Na frente do carro.

-Eu matei ela. Como..

A garota não se mexia. Estava um pouco suja de terra.

-Você não deve ter acertado o tiro. – ele riu – Parabéns!

-O que você está esperando? Passa por cima.

-Pois é isso que vou fazer.

Ele acelerou o carro. Liza voou, caindo a uns dez metros atrás. Ele freou. Tinha sangue por todo o pára-choque.

-Será que ela está morta? – Rosane perguntou.

-Claro que sim.

-Então, vamos. Depois nós limpamos o sangue.

Ele deu a partida no carro. Não funcionava

-EU NÃO ACREDITO! – a moça berrou.

-CALMA! Deve ter sido o impacto, sei lá.

Rosane olhou no retrovisor. Liza estava de pé. Toda ensanguentada.

-NÃO PODE SER! ELA ESTÁ VIVA!

Liza vinha em direção ao carro. Parecia um zumbi.

-VAMOS! LIGA O CARRO!

-EU NÃO CONSIGO, DROGA!

Rosane abriu o porta luvas e tirou a Springfield.

-EU VOU ACABAR COM VOCÊ! – falou ela saindo do carro.

Liza e Rosane estavam a uns 4 metros uma da outra. A bandida apontou a arma e deu um tiro; dessa acertou em cheio a testa da garota.

-TOMA! ENGOLE ESSA!

Voltou ao carro.

-Trabalho feito. Agora faça esse carro pegar.

O homem tentou novamente.

-Não dá. Teremos que esperar.

-Eu não acredito. Temos uma conta enorme na Suíça, esperando por nós e um maldito carro nos impede de ir.

-Vamos dormir mais um pouco. Para passar o tempo. Até esfriar o motor.

-Julio, que tal nós passarmos o tempo fazendo outra coisa.

Rosane montou em Julio. Eles começaram a se beijar. Curtiram dois minutos até ouvir um barulho; como se alguma coisa pesada tivesse caído em cima da traseira do veiculo.

-O QUE É ISSO? – Rosane gritou.

-Não sei. Vou ali atrás ver.

A mulher voltou para seu assento, enquanto Julio descia do carro. Quem será que teria feito um barulho daqueles no meio do nada? Depois de uns segundos, o homem voltou correndo.

-A GAROTA...!

-O que tem?

-É melhor você ver.

Os dois desceram do carro. A garota; o que tinha sobrado dela, estava por todo o chão. Uma parte da pele de um lado, a mão em outro, parecia uma troca de pele humana.

-MAS O QUE...?

Um vulto sobrevoou sobre eles, que olharam para cima.

-Você viu? O que acha que era?

Rosane olhou para o namorado, mas não o achou. Ele tinha desaparecido.

-JULIO? CADE VOCÊ?

Atrás dela se ouviu um barulho esquisito E uma voz, bem suave.

-Gente má. Matar...

Rosane olhou para trás, mas não viu ninguém. Com medo retornou ao carro, e ali ficou espremida no banco. Um estouro a fez dar um berro: Julio caiu em cima do pára-brisa; estava todo destroçado, sangue por todo o corpo. Seus olhos estavam abertos, como se estivesse pedindo ajuda.

-AHH!

Foi para o banco traseiro, onde se espremeu mais ainda e ficou chorando. O carro começou a chacoalhar. No momento, ela pensou que tinham varias pessoas empurrando o carro. Mas ela estava sozinha. Ela gritava sem parar. Desceu do carro, rapidamente, caindo no asfalto, mas se levantou e recomeçou a correr pro meio do capinzal. Alguma coisa vinha atrás dela. E voando.

Rosane correu, correu, correu. E quando percebeu tinha entrado em um açude. Caiu e se molhou toda. A coisa estava chegando. Mergulhou a fim de despistar o negócio. Ficou em baixo da água por trinta segundos. Quando retornou, estava cheia de algas e afins. Saiu do açude e ficou olhando para o céu. Tornou a olhar para a frente: Viu aquela coisa, que não sabia distinguir o que era. Parecia o diabo. Mas será possível? Media dois metros de altura. Sua pele era coberta de escamas. Sorriu para Rosane, que gritou e voltou a se atirar no açude. Nadou, nadou e nadou até... Voar. Ela estava voando. Mas como? O vento batia em sua cara. Ela rezava, mas não adiantava. De repente caiu. Algo amorteceu sua queda. Olhou em sua volta e viu: Vários corpos amontoados. Todos estraçalhados. Ela notou que conhecia um deles. Era um traficante de drogas, que tinha feito negócio com seu namorado, alguns meses atrás. Tateou a procura de uma saída, mas não achou. E foi então que aquela coisa posou. Pegou com a mão, que mais parecia garras, o queixo de Rosane.

-Má... Morte.

Ela não viu mais nada.

3 meses depois.

Rodolfo estava dirigindo seu caminhão pela rodovia 3 enquanto pensava nas criançinhas que tinha abusado. A loirinha, a baixinha, até o garotinho que estava vestido de Batman. Ele as adorava, e elas o adoravam. Quer dizer, gostavam das balas e brinquedos que ele tinha para mostrar dentro do caminhão. De repente, ele viu uma moça no acostamento só de minissaia e uma blusa fina. Estava pedindo carona.

-OBA! Mais uma!

Parou o caminhão e abriu a janela.

-Boa tarde, moça. Quer carona?

-Seria um prazer.

A garota entrou no caminhão. O motorista nunca mais apareceu.

Bauer
Enviado por Bauer em 09/12/2010
Reeditado em 09/12/2010
Código do texto: T2661378
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