A Tragédia

Gostaria de dedicar esse conto a todas as pessoas que já passaram por uma situação parecida, só aqui do recanto sei que pelo menos quatro amigos já sofreram algum tipo de acidente de automovel, eu passei por uma dessas e sei que realmente é um inferno, algumas imagens daquele momento ainda habitam minhas lembranças, cenas dignas de um filme de terror.

Esse conto é baseado no acidente que eu sofri, aconteceu mais ou menos assim, mas felizmente, ninguem morreu.

Forte Abraço a todos.

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Acordei naquela manhã de fevereiro em minha cama. Como eu havia chegado a casa? Eu não me lembrava, mas sei que minha cabeça estava muito pesada, para não dizer que doía como se estivesse levando marteladas. Íamos viajar naquela manhã, felizmente, não ia dirigir, meu pai guiaria o carro, eu ia dormir até chegarmos.

Tomei o café da manhã com uma ressaca infeliz. Estava meio acordado, meio dormindo, mas o pão e o café desceram desconfortavelmente pela minha garganta doída. Meu pai tomou seu remédio para o coração, pois era cardíaco. Será que futuramente também serei? Não sei. Bebi mais um copo com água, afinal, não conhecia remédio melhor para a ressaca. Apesar de ter tomado banho, que ajuda muito, o calor me era insuportável, felizmente, lembrei de pegar um travesseiro para ir dormindo. Saímos por volta das seis horas da manha. Devo ter adormecido pouco depois...

***

A viagem seguia tranqüila, eles iam com uma velocidade na faixa de cem quilômetros por hora, passaram tranquilamente, por duas cidadezinhas pacatas e àquela hora, elas estavam acordando. Chegaram finalmente, na primeira cidade grande, era a Princesa do Norte, Sobral City.

Eles resolveram parar em um posto de combustível para encher o tanque, o pai resolveu tomar um café, a mãe foi no banheiro, o primo queria um copo com água e o filho que dormia de ressaca não quis nada, pois dormia. Seguiram viagem, logo em seguida.

Depois de andarem mais ou menos uns cinqüenta quilômetros, o pior aconteceu. O pneu traseiro do carro estourou, a uma velocidade de cento e vinte quilômetros por hora, a traseira saiu do eixo e o pai não conseguiu controlar o carro, desceram um barranco, mas antes de começar a descida o carro bateu numa espécie de meio fio e capotou, desceu o barranco capotando, seis vezes...

***

Acordei na segunda virada do carro, senti tudo rodando, pensei estar sonhando, mas era real. Tudo aconteceu muito rápido, pude sentir a pancada do carro em uma árvore, ouvi o som da madeira quebrando, mas fiquei tonto devido às pancadas na cabeça, quando dei conta de mim, estava de ponta cabeça, pois o carro estava capotado. Demorei um segundo para entender a situação, havíamos sofrido um acidente. Olhei para frente, meu pai e minha mãe estavam com os braços dependurados, pareciam que estavam mortos, olhei para o lado e não vi mais meu primo.

Minha cabeça doía, passei a mão na testa, procurando por sangue, não senti nada, não estava ferido. Sai rastejando pela janela do lado do meu primo, que estava quebrada. Olhei para trás e vi que uma poça de sangue estava ao redor do seu corpo, fui tentar socorrê-lo, mas só pude ver vísceras e miolos banhados em sangue. Ajoelhei-me diante daqueles pedaços de carne, ele deveria estar sem o cinto e saiu voando pela janela, o carro deve ter caído em cima dele, meu deus que coisa horrível, que visão do inferno. Nesse momento, ouço gemidos de dentro do carro.

Aproximo-me cambaleando dos destroços, o lado do passageiro está destruído, não conseguiria abrir a porta daquele lado, resolvi ver o outro lado. De onde vinham os gemidos, era horrível escutar aqueles ganidos de uma pessoa amada, era meu pai, digo para ele que vou retirar o cinto, é inevitável que ele caia, ele tenta me dizer alguma coisa, incompreensível para mim naquele momento, mas retiro ele de dentro do carro. Sento-o em uma pedra que está a poucos metros dali e volto para tentar tirar minha mãe.

Entro pela porta do motorista, meu deus, que coisa horrorosa de se ver, minha mãe está coberta de sangue, ela está desmaiada, com os braços suspensos, o sangue escorre de sua boca, de seu nariz e de um enorme ferimento em sua testa, bato no rosto dela tentando acordá-la, nada, ela não responde, minha mão fica cheia do sangue dela. Ai meu deus será que ela está morta? Novamente, tento acordá-la e nada, só mais sangue desce de seu rosto, e se acumula no teto do carro que está capotado. Tiro o cinto dela, ela cai escancarada por cima de mim, ouço um grito lá fora, era meu pai, ele gritava de dor, será que acontecia alguma coisa? Consegui me desvencilhar do pesado corpo de minha mãe e sai do carro.

Olhei para meu pai, ele estava com a mão no peito, parecia que tinha levado uma pancada fortíssima da direção, tentei ajudá-lo, mas era tarde demais, ele estava tendo um enfarte. Sozinho ali, não podia fazer nada, fiquei segurando ele entre meus braços, em um abraço. Ele morreu em meus braços. Não tinha tempo para chorar, pois tinha que retirar minha mãe das ferragens.

Ela estava desmaiada, mas eu sabia que estava viva. Entrei novamente nas ferragens, a primeira coisa que senti foi um forte cheiro de gasolina, estava vazando muita, naquele calor aquilo seria mortal, olhei novamente para a mulher na minha frente, comecei a chorar. Faíscas elétricas começaram a chamar minha atenção, o carro ia explodir, não conseguiria salvar ela. Tive que sair e correr.

Quando estava há dez metros do carro, ele explodiu, a labareda de fogo subiu muito, meu deus, toda a minha família estava morta agora, o que eu iria fazer, apenas continuei a correr em direção à pista.

***

O rapaz entrou correndo na pista, ele não viu que uma enorme carreta preta ia passando. O motorista ainda tentou frear, mas era muito tarde, o rapaz, foi acertado em cheio, seu corpo voou cerca de oito metros do lugar da pancada, o amassado na carreta fora grande. A cabeça do rapaz morreu ficou esfacelada, com pedaços sujos de sangue do seu cérebro para fora, quebrou as pernas e o braço, quatro costelas também foram quebradas, em meio a tanta dor, o rapaz fechou os olhos para o mundo e os abriu para a glória eterna.

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João Murillo
Enviado por João Murillo em 07/12/2010
Código do texto: T2658168
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