F O R M I G A S !

“Peço ao leitor que não se afeiçoe ao protagonista, pois ele irá morrer. Caso você queira ser teimoso e preferir gostar do defuntinho, que seja, contudo não venha me culpar depois se suas esperanças não forem correspondidas”.

Ali vem ele montado a cavalo na vermelhidão da antiga estrada. Jeremias observava o verde da imensa floresta que o cercava com profunda alegria. O pequeno estava feliz, era seu aniversário (10 anos) e admirava sorrindo o presente que seu papai lhe dera – o cavalo- para o seu pai: nada de muito valor, mas para ele o animal era, sem dúvida; a maior riqueza do mundo.

Seus olhos ainda mostravam o mesmo encantamento de quando recebera o presente naquela manhã. Seu pai (Grande fazendeiro das redondezas) deu-lhe o tão esperado presente e, com os olhos molhados, abraçou o filho, colocou-o montado sobre o cavalo e disse sem esconder as emoções “Vai filho, vai brincar, hoje é o seu dia, só seu.”

Jeremias derramando alegria saiu de manhã, voltou, almoçou e saiu novamente ainda mais feliz. Já estava escurecendo e ali continuava ele: na estrada vermelha acariciando o novo amigo tão esperado.

“Você caro leitor, acredita que no Brasil há regiões onde um pangaré vale bom dinheiro? Pois é! E adivinhem? Jeremias justamente encontrava-se numa dessas regiões. Imagine o que iria acontecer ao amável garotinho! Ainda quer se afeiçoar? Fica tudo por sua conta e risco!”.

Hipnotizado! Esta era a feição de Jeremias, aquele era o melhor dia de sua vida, só tinha olhos para o adorável presente, o animal era suave e gentil e parecia retribuir o afeto que o garoto lhe transmitia, tornando assim aquele momento num elo de união adocicada, onde o mundo não mais existia, somente aquela nova amizade por eles era sentida. Talvez por essa distração não pode ver quem e muito menos o que lhe acertara. Apenas sentiu uma imensa pancada na cabeça, viu a estrada girar, viu o céu, o cavalo e novamente a estrada só que agora lhe entrando pelos olhos.

“Então, teimoso leitor, ainda quer permanecer em harmonia com o menino? Lavo as mãos!”.

Os bandidos, como sempre, foram educados, generosos, muito bonzinhos e além de tudo higiênicos, pois além de roubar o cavalo jogaram o pobre garoto desacordado na densa floresta, deixando bem limpinha a bela estrada.

Jeremias certamente não acordaria aquele dia se não tivesse a ajuda delas. As primeiras picadas nem foram sentidas, contudo após algumas dezenas o garoto acordou desesperado. Não podia enxergar; os olhos estavam cheios de terra. Seu rosto, sua cabeça doíam como nunca, mas na verdade outra dor incomodava mais. Eram Suas pernas. Ali era como se pequenas e ardidas alfinetadas fossem distribuídas incessantemente.

Tentou inutilmente limpar os olhos. Levou nervosas as mãos em direção às incessantes picadas. Quando percebeu a situação em que se encontrava levantou-se num sobressalto. Pode sentir que sua perna estava completamente tomada por grandes insetos que lhe rasgavam com ardidas e torturantes picadas. Debateu-se ainda repleto de dor e sem enxergar coisa alguma, apenas sentia os insetos movendo-se e as agulhadas que agora subiam em direção à barriga. Assustado e sozinho, a criança começou a correr agonizando e gritando com audível desespero.

Aquele que deveria ser o dia especial de Jeremias; definitivamente não se mostrou tão especial assim. Não tardou para que o desesperado e cego garoto socasse a testa numa grande árvore e caísse desacordado.

“Quer saber o que o garotinho riquinho estava sentindo? É fácil! Pega uma pinça aí e começa a retirar todos os pelos de seu corpo; vagarosamente”.

“Ele acordou novamente. Acreditem!”

Só que agora não podia também ouvir, as formigas adentravam por seus ouvidos e comiam-lhe os tímpanos causando dor imensurável. Sua boca e o que restara de sua língua apresentavam-se inchadas e disformes. Sua face estava negra; repleta dos vorazes insetos.

“Acreditam ainda que ele levantou?Pois é!”

Cambaleante e sem energia para debater-se com efetividade caminhou alguns metros e logo caiu gemendo desfalecido.

“Sabem aonde? Na estrada. Ironia? A vida é cheia disso”

Quando o encontraram na manhã seguinte; mal podia ser reconhecido, as formigas cobriam-no. Como diriam os sensatos biólogos: "estavam seguindo o ciclo natural e se alimentavam".

“Eu duvido que algum biólogo ou ativista ocioso iria dizer -proteja a natureza- se visse, ao menos uma vez na vida, uma situação como aquela. Já aos leitores teimosos digo: eu avisei! (Vai chover reclamação)”.

“Ah! Lembram dos ladrões? Eram dois e eles também morreram naquela noite (Depois eu relato o ocorrido); foram mortos por Javalis. E o cavalo? (O motivo de tudo) Bem, este continua vivo e gordo. Se um ativista o visse diria. Ah! já sabemos o que ele diria”.

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Lá este conto tem um vídeo dessas formigas conhecidas como formigas gigantes (Dinoponera gigantea), originária da Amazônia. Aliás lá no Blog o Jeremias não morre. Mentira! Morre sim. Eu não gosto do Jeremias.

J V I C T O R