A Experiência, Mutação Genética - Capítulo VIII - "A Agonia de Antenor"
Os militares entravam por terra e pelo ar, após treze horas de dor, sangue e desesperança. Há um velho ditado que diz: “a esperança é a ultima que morre”. De fato, já estava morta muito antes da tragédia. Deixemos para depois os problemas sociais.
Antenor e os outros chegavam à residência de Cesar, cujo objetivo era descansar. Sonia e Jéssica foram para cozinha preparar o café, enquanto o restante conversava na sala:
-Aqui estaremos seguros – disse enfim Cesar.
-Eu acho que não – disse Ricardo – há pessoas contaminadas em Vilar dos Teles.
-É verdade – objetou Antenor – devemos fazer o máximo de silêncio. Não durmo há mais de vinte horas.
-Você não é o único – disse Hudson, que estava próximo a janela fumando.
-Esperem! Logo o café estará pronto. Vou ligar a TV – disse Cesar.
O aparelho era velho, de baixa definição, nem tinha controle remoto; porém, funcionava razoavelmente. Em todas as emissoras, o assunto era o mesmo: “os militares já estão no município de São João de Meriti, para salvar a população e exterminar as criaturas humanas; a ordem foi dada pelo Presidente”. Essas últimas notícias, não agradaram Hudson, porque é um foragido da justiça. Estava pensando no que fazer para sair daquela situação crítica. Quando viu Jéssica, atravessando a sala para carregar a bateria do computador portátil, pegou a arma que encontrara no banco do carona e rendeu-a:
-Não se mexam! Ou ela morre!
-Por favor! Espere...
Um disparo a queima-roupa atingiu Antenor, que caía ensanguentado sobre a mesa de centro.
-Eu avisei para não se mexerem! Nem pensem em me seguir.
Saiu pela porta da sala, levando Jéssica como refém.
-Antenor, aguente firme! Peguem as ataduras! Precisamos parar o sangramento. Aí meus!
O sangue jorrava entre os dedos de Cesar, enquanto Antenor, vitimado por Hudson, jazia no meio da sala. Sua visão estava turva, respirava com dificuldades. O peito queimava como brasa, seu corpo estremecia, seus olhos transbordaram. Sonia pressionava as mãos por cima da atadura sobre o peito de Antenor:
-Aguente firme amigo – disse Cesar, segurando-lhe uma das mãos.
Ricardo permanecia pasmo, nunca em sua vida presenciara tal tragédia. Estava trêmulo, sem saber o que fazer. Sonia pediu a Ricardo que pegasse uma tesoura, esparadrapo e um pouco de água, para assim findar o curativo.
-Ele vai ficar bem – disse enfim Sonia – Não foi um ferimento grave.
-Que bom! Agora estou aliviado. Vamos salvar a Jéssica! Ricardo pegue as armas no porão. Não podemos deixar aquele cretino impune...
-Eu também vou.
-Mas, Antenor você...
-Eu fiz uma promessa a minha neta e vou cumpri-la – disse enquanto se levantava.
-Eu disse que não foi um ferimento grave – disse Sonia – Antenor, este curativo é provisório, não irá durar muito.
-Está bem Sonia. Serei atento. Porém, se for para salvar Jéssica, arriscarei a minha vida. Não posso morrer enquanto isso não for resolvido, já sofremos muitos nessas últimas horas. É hora de darmos um basta!
Ricardo voltava com as armas, Cesar e Antenor, aguardavam-no do lado de fora da residência.
-Vamos amigos. Talvez, este dia seja o último de nossas vidas – disse Antenor, caminhando contra o vento.
As ruas estavam pacatas, só se ouvia o ruído dos ventos, rastejando lixos espalhados pelo local. Num canteiro, próximo ao bar dois corpos de aparência jovem mutilados; de dois rapazes. Um deles tinha o intestino delgado exposto, enquanto o outro chorava sangue, porque tivera os olhos furtados.
-Vamos ser cautelosos – disse Cesar.
-Já estou acostumando com isso – disse Antenor – Vamos em frente!
-Olhem – disse Ricardo.
Era uma multidão de criaturas contaminadas, que vinham em direção aos “homens guerreiros”.
-Vamos atraí-los até aquele posto, não podemos gastar munição.
Pegaram as bombas espalharam gasolina o suficiente, e esperaram apenas o momento exato. Quando os vinte primeiro pisaram no combustível, Cesar puxou o gatilho, que culminou num tremendo fogaréu:
-Isso irá segurá-los – disse Cesar – Encontraremos Jéssica.