Visita noturna

*Por que temes Marcos? Agora está tudo bem. Do jeito que você queria. Não vejo mais nenhum motivo para não querer dormir. Acabaram-se os gritos, os choros e uivos que te atormentavam. Agora ela descansa em paz, e você continua aí pior do que antes.

*É impressão minha ou você está tremendo?

*BLAM!

*O portão se abriu com um estrondo. O cachorro Bob latia tão alto que parecia estar dentro do quarto. Puxando a coberta até o queixo, Marcos ficou imóvel. Agora nenhum som diferente do latido de Bob escaparia dos seus ouvidos.

- Tem alguém no quintal. Pode ser um ladrão. Ouvi barulhos de pedrinhas sendo pisoteadas. Bob não está mais latindo. Droga! Será que tranquei a casa toda? Não! A janela do quarto da mamãe!

*Marcos tinha que resolver este problema. Poderiam ser coisas de sua cabeça, mas agora que lembrou não ter fechado a janela do antigo quarto de sua mãe, ele não se acalmaria enquanto não fosse fechá-la. Aliás, ele já deveria ter feito isto há muito tempo. Agora quem sabe já não era tarde demais e algum gatuno não o espreitava enquanto caminhava pelo corredor, se aproximando lentamente do quarto da mamãe.

*A porta do quarto estava entreaberta e uma corrente de ar saía por ela. Ele nem se quer pensou nisto, mas a janela do quarto deveria estar mais aberta do que ele imaginava. Um cheiro diferente saía do quarto. Marcos se lembrou de quando era criança e brincava de “Escavação” com seus caminhõezinhos e pás. Isso! Era cheiro de terra. Um cheiro forte de terra. Marcos abriu a porta do quarto lentamente e nem precisou acender a luz. A lua iluminava totalmente o quarto.

*Meu Deus! Que susto enorme! Suas pernas bambearam. Sua bexiga se retraiu e um pouco de urina quente molhou seu pijama.

- Não pode ser!

*Mas era. Lá estava ela. Sua mãe. Com a mesma roupa do velório. Toda suja de terra. Pálida. Mas não chorava. Não mais sentia dores. O câncer a havia matado e todos sabiam disso. Melhor dizendo, nem todos sabiam disso. Marcos sabia era que a última refeição que ele havia preparado para sua mãe é que a matara. Ele achou que estaria livre. Chega de choros. Chega de gritos. Chega de dores. Ela estava sofrendo muito. Entendam isso.

*Ele fechou a porta rapidamente. Estava confuso. Essas coisas são impossíveis de acontecer. Ninguém volta do túmulo! Ela está morta!

*Acalme-se Marcos... Acalme-se. Veja só a maçaneta. Ela está se movendo e você nem percebeu.

*A porta se abriu e iluminada pela luz da lua cheia, estava sua mãe, com seu vestido favorito.

- Voltei, Marquinhos. Não está feliz?

*Marcos desabou no chão, paralisado e aquela aparição se pôs sobre ele e o tomou num abraço frio e eterno.

**********

*Seu corpo foi encontrado no mesmo lugar dois dias depois. Deram falta dele no trabalho. O que sabemos hoje sobre Marcos é que seu corpo se encontra no Cemitério Municipal de Rio das Flores, ao lado de sua mãe.

Fim.

ToWo
Enviado por ToWo em 02/12/2010
Reeditado em 17/09/2020
Código do texto: T2649285
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