PERDIDO NA ESCURIDÃO

FINAL!

http://contosjvictor.blogspot.com/ Pessoal passem lá e se divirtam . Obrigado! Boa leitura!

Assim como o tempo as gargalhadas voavam dispersas pelo ambiente sombrio, inebriando o pobre ser, que escondido, aguardava oportunidade aparentemente imprevisível de fuga. Aguardava, tremendo, com os olhos umedecidos refletindo a iluminada névoa reinante.

Contrário às suas expectativas, percebeu que aquela monstruosidade não teria fim. O tempo passara lento e angustiante; em grande proporção, mas nada se modificara, nem as risadas, os tilintares e muito menos os movimentos disformes e irreais dos homens no banquete. Aguardar era inútil pensava socando a névoa. Teria que ir.

Atravessar despercebido aquele pesadelo.

Com precisão cirúrgica engatinhava André pela luxuosa sala regida por um banquete de anomalias. A névoa persistia ainda, contudo agora se apresentava espessa e unida ao solo encobrindo as mãos do fugitivo até os punhos.

Os homens ostentosos mantinham-se incólumes, desapercebiam André que lentamente trafegava para completar um quarto do trajeto. O chão era macio e agradável, possivelmente, imaginava André “deveria ser um magnífico tapete, pois...”

Seus pensamentos foram silenciados; agora um daqueles que se movia rápido deixara um garfo cair e, no mesmo instante, com movimento ainda mais célere estava a aberração a pegar o talher, tão logo se pôs em indagadora fisionomia ao fixar André com seus olhos trêmulos que piscavam constantemente.

Paralisado, essa foi a reação do pobre fugitivo, que aliviado por alegria inenarrável contemplou aquele que poderia atrapalhá-lo voltar a alimentar-se como se nada houvesse visto. Despejara em velocidade celebre, na sua boca suja, uma nova taça de vinho e já se arremetia noutras possibilidades do banquete.

Enquanto apreciava com deslumbre de incompreensão o indefinível e rápido ser, André pode ver atrás deste uma imensa janela. Ali os relâmpagos e o vento desenhavam juntos monstruosas árvores arredias. A visão provocou além de temor uma significativa curiosidade,pois na verdade, aquele sinistro ambiente possuía características exageradamente irreconhecíveis e improváveis; geradoras, sem dúvida, de involuntária verificação.

Não notando e muito menos sendo notado que levantara, André observava atônito à grande tempestade que transcorria, o vento se mostrava absurdo e os relâmpagos constantes iluminavam tanto o ambiente quanto a luxuosa sala, contudo não havia trovões, nem mesmo o barulho do gigantesco vendaval podia ser ouvido, somente as gargalhadas disformes e os tilintares reinavam.

Os relâmpagos infindos iluminavam a sombria noite chuvosa naquele ambiente indecifrável. Entre um desses lampejos André uniu-se à parede com desmedida rapidez e energia, pois próximo ao vidro havia um alvo e calvo homem com negro olhar apontando-lhe o indicador. Ainda entre os lampejos insonoros, pode ver vários homens encapuzados com sujas túnicas acinzentadas correndo entre a forte tempestade rumo à janela. Em poucos segundos André pode ver a janela ser estraçalhada e transpassada por um deles.

O banquete prosseguia incólume, imutável e indiferente. O vento entrara arrasador no recinto. As velas que antes imperavam agora estavam silenciadas em relampejante escuridão. Os encapuzados se aproximavam vagarosos ante a neblina agora desfigurada, aparentavam medir as possíveis ações do intruso que não tardou em fugir rumo a uma imensa e belíssima porta rubro-dourada.

André rapidamente fechou a porta emitindo estrondoso barulho. Assustou-se claramente ao ver-se em ambiente totalmente averso ao anterior. O espaço era escuro e flagelado. As paredes possuíam diversas falhas por onde transpassavam o vento e a chuva. A névoa continuava constante, contudo menos densa e dispersa, dificultando consideravelmente o movimentar. Nada havia naquele recinto destruído além de uma grotesca escadaria em espiral que findava num sombrio, contudo não enevoado piso superior.

Confuso entre a pesada bruma o fugitivo procurava intolerante e desesperado o inicio da velha escada quando teve seu desespero dilatado ao ouvir a grande porta abrir-se bruscamente.

Aquelas criaturas eram morosas, mas precisas; em pouco tempo já forçavam o jovem desesperado a subir a escadaria em desalinhados tropeções e deslizes.

André pode ver a nevoa pairante no cômodo inferior ser lentamente transpassada pelos perseguidores encapuzados que agora ascendiam pela escadaria.

Apressou-se em alcançar seu único destino possível promovendo exímio alavancar das escassas energias. A velha e podre escadaria expelia enferrujados pedaços perante a árdua e resignada fuga. Os algozes seguiam cuidadosos sua vitima que, desesperada apresentava apenas ameaça a si mesma.

Sublimando seu triste e sôfrego destino, já no cômodo superior - este que não passava de um delineado e destruído corredor- André se viu encurralado, seus perseguidores subiram até onde o desesperado se encontrava e alinhando-se incorrigíveis lado a lado, os cinco apontaram o indicador em direção à parede atrás do jovem.

Virando-se rapidamente pode ver, através das sombras infindas daquele senil ambiente, uma forte luz escorrendo por entre as frestas de uma porta antes obscurecida . Sem exitar um segundo sequer adentrou imponderante ao desconhecido recinto.

Demoraria algum tempo até as pupilas de André se habituarem àquele alvo e luzente ambiente. Gradativamente pode distinguir que,a sua frente e a relevante distância um ser como aqueles encapuzados o observava estático. Havia algo desfigurante naquela sala, tendo agora a visão mais receptível à imensa claridade, percebeu que um grande e espesso vidro dividia a alva sala separando os dois personagens.

Irremediavelmente assustou-se após a porta atrás de si fechar-se com potencial energia produzindo o comum e eletrizante som de metais pesados quando se chocam.

Absolutamente descontrolado por todas as insanidades e absurdos imensuráveis que vivera naquele dia e também por sentir-se suavemente mais seguro com aquele espesso vidro separando-o daquela indefinida criatura; colocou-se a esbravejar colérico.

-Malditos, loucos, o que vocês querem de mim? Quem são vocês? O que vocês querem?

Não houve resposta.

André em histeria incontrolável gritava entre movimentos bruscos, ora socando o ar, ora esticando-se involuntariamente entre irados e

contorcidos gemidos.

-Diga maldito!Que lugar é este? Quem são vocês desgraçados?

Aos poucos sem obter qualquer resposta, prostou-se de joelhos iniciando um choro amargo e profundo.

O ser que observava imóvel e impassível à cena que transcorria, dirigiu-se vagarosamente até o vidro que os separavam e mergulhando um velho pano num recipiente com uma substância bastante asquerosa escreveu no cristal.

-Não Posso ouvi-lo. Em seguida apontou um recipiente próximo a André.

Instantaneamente André rasgou um pedaço da suja blusa que vestia, em seguida umedeceu-o na viscosa e detestável substância qual fora orientado e se pôs a escrever.

-Que lugar é este?

-O lugar que não pode ficar!

-Ficar? Nem sei onde estou! Maldição!

-Não importa. Tens que sair!

André demonstrou apreensão após a resposta e a nítida expressão de receio figurou-lhe na face.

-Não compreendo! Não me querem aqui?

-Não! - És uma anomalia contagiosa.

A resposta veio como uma onda a somar ainda mais confusão àquele tsunami de improbabilidades.

-Anomalia? Contagiosa?Ora, então porque me trouxeram?

-Sim! Uma contagiosa e perigosa anomalia ! Não o trouxemos; faz parte da lei: Todos que seguem a morte; aqui imutavelmente findam.

André ajoelhou-se desconcertado frente à revelação auferida.

- Morto? Sussurrou pensativo.

Lembrou todas as impossibilidades que visualizara: A gigantesca queda, A infinda névoa, o nefasto banquete, os ambientes aterrorizantes, a tempestade e enfim; os seres encapuzados. Nada disso realmente poderia existir.

-Morto? Sussurrou novamente –Morto! Levantou-se e escreveu com olhos lacrimosos.

-Sim entendo! Estou morto!

A criatura sempre impassível iniciou a frase que em cada letra escrita acrescentava ainda mais duvidas e temor ao pobre leitor.

-Não proferi que estás morto. Expus que és uma anomalia e que não podes ficar.

-Anomalia? Como assim? Não entendo o que está dizendo!

-Tu és matéria, morrestes, contudo permanecestes ligado à terra e agora a este lugar. Se ficares, todo este universo que se baseia em leis será consumido. Acredite! Já arriscamos anteriormente.

Assustado e sem raciocínio André deixava o ignóbil destino decorrer sem entraves pelas palavras da assustadora criatura.

-A lei infelizmente não é perfeita como o ensinado. Existem falhas e, Tu és uma delas!

Entre lágrimas de puro desespero escreveu André lentamente sabendo inútil qualquer contenda ou contestação. Sentia-se cansado, pronto para o seu destino e, no fundo sabia instintivamente que aquela criatura encapuzada não podia, por ele, ou qualquer outro; ser subjugada.

-O que será de mim? Não tenho culpa alguma! O que farão?

A criatura após um tempo refletindo expôs as suas pretensões ao aflito jovem, que atônito observava a lapidação inopinável de seu nebuloso e desconhecido futuro.

- Não há culpa, somente existem leis. A lei para os anômalos como tu é a de retorno imediato ao planeta da vida. Contudo lá não serás tu nem morto, nem vivo pois as leis regentes não permitem esse estado para os que materializados aqui estiveram, portanto ágoras tu caminharás pela terra por tempo indeterminado até que talvez outra lei surja em seu resgate e de seus semelhantes.

-Deus! Sussurrou amedrontado. A criatura encapuzada continuou a escrever as dolorosas palavras.

-Infelizmente a anomalia e o tempo excessivo de materialização, promovem ao anômalo alguns efeitos adversos, deste modo seu corpo sofrerá infinda animalização, processo que não interrompido provocará total extinção de seu elo animal e espiritual, tornando-o uma nulidade existencial, ou seja; extinguir-se-á.

André rapidamente dirigiu-se até o vidro escrevendo.

-Vou voltar para morrer? É isso que está dizendo!

A criatura continuou.

-Não podes morrer. -Irá extinguir-se dolorosamente pela eternidade.

Uma longa pausa se fez, onde somente os soluços do desafortunado podiam ser ouvidos.

-Somente não padecerá com esse nefasto destino se sobreviveres de um único alimento, este exímio nutriente apresentou-se retardante e eficaz para o tratamento desta anomalia ainda insolúvel.

André amedrontado, porém um pouco mais confortado por talvez haver uma temporária solução ao seu nefasto destino escreveu uma breve indagação.

-E Qual seria este alimento tão milagroso?

A resposta chocou-lhe a alma, fazendo-o gritar desesperançado contra a maldição que deveria assumir pela sobrevivência.

-Sangue humano!

JVictor

Acordou, vendo sangue... Horrível! O osso

Frontal em fogo... Ia talvez morrer,

Disse. Olhou-se no espelho. Era tão moço,

Ah! Certamente não podia ser!

Levantou-se. E, eis que viu, antes do almoço,

Na mão dos açougueiros, a escorrer

Fita rubra de sangue muito grosso,

A carne que ele havia de comer!

No inferno da visão alucinada,

Viu montanhas de sangue enchendo a estrada,

Viu vísceras vermelhas pelo chão...

E amou, com um berro bárbaro de gozo,

O monocromatismo monstruoso

Daquela universal vermelhidão!

Augusto dos Anjos ; A obsessão do sangue.

(Outras Poesias,pagina 44)

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J V I C T O R
Enviado por J V I C T O R em 23/11/2010
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