A Ilha dos Sete - Conto baseado em The Walking Dead
Recife amanheceu coberto de névoa naquele dia. Algo incomum, coisa que raramente se via.
Pedro estava no alto do paço alfândega. Em mãos, um binóculo, uma espingarda e um cigarro.
Já faziam três meses que ele não via nenhuma pessoa viva, exceto os seus cinco companheiros que tentavam sobreviver naquele prédio abandonado. Eles tinham sorte, os sobreviventes haviam conseguido isolar o bairro de são José do resto do Recife. Todas as pontes que faziam a conexão haviam sido ou barradas, ou destruídas. Ao redor da ilha, os mortos esperavam...
Sorte que eles não sabem nadar.
O bairro de são José havia sido praticamente limpo de Zumbis, mas ainda não era seguro andar pelas ruas. Os sobreviventes, ou se isolaram em prédios como Pedro havia feito com seus companheiros, ou haviam morrido de fome e doenças.
O grupo ainda tinha comida e água para um ou dois meses e isso os deixava apreensivos...
Marta, Luísa, João, Ricardo e Clara preferiam não pensar nem falar sobre isso... Mas Pedro, se sentia na responsabilidade e pensava num meio de sair daquela ilha, onde estavam condenados à inanição. Ninguém sabia ao certo quantos sobreviventes havia na ilha, mas pelo menos uns 100 zumbis ainda clamavam pela carne dos cinco que esperavam a morte ali em cima. Pelo menos, era menos do que os que os esperava do outro lado do rio...
Pedro eventualmente conseguia se esgueirar pelos becos do Recife antigo e invadir alguns prédios abandonados. Na ultima expedição, ele percebeu um movimento organizado próximo à praça do arsenal da marinha, mas não teve coragem para observar mais de perto. Preferiu retornar para o Paço com o pouco de comida que havia conseguido. Além da espingarda de caça que Pedro encontrou com um morto no caminho para o centro, eles só tinham duas pistolas .40 e 30 balas, além de um 38 enferrujado e 8 balas. João tinha um machado de bombeiro do qual não largava, nem quando dormia. O paço alfândega não parecia fornecer uma boa proteção contra os mortos vivos, no entanto, foram feitas barricadas em todas as entradas o que permitiu que várias pessoas tivessem sobrevivido lá. Mas quando o grupo de Pedro chegou na construção, encontrou nada mais do que cadáveres em decomposição. Alguns feridos à bala e a golpes de armas brancas. Os sobreviventes haviam enlouquecido e se matado, outros morreram de fome.
Pelas contas de Clara, faziam 6 meses desde que o mundo sucumbiu a este apocalipse dos mortos e eles moravam naquele lugar por três sossegados meses.
Pedro ia caindo no sono, enquanto pensava numa forma de fugir daquele inferno, quando um grito agudo o acordou...
UM NAVIO, UM NAVIO!
Era Clara. Ela havia subido no telhado para verificar a armadilha para pombos que tinha montado no dia anterior. Em seu sono, Pedro não notara a movimentação da sua companheira, e ela resolveu não acordá-lo, até ter visto o que acreditava que fosse sua salvação. Um navio no horizonte, vindo em direção ao porto do Recife.
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Sangue, tripas, saliva e gritos.
Luís abria caminho no meio da multidão de mortos vivos. Ele era a morte em movimento, não desperdiçava nenhum golpe de espada. Todos os que ele acertava caiam. Pescoço, coluna, pernas. Ele já havia derrubado uns 30, e nem sequer havia sido tocado... ele estava ficando bom... Mas a que custo?
Ele sabia... não devia ter saído de casa naquela manhã. A fome fazia suas entranhas se contorcerem, mas a névoa tornava desaconselhável aquela aventura...
Luís não suportava nenhum dos que viviam com ele no que restara do Shopping Boa Vista. Um bando de idiotas, ladrões e agora estupradores. Luís não pactuava com aquilo... Não era nada natural que só porque elas eram mulheres, tinham que se submeter daquele jeito à caras que desprezavam. Eram 16 sobreviventes além dele. Quatro desafortunadas mulheres. Sozinho ele não podia fazer nada, só ouvir os seus gritos. Ele decidiu partir, levou apenas uma espada japonesa de má qualidade que encontrara numa loja de artigos importados... Era uma porcaria, mas matava.
Faltavam uns 50 metros para a praça do diário, e ele já estava perdendo a esperança... 50, 60... Incontáveis zumbis o cercavam... E foi quando ele viu a viatura de polícia.
Luís era ateu, mas naquela hora ele pediu pela ajuda de Deus.
Correu como nunca havia corrido na vida e conseguiu entrar pelo porta aberta da Blazer. A chave do carro estava lá, assim como uma espingarda.
Deus Existe! – Ele pensou.
Luiz acelerou a Blazer loucamente, atropelando todos os mortos que estavam pelo caminho e então ele viu a ponte...
Estava bloqueada.
Dois ônibus virados, arame farpado... uma barricada...
O carro se chocou de lado, com o bloqueio, e Luiz ainda atordoado saiu do carro, e viu o rio.
Tinha alguns minutos para pensar...
Subiu no teto da Blazer e escalou os ônibus... se cortou nos arames farpados mas por fim transpôs a barreira.
A sua frente, ele viu que a vida do outro lado do rio não ia ser tão fácil quanto ele pensara.
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Pedro recém acordado pelos gritos de Clara, subiu no telhado e olhou para o mar.
Lá estava, um navio vindo em direção ao porto...
Ele, diferentemente de Clara, estava receoso daquilo... não havia como ter certeza que seriam bem recebidos por quem quer que seja que estivesse naquele navio... foi quando ele ouviu um barulho de motor, vindo do outro lado do rio...
Um louco, desesperado, só podia ser... ele vinha correndo pela ponte onde havia transposto a barricada e vinha em direção ao centro da ilha. Só que entre ele e o fim da ponte, haviam duas dúzias de zumbis.
O garoto era bom, trucidou a primeira metade a golpes de espada, mas foi idiota o suficiente para usar uma espingarda para derrubar o resto. Talvez estivesse cansado... Não dá pra saber.
Pedro pulou rapidamente para a sacada e resolveu ajudar o garoto.
ele levantou uma bandeira vermelha e preta... A bandeira do seu time, que pensara em usar para chamar a atenção de algum sobrevivente que passasse...
O garoto viu... e veio correndo. Uma corda foi estendida e agora, eram sete pessoas, naquele prédio. Sete pessoas cercadas por todos os mortos vivos que restavam na ilha.