A hóstia

Me lembro que quando era criança e ia para a missa com minha mãe, sempre que era a hora de tomarmos a hóstia. ela me dizia que não se podia morde-la, pois ela se transformaria em sangue, o sangue de Cristo.

Cresci com esse visão, e sempre tomava cuidado com ela, deixando-a no céu da boca para que se desmanchasse e não houvesse o perigo de morde-la.

O tempo passou. Me tornei adulto. Deixei de ir à missa.

Segui meu rumo. Mudei de cidade.

Mas um dia, essa coisa toda me veio á mente.

Era domingo. Saí e fui para um lugar onde fazia muito tempo eu não ia mais.

Fui até uma igreja. Um catedral gótica, bem antiga e muito bonita, meio sinistra até.

Me sentei e me senti muito sonolento.

O padre bem idoso fazia a missa em latim.

Hora de tomar o sacramento. Fui para a fila.

O som de cantos gregorianos encheram a igreja aumentando o ar gótico e sinistro.

Apesar de não me achar digno para tal ato, fechei os olhos, abri a boca e recebi a hóstia.

Devagar me dirigi ao banco onde eu estava sentado.

Me ajoelhei e orei.

Me sentei e fiz o que há muito tempo tinha vontade.

Mordi a hóstia.

De repente, todas as velas se apagaram e acenderam reapidamente.

O som de uma revoada de pássaros levantando voo se fez ouvir com grande eco.

Senti um gosto de sangue na boca e algo líquido a encheu.

Precisei engolir várias vezes.

Tudo ao redor parecia girar. Uma escuridão.

O canto gregoriano ficou mais assustador.

Todos dirigiram seus olhares para mim com olhar acusador.

Tive medo. Olhei para o velho padre que me olhava com olhos vermelhos de fogo.

Por trás dele vi um grande vulto vestido de negro com capuz, cruzando o altar.

O crucifixo estava de cabeça para baixo.

Senti que algo escorria do canto de minha boca.

Acordei assustado quando uma senhora de meia idade se sentou ao meu lado esbarrando em meus pés.

Tudo fora um sonho, um aviso talvez para que eu não fizesse o que eu queria fazer.

Tudo parecia normal. Me levantei e saí.

Ao sair me virei para trás e notei que o velho padre me olhava fixamente.

Tive um arrepio e sai da igreja.

Fui direto para casa.

Ao me trocar porém notei uma mancha pequena de sangue em minha camisa branca.

Estava fresco. Corri ao banheiro com medo de olhar no espelho e ver o que eu não queria.

Nada. Minha boca estava limpa. Nada de anormal.

Até hoje não sei de onde viera aquela mancha de sangue fresco.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 21/11/2010
Reeditado em 21/11/2010
Código do texto: T2628880
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