O Meu 33º Assassinato
Eu sempre fora uma pessoa serena e pacífica, de caráter sensato e cordial. Meus familiares, parentes e amigos, enfim, toda e qualquer pessoa que me conhecesse, invariavelmente, aludia com entusiasmo à afabilidade e educação de meu comportamento, à minha simpatia e paciência no trato com as pessoas, à pureza de meu sorriso, à ternura de meu olhar. Era conhecida de todos a bondade de meu coração, a minha índole luminosa, a minha boa-vontade para ajudar os demais. E assim realmente eu era. Ou, pelo menos, acreditava ser.
Porém, em todo ser humano, por melhor e mais claro que seja seu espírito, oculta-se uma desconhecida e terrível sombra negra. Em alguns, tal sombra sempre se manifesta, consciente ou inconscientemente, de forma relativa e controlada, aceitável pela sociedade. Em outros, a sombra torna-se tão monstruosa que domina completamente o indivíduo e o transforma em um execrável criminoso. Há pessoas que jamais percebem ou identificam seu lado negro em ação. Imaginam, talvez, que não o possuem, que são santos, os melhores seres possíveis, incapazes de cair em qualquer tipo de contradição. Talvez por orgulho (que faz parte da própria sombra, é uma forma de sua manifestação), talvez porque jamais se auto-observaram verdadeiramente. Ou sabem de seu lado negro e não admitem (nem para si mesmos), ou simplesmente desconhecem que ele está presente, provavelmente por uma falta de sagacidade observativa e/ou introspecção.
Eu fui um desses. Acreditava-me quase um santo. Se alguém dissesse que havia maldade em meu interior, seria para mim como um sacrilégio. Deixado todo esse preâmbulo, torna-se óbvio o ponto onde pretendo chegar. Sim, transformei-me em um homem mau, e mau ao ponto de matar uma pessoa. Ou melhor, várias. E sem arrependimento. Matar por ódio e pelo simples gosto de matar, com um incoercível sangue frio.
Porém, é ostensível que nenhuma pessoa torna-se má da noite para o dia. O mal é uma doença insidiosa, que vai corroendo aos poucos a nossa alma. Mas antes de corroer a alma, corrói a mente. E antes de corroer a mente, corrói o coração. E então, a maldade que naturalmente habita, latente ou não, o interior de cada ser humano, vai lentamente se erguendo de seu berço, vai se alimentando das circunstâncias da vida, pelos fatos inexoráveis, por uma série fatal de acontecimentos exteriores que, ferindo nosso coração e nossa mente, fazem despertar, a partir deles, o mal que dormia ou apenas se manifestava subrepticiamente.
Não saberia dizer com exatidão quando o mal principiou a virar o jogo em minha psique, quando comecei a abandonar minha bondade para gerar em meu interior um demônio assassino. Mas passei a perceber alterações em meu comportamento, no que eu sentia e pensava, alguns poucos anos depois do final de minha adolescência. Foi quando iniciei a me dar conta de que o mundo era bem pior do que eu até então imaginava, e que o ser humano está muito mais próximo dos demônios do que dos anjos... Fui, aos poucos, percebendo que todo o bem que vivia em minha alma era inútil quando se tratava da relação com outras pessoas.
Eu era julgado um ingênuo, um bobo, era ridicularizado, às minhas costas, por pessoas das quais jamais suspeitaria. Até mesmo alguns de meus amigos, amigos em quem eu confiava, em quem depositei toda a sinceridade de meu ser, diziam (pelas minhas costas, e imaginando que eu nunca ficaria sabendo) que toda a minha bondade era somente aparência, era disfarce, hipocrisia, fingimento. Eu não poderia ser tão bom quanto aparentava, era impossível, era desumano. Aqueles hipócritas acusavam-me de hipocrisia. Sim, talvez eles tivessem razão, pois me tornei um verdadeiro diabo. Porém, naquela época, tudo em mim era absolutamente sincero, e eu não pude suportar a dor advinda de saber o que meus próprios amigos pensavam de mim. Se os amigos assim pensavam e agiam por traição, o que esperar dos demais?
Mas é claro que não foi apenas esse fato o responsável por minha hedionda transformação. Foram muitos outros, que se acumularam lentamente, somando-se a tudo o que feria os meus sentimentos, desde decepções amorosas até humilhações por parte daqueles que se consideravam superiores a mim por estarem em melhor condição econômica, melhor posição social, pelo seu prestígio vazio dentro da sociedade, enfim... Junte-se a tudo isso a minha solidão e isolamento, o meu abandono, a incompreensão de minhas boas intenções por parte de quase todos aqueles que conviviam comigo.
Assim, fui conhecendo a realidade do homem e da humanidade. E a decepção foi a mais cruel possível. Olhando para o mundo com novos olhos, com olhos frios e desiludidos, compreendi que o amor, em seu verdadeiro sentido, não habitava o coração de praticamente ninguém. Por isso, não acreditavam que pudesse haver verdadeira bondade em mim. Porque me viam através de si mesmos. Sentindo na pele as traições e humilhações, aprendi definitivamente que não se podia confiar em ninguém, nem na sinceridade dos amigos, nem nos amores das mulheres.
Eu, que sempre confiara na justiça humana, caí em abatimento quando verifiquei o império da injustiça por todos os cantos. Vi, estupefato, a entronização da mediocridade, a vitória na sociedade daqueles que mereciam ser jogados no mar com uma pedra atada no pescoço. Conheci o maior dos méritos: o obtido pelo dinheiro, pelo apadrinhamento, pelas influências ilegais. Contemplei, abismado, o triunfo da imbecilidade, de tudo o que é fútil e vazio, das frívolas aparências enganosas, das “artes” mais desprezíveis, das degenerações psíquicas mais rasteiras, dos sentimentos mais baixos, dos pensamentos mais inúteis, da perversidade, do mau-caratismo, da corrupção em todos os sentidos, da aniquilação impiedosa de todo um planeta... Bom, já basta.
Sentindo em minha alma todo esse horror, não pude mais manter a bondade e a nobreza em meu coração. Os meus sentimentos foram se modificando sombriamente, e com eles a minha mente. Eu sempre fora uma pessoa de grande inteligência. Apesar de alguns me julgarem ingênuo, eu não o era. Inocente, talvez, mas nunca ingênuo. E essa minha assombrosa inteligência fez de mim um assassino que jamais deixou pistas...
A inteligência, a sagacidade, a perspicácia, em si, não são virtudes. São armas. E como armas, elas ajudaram-me a atingir meus objetivos. Antes disso, minha inteligência me demonstrou que por mais bem que façamos em meio a esta sociedade, sempre será tudo completamente inútil para atingirmos o que chamamos de felicidade. Ninguém dará valor para o que exista de realmente bom em nós.
Demonstrou-me também que tudo aquilo de mais belo que sonhei em minha existência, meus anseios mais sublimes, meus ideais, minhas esperanças, enfim, estão condenadas ao fracasso. Porque não posso me imaginar feliz em um mundo onde exista só eu. E como as outras pessoas não estão interessadas nem em meus sonhos, nem em meus anseios, ideais ou esperanças, mas apenas nos seus, que invariavelmente diferem substancialmente dos meus, não posso esperar que elas venham ajudar a concretizar o que desejo. Por que querer que o mundo atenda ao que a ele pedimos? O mundo, a humanidade, não se importam nem um pouco conosco. Não há sentido nisso. De modo que, em meio a um mundo e a uma vida sem sentido, acabei também por perder o sentido da minha existência. E procurei outro sentido em viver: o de matar.
E para matar da melhor forma possível, fiz uso da minha grande inteligência, dessa arma que pode ser usada tanto para o bem quanto para o mal. Einstein usou sua inteligência superior para o bem. Hitler, para o mal. Pelo menos, é o que conta a história. No entanto, mesmo sem Einstein desejar, ele contribuiu para a bomba atômica. E Hitler, antes de cometer suas atrocidades, reergueu a Alemanha e encheu de força o seu povo. De modo que há uma fronteira muito tênue entre o bem e o mal. Eu, irão dizer as pessoas, escolhi o caminho do mal. No entanto, para mim, o meu mal era uma forma de justiça.
Seja como for, a verdade é que me tornei um assassino frio e cruel. Mas que matava me utilizando de cuidados e critérios absolutamente refletidos com larga antecedência. A minha capacidade de premeditação para que meus crimes jamais fossem descobertos era realmente espantosa, devo confessar. Dizem que a astúcia é a maior virtude do diabo... Talvez, seja.
Os assombrosos desgostos de minha existência foram encharcando da mais negra amargura o meu coração. E vendo a vida com esses olhos congestionados de funesta amargura, transformei-me em um poço fatal de ódio. Contudo, não foi aquele ódio irracional, de fazer ferver o sangue, de agir impensadamente apenas para satisfazer-se de forma intempestiva. Meu ódio era um ódio perfeitamente frio, racional, calculado, controlado pela força de minha mente. Em nenhum momento eu deixei transparecer a profunda malignidade que se ocultava em minha psique.
O demônio não seria demônio se fosse sincero. De forma que criei para mim a mais perfeita das máscaras. Estou aqui confessando que modifiquei minha psique integralmente. De um indivíduo originariamente bom, tornei-me um assassino em série. Porém, ninguém nunca soube disso. Sim, para todos, absolutamente todos, eu continuava sendo aquele jovem bondoso, terno e inocente. Nunca ninguém desconfiou de mim, ainda que muitos suspeitassem que eu não fosse tão bondoso quanto aparentava, conforme já explicitei. Mas daí a imaginar que eu pudesse ser um assassino, seria um absurdo que jamais passou pela cabeça de ninguém. E assim, aquilo que antes em mim era sincero, a minha bondade, passou a ser o melhor disfarce para manter-me incólume enquanto matava sem levantar a mínima suspeita.
Tornei-me a mais hipócrita e dissimulada das pessoas e aniquilei com toda a minha espontaneidade e naturalidade. Toda e qualquer palavra que eu dissesse em meio a outras pessoas era perfeitamente refletida antes. Não ia a qualquer lugar sem prever antecipadamente o que lá poderia ocorrer. Não me relacionava com nenhuma pessoa sem ter algum interesse em vista. As expressões do meu rosto eram sempre calculadas, assim como meus gestos, como meus olhares, como minhas ações. Nenhum acontecimento externo era capaz de me abalar aos olhos dos outros, procurava ao máximo manter uma calma gélida, ainda que por dentro eu me sentisse profundamente perturbado. Nada do que eu sentia verdadeiramente eu deixava transparecer, absolutamente nada. E assim, executando esse sórdido papel com maestria, permaneci sempre acima de qualquer suspeita. Eu não era aquela pessoa bondosa e ingênua? Pois bem, então que assim todos continuassem pensando a meu respeito...
Como já disse, executava meus assassinatos com extremo sangue frio e sentia um imenso prazer em matar. Mas não matava sem objetivos. Muito pelo contrário, minhas vítimas eram escolhidas com absoluta premeditação, e minhas escolhas tinham como objetivo realizar uma espécie de justiça particular. Primeiramente, eu escolhia aquela pessoa que eu mais odiasse no momento, e especificava para mim mesmo, de forma bastante analítica, os motivos do meu ódio. E tais motivos eram, para mim, perfeitamente justos. Não me preocupava se os demais iriam me condenar pelos meus atos impiedosos de dissimulação e de violência. Então, procurava assassiná-la da melhor forma possível, tirando o máximo proveito.
Mas o que seria esse “tirar o máximo proveito”? Primeiramente, consistia em matar sem deixar a mínima pista, no que sempre obtive êxito completo. Em um segundo momento, a minha vítima deveria sempre saber que eu seria seu assassino, e saber também dos motivos que me levaram a matá-la. Deveria saber que seria uma forma de vingança, de diabólica justiça. E, finalmente, eu deveria obter algum benefício espiritual daquelas pessoas que tirava a vida.
Agora chego a um ponto ainda mais absurdo. O fato é que principiei a estudar profundamente a magia negra. E com meus estudos, descobri que havia uma forma de fazer com que a alma do ser humano que eu matasse se transformasse em algo como uma escrava minha, permanecendo ao meu lado e comunicando-se comigo telepaticamente, alertando-me de perigos, de possíveis armadilhas da polícia e informando-me das prováveis formas de cometer meu próximo homicídio. Essa alma somente deixaria de ser minha escrava, seria liberta, após eu matar outra pessoa, utilizando-me da prática de magia.
Talvez, aqui me acusem de uma completa loucura. Não sei, é possível, não direi que não. No entanto, o que é a loucura? Não seria a inteligência suprema, como diria Poe? Ou, se não é o meu caso, talvez seja simplesmente uma forma extrema de perversidade específica, que tanto se fortaleceu que acabou por tomar o controle da psique de determinado indivíduo. Dessa forma, naquela semente de mal que há em cada um de nós, há também o gérmen da loucura. Qualquer um pode enlouquecer, basta que esse gérmen seja alimentado pelas adequadas circunstâncias exteriores.
Eu, sinceramente, não sei se enlouqueci. Porém, se isso ocorreu, foi-me de uma íntegra utilidade. Sim, utilizei-me da magia negra. Seria magia mesmo, ou eu simplesmente tinha alucinações com as pessoas que matei, imaginando que elas estavam ao meu redor alertando-me de perigos? É possível que tais informações que os supostos espíritos me transmitiam fossem, na verdade, criadas pela minha própria inteligência, e eu, alucinado, enfermo, atribuísse às almas dos mortos. Mas também é possível que fossem elas mesmas, a sensação de realidade era indiscutível. Não sei, e ninguém pode garantir nem uma coisa nem outra. Cada um apenas elaborará a sua limitada teoria. O que sei, é que, realizando a prática de magia negra, tudo funcionou perfeitamente. Fosse sugestões de minha loucura, fosse realidade, o fato é que, quatro dias após a morte de minha primeira vítima, eu ouvi, ou julguei ouvir, sua voz em tom de submissão em meus ouvidos.
Não irei, obviamente, realizar uma lista de todas as pessoas que assassinei ou esclarecer os motivos e circunstâncias de suas mortes. Limitar-me-ei a falar algo sobre a primeira e a última delas. Tinha 27 anos quando cometi meu primeiro assassinato. Estou hoje com 41 anos. Nesses 14 anos, matei 32 pessoas. Como disse, escolhia minhas vítimas pelo grau de ódio que por elas alimentava. Sempre assassinava quem eu mais odiasse em determinado momento. Realizada a escolha, elaborava um plano praticamente perfeito para levar a cabo minhas intenções. O primeiro passo era, invariavelmente, tornar-me, através de minha insuspeita e extrema dissimulação, amigo de minha futura vítima. E um amigo de absoluta confiança. Depois disso, o resto consistia em estudar o terreno para o assassinato e aguardar o mais adequado momento...
Conheci minha primeira vítima através de um de meus primos, era um seu colega de trabalho, daqueles homens arrogantes irritantemente insuportáveis. Antes de conhecê-lo, já havia decidido de forma definitiva, há semanas, que iniciaria minha senda de crimes, apenas aguardava qual seria a primeira vítima, aquela para a qual eu pudesse direcionar toda a violência luciferina do meu ódio. Não direi que, antes de tomar essa extrema decisão, não tenha tido ataques de consciência, que não tenha titubeado... Sim, o fiz, e, então, pensei em Deus.
Havia duas possibilidades. Ou Deus existe ou não existe. Se existe, deve ser justo e misericordioso. Sendo assim, saberá entender, talvez até perdoar, tanto os meus assassinatos quanto o uso da magia negra para melhor executá-los. Verá o quão justos seriam os meus atos homicidas. Além do mais, entenderá o quanto fui empurrado para o crime pelos próprios homens, por toda a humanidade. Aqui, lembro daquela frase de Brecht: “Dizem que são violentas as águas de um rio que tudo arrastam; mas não dizem que são violentas as margens que o aprisionam.” Isso, Deus, se existe, saberá entender, ainda que os homens não entendam. Mas, se Ele não existe, bem, então, nesse caso... Por que não deveria matar, se eu estava certo que a “justiça” humana jamais me pegaria?
Mas, como dizia, esperava ansioso por minha primeira vítima, e a encontrei. Aquele imbecil que se julgava autossuficiente era perfeito para ser odiado. Devo esclarecer que a questão de odiar supremamente para matar não era apenas uma escolha pessoal, embora também o fosse. A prática de magia negra que eu realizaria no instante do homicídio, para resultar em sucesso, exigia que o assassino odiasse verdadeiramente sua vítima. Ah, e como eu odiava aquele idiota... Necessitei exercer a um nível extremo o meu autocontrole e a minha frieza para não o matar antes de me tornar seu falso amigo, e assim pôr tudo a perder.
Minha primeira vítima era um ser realmente desprezível. Possuía dinheiro e muita cultura, um excelente emprego, uma ótima reputação na sociedade. De modo que se julgava o melhor dos homens. Acreditava fanaticamente ter razão em tudo o que dizia. Aliás, a razão, a verdade, para ele, era sua propriedade privada. E ai de quem discordasse. E, diga-se de passagem, foi assim que me tornei seu melhor amigo. Nunca discordava dele. Hipocritamente, eu confirmava todas suas rançosas ideias, opiniões livrescas, conceitos medíocres, preconceitos eivados de uma falsa sabedoria , enfim, eu limitava-me a declarar: “aham, tu estás coberto de razão!” Para que eu discutiria? Primeiro, que nada modificaria suas certezas, segundo, que meu objetivo era matá-lo, não empurrar doutrinas goela abaixo.
Ah, e como o mataria com prazer, aquele sábio de araque, que se acreditava superior a todos os outros, um pavão disfarçado de monge franciscano, gotejante de orgulho, querendo aparentar humildade e simpatia, quando, na verdade, bastava mirar em seus olhos para se perceber a viscosa vaidade que o arrastava. Andava sempre com um oblíquo sorriso no canto da boca, derramando superioridade e autossuficência vazias, com a mente abarrotada de teorias inúteis, sem nem saber as causas do seu próprio sofrimento, julgando ter a solução para todos os problemas da humanidade, quando não tinha nem a solução dos seus. Desejava que todos pensassem como ele, pois, fora de suas ideias, não podia haver nenhum outro pensamento válido, e ironizava, inchado de soberba, aqueles que pensavam diferente. Ah, só eu sei o prazer imenso em que me deleitei quando coloquei a pistola na sua testa e fitei os seus olhos de parvo implorante...
Matei-o alguns meses depois do início de nossa “amizade”. Necessitei de uma paciência de Jó para suportar todo esse tempo fingindo concordar com todas suas baboseiras intelectualizadas. Aconteceu em uma noite sem lua, como quase todos os meus assassinatos. Não há nada de místico nisso, era apenas para evitar ser visto à luz do luar. Eu sempre escolhia as noites mais obscuras. Obviamente, com grande antecedência, escolhia a mais apropriada noite para o crime, escura, sem movimentação nas ruas (geralmente nas madrugadas de segunda para terça, durante o inverno) e quando sabia que a polícia estava muito ocupada com algum crime de elevada importância. Logicamente, procurava me garantir que a vítima estivesse sozinha em casa. Minhas vítimas, na maioria das vezes, moravam sozinhas. É claro que eu já avaliava esse detalhe antes de escolher quem mataria. O momento mais propício, que comportasse todos os quesitos mencionados, poderia demorar a chegar. Mas eu era paciente.
Eu havia comprado duas pistolas e um silenciador no mercado negro. Isso, vários meses antes de cometer o primeiro crime. Naquela noite, levei os três artefatos comigo, nos bolsos do sobretudo. Vesti minhas luvas. Não estava nervoso. Talvez, apenas excitado pelo momento de triunfo que se aproximava. Fui a pé até a casa de meu “amigo”, esgueirando-me pelas sombras das ruas. A quietude naquela noite fria era completa. Estava praticamente certo que ninguém me vira. Bati suavemente em sua janela, sabia que ele tinha um sono bastante leve. Imediatamente, acordou. Declarei que precisava falar com ele sobre algo muito importante. Meu amigo abriu a porta, estava bastante surpreso e parecia um pouco preocupado.
Entrei e sentei-me calmamente na sala. Ele perguntou do que se tratava, deveria ser algo grave para eu estar lá naquela hora, com aquele frio. Procurei tranquilizá-lo, dizendo que não era algo realmente grave, mas apenas uma informação importante que soubera há pouco sobre ele e que julguei adequado transmitir-lhe o mais rápido possível. Perguntou curioso e tenso qual seria a informação. Declarei que havia alguém que o odiava infinitamente. Ele questionou-me, visivelmente nervoso, quem seria, e o porquê de tanto ódio contra ele. Antes de continuar, pedi para ir ao banheiro. Fui. Lá, coloquei o silenciador na pistola e guardei-a novamente no bolso do casaco.
Tão logo retornei, comecei a explanar os motivos de alguém o odiar tanto, aqueles meus motivos já mencionados. Meu amigo ficou atônito, não parecia acreditar. Garanti-lhe que era verdade. Perguntou com ansiedade e autoritarismo quem seria a pessoa. Meu ódio por aquele soberbo imbecil atingiu então o auge. Disse, friamente, que preferia lhe dizer ao ouvido. Levantei-me com arrastada calma, para intencionalmente lhe irritar, e sussurrei: “sou eu”. Tirei a pistola do casaco e encostei o cano com o silenciador no centro da sua testa. Ele julgou que eu estivesse brincando e esboçou um abjeto sorriso amarelo. “Mas o que é isso?” perguntou, ainda sorrindo. “Além de idiota, é cego?” retorqui ferozmente. Finalmente, ele se deu conta do que estava acontecendo. Então, por um átimo, pude ver o medo real e suplicante em seu olhar, até então sempre vidrado de orgulho. Mas antes que ele tivesse tempo de soltar um grito imundo, desferi dois tiros na cabeça.
Cuidei para que nenhum respingo de sangue ficasse em minha roupa. Em seguida, sem perder a calma em nenhum momento, limpei a arma com um pano que ali estava e a tornei a guardar no casaco. Era o momento da prática de magia negra. Sua execução não levou mais que 7 minutos. Até porque o seu ponto principal era assassinar uma pessoa sentindo-se um ódio extremo pela mesma. E isso, já fora feito. Restava pronunciar as fórmulas e mantrans secretos e realizar algumas gesticulações estranhas. Concluí o breve ritual e voltei para casa sorrateiramente. Agora, eu era um assassino. Sentia-me bem. E, se a magia negra estivesse certa (ou a minha loucura), dentro de quatro dias eu teria a alma daquele idiota servindo-me como uma escrava...
Na manhã do 4º dia após meu primeiro assassinato, acordei-me com a sensação de que não estava só. Permaneci todo o dia com essa mesma sensação, sabia que essa “companhia” deveria ser a alma da minha vítima. No princípio da noite, julguei ouvir uma voz que soava como que distante, em tom frio e melancólico, que repetia lentamente: “Estou às suas ordens... Estou às suas ordens...” Pude reconhecer, com alguma dificuldade, a voz de meu antigo “amigo”. Disse a essa voz que desejava tão somente que ela me alertasse de todos os perigos que pudessem me levar às armadilhas da polícia, bem como auxiliar-me na escolha de minha próxima vítima e dar-me conselhos relativos à maneira mais inteligente e segura de matá-la. A alma limitou-se a declarar, lugubremente: “sim, senhor”. Afinal, o interesse maior dela era ser liberta, e, para isso, eu deveria obter uma alma-escrava substituta, ou seja, cometer um outro homicídio. E mesmo que ela quisesse se rebelar contra mim, de acordo com a magia negra isso não seria possível. Era, inexplicavelmente, obrigada a me servir da melhor forma.
Já afirmei aqui que não sei se esse fato insólito, sinistro, foi realmente efeito da magia negra ou simplesmente alucinações de uma mente enferma como a minha, que atribuía as sagazes conclusões de sua própria inteligência à algum espírito exterior. Admito ser um homem doente, e aquelas pessoas que conhecerem esta história não terão dúvidas em classificar-me como tal. Mas isso não me importa em absoluto, ainda mais agora. O que importa é que realizei a prática e, talvez por efeito real, talvez por mera sugestão psíquica, quatro dias depois passei a ouvir a voz de minha vítima, e a verdade é que durante os meses que antecederam meu segundo assassinato, todos os alertas e auxílios que ela me forneceu (ou eu mesmo o fiz, inconscientemente) consistiram em informações perfeitamente válidas.
E assim, fui prosseguindo minha senda de assassinatos através dos meses, dos anos. Jamais deixava a mínima pista. Minha aparência de bondade e ingenuidade aliada à minha inteligência mantinha-me sempre acima de qualquer suspeita. Porém, mesmo assim, a polícia suspeitou de algo, logo após meu quarto crime... Ela estava profundamente intrigada com aquelas mortes. Afinal, não se encontrava nenhum motivo para os assassinatos. As pessoas que eu matava geralmente possuíam uma considerável condição financeira, no entanto, nenhum roubo era constatado. Também eram pessoas de aparentes boas relações na sociedade, não tinham inimigos conhecidos ou suspeitos, não se envolviam em confusões, fossem em disputas econômicas, profissionais ou amorosas... Enfim, por que alguém as mataria?
De modo que a polícia desconfiou de que eu tivesse algo a ver com os crimes, pois, para eles, não podia ser simples coincidência o fato de que alguns meses depois de eu me tornar amigo das vítimas, elas fossem assassinadas. Ou eu mesmo cometia os homicídios, ou devia ser cúmplice. Foi o que me disse, em um tom de quase brincadeira, o detetive, quando esteve em minha casa para investigações. Tentava fazer com que eu caísseem contradição. Declarei, com extrema calma e indiferença, sem deixar de ser simpático, que ele poderia fazer qualquer tipo de investigação em minha vida, em minha casa, em minha profissão. Perguntou se eu tinha ou já tivera uma arma. Retorqui quem nem ao menos sabia atirar. Claro que ele não se convenceu, o detetive era um homem astuto. Afirmou que no momento era apenas uma averiguação de rotina e que não tinha nenhuma prova contra mim, nem sequer algum indício, fora o já mencionado, mas que alguma coisa em sua intuição dizia-lhe que eu tinha algum tipo de relação com os crimes... Ele voltaria. Nesse instante, tentei demonstrar algum embaraço alguma preocupação, um leve nervosismo, explanando, com certa indignação, que era um absurdo ele desconfiar de mim, alguém tão fiel às suas amizades. Creio que gaguejei ao me despedir, intencionalmente. Como percebi que o policial era alguém inteligente, se eu demonstrasse exagerada frieza, aí sim levantaria mais suspeitas, pois não condiziria com meu caráter terno e bondoso.
Decidi, daquele ponto para frente, tentar corrigir o único ponto ainda débil em meus crimes. Não poderia fazer apenas uma nova amizade e meses depois assassiná-la. Deveria fazer várias amizades, para matar apenas uma. Assim, não poderiam dizer que eu mataria a pessoa que se tornasse minha amiga. Tornei-me então uma pessoa de vasta vida social, saía quase todas as noites, frequentava clubes, academias, enfim, tornei-me conhecido e, com meu carisma, simpatia e boa-vontade para com os outros, não foi difícil realizar várias amizades ao longo dos anos. Claro que sempre auxiliado, em todos os instantes, por minha alma-escrava, que já era a quarta.
E os anos foram passando e os crimes aumentando em número. O detetive voltou algumas vezes à minha casa, mas nunca pôde nem mesmo realizar uma busca, pois não conseguia encontrar nenhuma pista real contra mim que suscitasse uma ordem judicial. Limitava-se a me fazer perguntas intimidadoras, até que, não obtendo nenhum resultado, desistiu. Não imaginava ele que minhas armas estavam em uma panela de alumínio na cozinha, que ficava dentro de seu campo de visão, ao sentar-se no sofá da sala. Sim, em uma panela sobre uma pequena mesa, totalmente visível. No fundo, estavam as armas, dentro de um saco plástico, cobertas por uma grande quantidade de arroz. Quem desconfiaria de uma inocente panela de arroz?
E fui assassinando, assassinando, até que cometi meu 32º crime. Então... então algo absolutamente imprevisto aconteceu...
O homem vive como um pêndulo, ora oscilando para o mal, ora para o bem. Com qualquer ser humano é assim. A diferença são as extremidades que o pêndulo atinge. Alguns atingem o máximo, como foi o meu caso. A maioria das pessoas permanece em oscilações relativamente pequenas. Mas oscilam. Quem pode declarar que é o mesmo todos os dias de sua vida? Ou em todas as horas de um mesmo dia? A verdade é que oscilamos entre o bem o mal a todo instante. E se não chegamos a concretizar esse mal através de nossos atos, é certo que o fazemos na mente, no coração. E eu, um homem de extremos absolutos, oscilei mais uma vez. Talvez por pouco tempo, mas oscilei...
O que ocorreu que para mim foi completamente imprevisto é que me apaixonei. De forma sublime, talvez. Não vou aqui encher linhas e linhas de como foi que a conheci, e como se desenvolveu o nosso relacionamento. Não há necessidade. Digo apenas que aquela mulher dominou por completo meus sentimentos e pensamentos naquele dias, e acreditei, por suas inquestionáveis demonstrações, que eu era correspondido. Poucos meses após meu 32º assassinato, estávamos namorando. A felicidade divina desse amor correspondido afastou de minha alma a plenitude do mal que até então me dominara.
Não desejava mais matar, não sentia ódio por nenhuma pessoa, parecia ter retornado à minha alma aquela antiga bondade e ternura de minha juventude. Meus únicos intentos era amar aquela mulher magnífica. Porém, o peso da sombra é sempre imenso. De nada adiantaria me arrepender de meus atos hediondos. Sempre ao meu lado, estava a alma da minha última vítima, ou então a minha loucura, a minha doença personalizada. Tratava-se, minha última vítima, de uma mulher ridícula de vaidade e antipatia, dona de um salão de beleza. Eu a matei com três tiros no rosto. Um deles, o primeiro, perfurou um de seus olhos. Agora, ela era minha escrava, auxiliando-me a me manter distante de todos os perigos e evitando que eu deixasse qualquer indício de meus crimes anteriores.
Porém, aquela alma-escrava almejava sua liberdade. E para isso, já é sabido, eu deveria cometer um outro crime e realizar o ritual de magia negra, para que a alma da nova vítima a substituísse. Porém, como também já é sabido, deveria matar com um verdadeiro ódio, um ódio supremo. E justamente aí se encontrava o problema. Eu não odiava mais ninguém. Não conseguia odiar. E assim, mesmo que eu assassinasse alguém, não faria efeito nenhum no sentido de libertar a alma daquela mulher. Eu estaria, assim, condenado a viver o resto dos meus dias com o espírito daquela vítima ao meu redor.
No entanto, algo que não previ ocorreu. A alma-escrava não era tão escrava assim. Ela percebeu que eu não conseguia mais odiar e, consequentemente, matar. Então, ela passou a tentar incutir em mim, com suas sugestões venenosas, novamente aquele ódio que eu abandonara. Porém, meu sentimento por minha namorada era sempre mais forte. Então, a alma-escrava compreendeu que eu somente poderia voltar a odiar se não mais nutrisse aqueles sentimentos por minha amada. A partir desse instante, eu ouvia a toda hora os seus sussurros demoníacos contra a mulher que eu amava.
E os argumentos daquela alma eram perigosamente convincentes. Incutia-me ela que tanto o meu sentimento quanto o de minha namorada não consistiam no amor verdadeiro. Tratava-se tão somente de uma paixão intensa, porém passageira, que cedo ou tarde acabaria, como todas as outras paixões. E depois que passasse, o que me restaria? O sabor amargo da desilusão, a dor insuportável da solidão impiedosa, a vacuidade de todo um sentimento cultuado ao absurdo, a queda fatal de um voo inconsequente. E quem garantiria que a mulher que controlava o meu coração não o fazia por um interesse mesquinho, que nada teria a ver com o amor? Afinal, sou agora um homem com posses, com uma bela posição social, respeitado, admirado por todos. Não seriam tais atributos os que realmente conquistaram a minha amada, e não o amor que meu ser pudesse nela despertar? Aos poucos, as dúvidas foram se multiplicando em meu coração...
Estaria eu, um homem de uma extrema frieza e astúcia sendo pela primeira vez sendo ludibriado, e por uma simples mulher? Não, não, isso eu não poderia permitir. Deixá-la no controle da situação, para depois ela se apossar de meus bens, crescer na sociedade através de minha influência e então me abandonar? Talvez para ficar com outro... E se ela já tivesse outro? Sim, isso era bem possível, afinal meu sentimento por ela era tão intenso que eu jamais perceberia. Estava cego. Ela era amável demais comigo... Demais para o ser com sinceridade. Sim, ela tinha segundos interesses...
Os dias passavam sombrios e angustiados, e eu principiei a odiar a minha amada. Sim, minha mente me convenceu de que o amor que ela dizia ter por mim ou era uma farsa ou estava com seus dias contados. De qualquer forma, seria absurdo alimentar tal sentimento. Sou um homem do século XXI. Devo seguir a mente, a razão, os argumentos racionais. O coração já nada tem a me dizer... O que farei com os seus ditames? Podem ser muito belos, sublimes, divinos, mas não me levarão a lugar algum a não ser ao sofrimento. Quase que me convenceram, quase caí em suas armadilhas, fiquei dividido, mas a razão venceu a batalha. Nosso tempo decretou a morte do coração, a morte do sentimento. Sentir, agora, é motivo de piada. Não serei eu que farei papel de palhaço.
Sim, decidi matá-la. Quanto mais refletia, mais percebia que minha alma-escrava estava certa em tudo. Dou graças... ao diabo, talvez, ou talvez à minha loucura, por tê-la comigo.
Em uma noite sem lua, fui armado à casa de minha namorada. Tinha a chave da casa. Ela dormia em sua cama. Como era bela... Eu a acordei carinhosamente. Ela não entendeu por que eu ali estava. Esclareci que eu havia descoberto que alguém a odiava, e expliquei-lhe os motivos. Falei como se a pessoa descoberta fosse alguém do seu passado, um antigo namorado. Ela declarava, entre atônita, indignada e nervosa, que isso era um completo absurdo, que jamais se comportou ou se comportaria daquela forma com qualquer namorado, que ela sempre fora e sempre seria absolutamente sincera em seus sentimentos. Queria saber quem era a pessoa, o porquê dela ter dito aqueles horrores a seu respeito e o que eu estava pensando sobre tudo isso. Retorqui que isso eu não poderia dizer, pelo menos por enquanto.
Não sei se por desespero, por raiva, por culpa, ela começou a chorar. Fiquei alguns minutos em silêncio aguardando que ela cessasse seu choro. Quando o fez, levantei-me calmamente do sofá e dirigi-me aos seus ouvidos, sussurrando gravemente: “sou eu que te odeio, minha querida...” Apontei a arma em sua direção. Ela emudeceu. Gaguejando, disse que não podia acreditar no que estava acontecendo. Creio que tentou gritar, mas não conseguiu. Depois, perguntou com dificuldade e suando frio se era algum tipo de brincadeira de mau-gosto. Exclamei que nunca estive tão sério em toda minha vida. Disse-lhe que os motivos de eu a matar estavam bem claros, eu já os havia proferido em sua totalidade. Sabia que ela não me amava. No desespero, balbuciou que fosse quem fosse que me tivesse dito tudo aquilo, era uma mentira deslavada, motivada certamente por inveja de nossa relação. Com extrema frieza, garanti-lhe que não acreditava em uma só palavra do que ela me dizia. Grossas lágrimas principiaram a correr por sua face pálida. Exclamava, em desespero: “Meu Deus! Meu Deus! Tu enlouqueceste completamente, como podes não acreditar que eu te amo, eu te amo!!! Eu permanecia frio, com a arma apontada para seu peito.
Em uma última tentativa, aos prantos, balbuciou: “Tudo bem, tudo bem... se tu não acreditas nas minhas palavras, então, olha para meus olhos... Olha, olha bem para eles, eles te dirão que eu te amo...” Eu os fitei profundamente... seus lindos olhos agora congestionados de sangue e lágrimas... Creio que também chorei, não lembro. E desfechei quatro balaços em seu coração.
(...)
Amanhã, serão completadas duas semanas do meu 33º assassinato. No quarto dia após o crime, a alma de minha namorada substituiu a da antiga vítima. E desde então, a minha nova alma-escrava não para um segundo sequer de chorar. Não aguento mais esse tormento nos meus ouvidos...
Hoje, quando acordei pela manhã, ouvi cantos de pássaros que nunca havia ouvido. Cantos belíssimos. Vinham de meu jardim. Por um momento, fiquei feliz ao ouvi-los. Pensei: “esses pássaros desconhecidos no meu jardim... isso é sinal de que a fauna está se recuperando”... Porém, refleti melhor e dei me conta que não é isso, pelo contrário. Aqueles novos pássaros cantando em meu jardim significam que eles não têm mais matas para viver. Então, o desespero voltou a tomar conta de mim, e voltei a ouvir o choro incessante da minha alma-escrava...
Agora, estou aqui, acabando de escrever esta minha história. Não suporto mais a alma da minha antiga amada chorando ao meu redor. O que ela quer afinal? Encher-me de culpa? Já disse que sim, que a amo, mas não adianta, ela não para de chorar um instante, e eu não aguento mais. Por isso estou aqui, agora, pronto para cometer o meu 34º assassinato e libertar a alma da minha amada. Tão logo acabe esta história, engendrarei outro crime. Aliás, já acabei. O que mais necessita ser contado?... Ah sim, já realizei o ritual de magia negra. Porque depois do crime, não poderei fazê-lo. Não poderei, porque a pessoa, neste momento, que eu mais odeio, sou eu...
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