PERDIDO NA ESCURIDÃO "1"

O ar frio e rarefeito misturado com a fragrância de gelo e rocha proporcionava a André, durante a queda inalterável,um estranho e sombrio prazer.

A ATMOSFERA DO AMBIENTE ERA ESCURA E DENSA. UMA MESCLA DE SILÊNCIO E FRIA UMIDADE DOMINAVA O RECINTO, OCASIONANDO ESPANTOSA MELÂNCOLIA. UM FINO NEVOEIRO COBRIA O CHÃO DE MADEIRA PODRE ONDE VIOLENTAMENTE ANDRÉ SOBREVEIO.

Com a volúpia do impacto, o pobre homem, em golfadas de sangue procurava inutilmente localizar-se. Os olhos trêmulos, as pupilas dilatando-se. Os dedos inúteis tentavam significar os colmilhos perdidos, Enquanto o desespero expresso pela face explicitava o estado da alma.

O véu fino da névoa, como uma teia insolúvel, turvava-lhe a visão que entre titubeares conseguia uma distinção singela do local onde estava.

O ambiente era pesado como se o oxigênio ali presente estivesse repleto de um gás mais denso, causando ao jovem, uma respiração pesada e arqueada.

Ante a limitação da visão, a audição aguçou-se, sendo possível André, agora,ouvir nítido tilintar de algo que pareciam ser talheres e, também estridentes, senão enlouquecedoras, gargalhadas que pareciam advir de um cômodo ao lado. Tal ocorrência causou antes de tudo temor, pois as vozes pareciam disformes, desconexas e imprecisas; sendo ao mesmo tempo altas e baixas, agudas e graves.

Talvez pelo impacto sofrido, André raciocinava que seus sentidos básicos de percepção momentaneamente falhavam. Assustado por essa ineficiência, logo se pôs a gritar com desespero exacerbado por alguma ajuda.

Enquanto esbravejava verificou, com algumas tentativas, que de fato não possuía forças para se levantar,na verdade somente delicadamente podia mexer-se;tal episódio auxiliou a ampliação magnânima do seu desespero.

Na tentativa de ser ouvido, gritou com forças que rapidamente esvaeciam. Agravando seu desespero, percebia não haver respostas, tão pouco qualquer ajuda, reinava apenas o recursivo tilintar dos talheres e as indescritíveis e estrondosas risadas provenientes do recinto ao lado.

A visão aos poucos fora se firmando, proporcionando, a André, a nebulosa e amedrontadora visão de estar em local nunca antes visto. A localidade apresentava muita pouca luz, esta advinha com forte brilho amarelado de infindas frestas nas paredes, incidindo e contracenando com a névoa reinante.

Pouco se podia ver .

Desfigurado pelo sangue que lhe desenhava a face, desistiu dos gritos infrutíferos, decidindo empenhar-se em reabilitar o senso de localização e estabilizar os músculos de uma forma a elevar-se sem muita dor. Após incontáveis tentativas conseguiu, cambaleante, firmar-se nas pernas trêmulas e dolentes.

Os olhos esbugalhados direcionavam-se confusos na escuridão indefinida do recinto.

AS RISADAS, OS TILINTARES DOS TALHERES CONTINUAVAM... PAIRAVAM SINISTRAMENTE NO AMBIENTE;GUIANDO-SE DISFORME COMO A NÉVOA SOMBRIA QUE OS ENVOLVIA.

“Que lugar é este?” “Essas risadas?” “Essa névoa?” Pensava, André, entre lapsos venenosos de dores musculares.

Os olhos que vagavam desesperançosos entre a escuridão logo se direcionaram para os pequenos fachos de luz proeminentes das paredes que os aprisionavam, proporcionando a estes, senão um pouco de expectativa; alguma curiosidade libertatória.

André, com receio aflorado e demonstrado pelos movimentos subversivos, prostrou-se vagarosamente frente a uma das frestas iluminadas a fim de observar o recinto vizinho.

Sentiu o olho arder pela exposição à luz, manteve-se estável e, aos poucos, conforme a visão se firmava com o estreitamento pupilar, pode distinguir entre suspiros de pavor o sinistro ambiente daquele recinto adjacente.

O ambiente resplandecia suntuosidade. O vermelho e dourado cintilavam com expressiva predominância, majorarando a sensação de ostentação. Tudo era imenso e admirável, contudo a expressão de

André era antagônica ao que via; seus olhos expressavam visivelmente angustia e pavor, pois visualizavam agora a origem das nefandas gargalhadas: Sentados em torno de imensa e farta mesa, do que aparentemente parecia ser um banquete, os seres causadores do infindo tilintar de talheres e profanadores de inenarráveis gargalhadas eram homens fortes, a maioria com grande barba e barriga saliente, trajavam casacos, chapéus, gravatas,sweteares e camisas de imensurável luxuosidade e valor. Contudo o apavorante eram seus movimentos, estes irreais e imprecisos. Diferentes em todos os momentos. Alguns dos compartes eram lentos e imprecisos, demoravam vários minutos para levantar uma das esculpidas taças que enfeitavam a mesa. Uma destas, derrubada por um obeso e suado participe, demorou o tempo de pega-la umas vinte vezes antes que caísse no chão estilhaçando-se avermelhada, já outros bebiam e comiam tão rapidamente que mal se podia seguir-lhes os movimentos; os pratos e as taças eram supridos e amainados tão rapidamente quanto eram recompostos.

As gargalhadas e os tilintares permaneciam, disformes e mostravam-se conforme o emissor: os que se movimentavam rápido a risada expunha-se aguda e irritante, se o contrário, definia-se grave e às vezes quase inaudível, como se proviesse de outro recinto ou de algum personagem oculto no aposento.

Retido em profundas indagações sobre aquela impossibilidade que visualizava, André saltou surpreendido, ao ver que ao seu lado, escondida pela escuridão, uma porta vagarosamente abria-se deixando escorrer amarelejada luz sobre a densa névoa reinante.

Olhou timidamente tentando conhecer o destino que aquela saída o levaria, notou após dúzias de espiadelas que ela o levaria para a sala que há pouco observara.Temeu por ter que adentrar àquele recinto irreal, principiou várias vezes, retrocedendo apressadamente em seguida. Por fim decidiu ficar onde estava e aguardar o término do nefasto banquete que prosseguia hílare no recinto ao lado.

Continua

J Victor

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J V I C T O R
Enviado por J V I C T O R em 16/11/2010
Reeditado em 23/11/2010
Código do texto: T2619370