Sangue na catedral
Fervilhavam mexericos na pequena e pacata cidade, o velho bordel, era alvo de investigações, afinal nas suas redondezas nada mais, nada menos que 4 homens teriam sidos retalhados por peixeiras nas madrugadas sem deixar vestígios dos culpados em nenhum caso.
Eram culpa das moçoilas da vida, uns diziam, outros que era coisa do demônio para purificar a cidade já que todos os falecidos eram dados a noitadas na casa das quengas, verdadeiras delícias na cabeça de boêmios que não deixavam só dinheiro nos muquifos mas a dignidade, mulher e filhos passavam necessidade em casa, enquanto o desnaturado foliava noites e dias nestes antros.
A seca castigava, mas nas frentes de trabalho havia dinheiro para homens e mulheres dispostos a trabalhar de sol a sol, e haviam muitos que, caída à noite, depois do banho corriam levar o suor do dia, para as mariposas.
Sucederam-se as mortes, encharcando o chão seco de sangue e mistério.
5, 6... 8 mortes, mas procurar onde o diabo, se aquela terra era de anjos feitos gente?
Um detalhe conseguiu-se apurar nos bordéis, todos os assassinados estiveram lá, e quando saíram estavam totalmente embriagados, chafurdavam a poeira de bêbados, como diziam naquele fim de mundo, numa referencia ao que fazem os porcos na lama.
Intrigante, além das conversas ao pé do ouvido, havia o medo extremo, e a pergunta: Quem seria a próxima vitima do carniceiro do bordel, como apelidaram o assassino.
No uivo dos lobos as noites eram de suspense, e nas vezes em que fizeram campana nas campinas ao lado do bordel, tudo foi normal, embora houvesse quem diz ter ouvido gritos na madrugada, vinda dos lados do cemitério, nada de concreto para se afirmar.
A geografia de Santa Lucia, o povoado, era suigeneris, a 2 kilometros a estrada serpenteava na planície e a um antes de chegar a cidade, erguiam-se de um e outro lado pequenos morros, para em seguida desaparecerem novamente na planície, e ali ao pé do morro do lado direito estava o bordel.
Do bordel até a cidade pela estrada era 1 kilometro de distância, com um pequeno aclive que impedia para quem olhasse da cidade, ver o bordel e vice-versa.
Para quem chegasse a Santa Lucia, passando o bordel, via uma pequena capoeira a direita e esquerda da estrada, depois a casa de dona Cleta, esposa do primeiro homem assassinado no meio da capoeira ali ao lado, um longo terreno baldio com cabras, e depois as primeiras casas da cidade de 700 habitantes.
Santa Lucia era uma cidade católica que rezava pelos seus mortos, o pároco em suas homilias pedia fé a seus habitantes, apesar do sangue derramado e do sanguinário assassino a solta.
As missas eram as quartas, sábados e domingos sempre a noite, e um dia reservado para as confissões as quintas feiras.
Eram duas horas da tarde, um dia de sol lindo delineado por alto cirrus, e preguiçoso.
Um longo grito progrediu de dentro para fora da igreja e chegou a praçinha em frente, na face horrorizada de dona Matilda, uma senhora que em seus 60 anos parecia ter visto o próprio demônio...
____Oh! Meu Deus... Mataram padre Miltinho, mataram o pobre, meu Deus...
As palavras soaram como uma senha para que todos fossem para dentro da igreja, logo não cabia mais ninguém, foi quando chegou o delegado e foi abrindo caminho até o confessionário.
A poça de sangue que se formou na frente do mesmo dava a dimensão da tragédia...
No lado em que deve ficar o sacerdote, a porta entreaberta, e uma espada atravessada no coração do padre, do outro lado em que devem ficar os fieis, a porta fechada, ao abri-la o delegado notou 2 perfurações de bala no rosto da vítima, e um papel enrolado em sua mão fechada.
Rapidamente ele voltou para o lado do padre, e olhando por cima do corpo viu na mão direita do sacerdote o revolver, experiente, encostando a mão sentiu-o quente, tinha sido usado.
Ao pegar o papel da mão da mulher do outro lado, não teve duvidas, era sim a confissão de uma assassina, com sua assinatura embaixo.
Em seus 20 anos na paróquia o padre conhecia a todos, justamente por causa das confissões.
A mulher que foi morta, já havia se confessado anteriormente, e confessado as mortes ao padre. Não foi ela que matou o primeiro homem, mas do segundo em diante sim, por quê? Porque ela era dona Cleta, o primeiro a ser morto era seu marido, morto pelo primeiro que ela matou, e todos os outros ela matou, porque adquiriu um ódio mortal daqueles trapos que saiam de madrugada da farra, numa felicidade que lhe causava nojo, embora quase sempre para os assassinos em série sejam apenas necessários motivos fúteis para matar.
Ao voltar para a segunda confissão, o padre pediu a Cleta que escrevesse tudo num papel e lhe levasse, subestimando a astúcia da veterana sertaneja, que desconfiada, levou embaixo do vestido a espada, relíquia de seu avô, ex cangaceiro e que ela usou pra matar os homens.
O padre teve a pressão das autoridades para fazer este pedido, apesar de ninguém ainda saber da autoria das mortes, mas ele conhecia a índole desta gente, sempre instável, então se armou naquele dia.
Já dentro do confessionário ao perguntar se Cleta havia trazido o papel, ela sentiu apertar em sua garganta o pressentimento da prisão e não teve duvidas, era tão próximo o corpo do padre que não foi difícil cravar a espada no coração do padre, que ainda vivo, na penumbra do confessionário não teve dificuldade em apertar o gatilho quase a queima roupa na cabeça de Cleta, por duas vezes.
Malgaxe
Fervilhavam mexericos na pequena e pacata cidade, o velho bordel, era alvo de investigações, afinal nas suas redondezas nada mais, nada menos que 4 homens teriam sidos retalhados por peixeiras nas madrugadas sem deixar vestígios dos culpados em nenhum caso.
Eram culpa das moçoilas da vida, uns diziam, outros que era coisa do demônio para purificar a cidade já que todos os falecidos eram dados a noitadas na casa das quengas, verdadeiras delícias na cabeça de boêmios que não deixavam só dinheiro nos muquifos mas a dignidade, mulher e filhos passavam necessidade em casa, enquanto o desnaturado foliava noites e dias nestes antros.
A seca castigava, mas nas frentes de trabalho havia dinheiro para homens e mulheres dispostos a trabalhar de sol a sol, e haviam muitos que, caída à noite, depois do banho corriam levar o suor do dia, para as mariposas.
Sucederam-se as mortes, encharcando o chão seco de sangue e mistério.
5, 6... 8 mortes, mas procurar onde o diabo, se aquela terra era de anjos feitos gente?
Um detalhe conseguiu-se apurar nos bordéis, todos os assassinados estiveram lá, e quando saíram estavam totalmente embriagados, chafurdavam a poeira de bêbados, como diziam naquele fim de mundo, numa referencia ao que fazem os porcos na lama.
Intrigante, além das conversas ao pé do ouvido, havia o medo extremo, e a pergunta: Quem seria a próxima vitima do carniceiro do bordel, como apelidaram o assassino.
No uivo dos lobos as noites eram de suspense, e nas vezes em que fizeram campana nas campinas ao lado do bordel, tudo foi normal, embora houvesse quem diz ter ouvido gritos na madrugada, vinda dos lados do cemitério, nada de concreto para se afirmar.
A geografia de Santa Lucia, o povoado, era suigeneris, a 2 kilometros a estrada serpenteava na planície e a um antes de chegar a cidade, erguiam-se de um e outro lado pequenos morros, para em seguida desaparecerem novamente na planície, e ali ao pé do morro do lado direito estava o bordel.
Do bordel até a cidade pela estrada era 1 kilometro de distância, com um pequeno aclive que impedia para quem olhasse da cidade, ver o bordel e vice-versa.
Para quem chegasse a Santa Lucia, passando o bordel, via uma pequena capoeira a direita e esquerda da estrada, depois a casa de dona Cleta, esposa do primeiro homem assassinado no meio da capoeira ali ao lado, um longo terreno baldio com cabras, e depois as primeiras casas da cidade de 700 habitantes.
Santa Lucia era uma cidade católica que rezava pelos seus mortos, o pároco em suas homilias pedia fé a seus habitantes, apesar do sangue derramado e do sanguinário assassino a solta.
As missas eram as quartas, sábados e domingos sempre a noite, e um dia reservado para as confissões as quintas feiras.
Eram duas horas da tarde, um dia de sol lindo delineado por alto cirrus, e preguiçoso.
Um longo grito progrediu de dentro para fora da igreja e chegou a praçinha em frente, na face horrorizada de dona Matilda, uma senhora que em seus 60 anos parecia ter visto o próprio demônio...
____Oh! Meu Deus... Mataram padre Miltinho, mataram o pobre, meu Deus...
As palavras soaram como uma senha para que todos fossem para dentro da igreja, logo não cabia mais ninguém, foi quando chegou o delegado e foi abrindo caminho até o confessionário.
A poça de sangue que se formou na frente do mesmo dava a dimensão da tragédia...
No lado em que deve ficar o sacerdote, a porta entreaberta, e uma espada atravessada no coração do padre, do outro lado em que devem ficar os fieis, a porta fechada, ao abri-la o delegado notou 2 perfurações de bala no rosto da vítima, e um papel enrolado em sua mão fechada.
Rapidamente ele voltou para o lado do padre, e olhando por cima do corpo viu na mão direita do sacerdote o revolver, experiente, encostando a mão sentiu-o quente, tinha sido usado.
Ao pegar o papel da mão da mulher do outro lado, não teve duvidas, era sim a confissão de uma assassina, com sua assinatura embaixo.
Em seus 20 anos na paróquia o padre conhecia a todos, justamente por causa das confissões.
A mulher que foi morta, já havia se confessado anteriormente, e confessado as mortes ao padre. Não foi ela que matou o primeiro homem, mas do segundo em diante sim, por quê? Porque ela era dona Cleta, o primeiro a ser morto era seu marido, morto pelo primeiro que ela matou, e todos os outros ela matou, porque adquiriu um ódio mortal daqueles trapos que saiam de madrugada da farra, numa felicidade que lhe causava nojo, embora quase sempre para os assassinos em série sejam apenas necessários motivos fúteis para matar.
Ao voltar para a segunda confissão, o padre pediu a Cleta que escrevesse tudo num papel e lhe levasse, subestimando a astúcia da veterana sertaneja, que desconfiada, levou embaixo do vestido a espada, relíquia de seu avô, ex cangaceiro e que ela usou pra matar os homens.
O padre teve a pressão das autoridades para fazer este pedido, apesar de ninguém ainda saber da autoria das mortes, mas ele conhecia a índole desta gente, sempre instável, então se armou naquele dia.
Já dentro do confessionário ao perguntar se Cleta havia trazido o papel, ela sentiu apertar em sua garganta o pressentimento da prisão e não teve duvidas, era tão próximo o corpo do padre que não foi difícil cravar a espada no coração do padre, que ainda vivo, na penumbra do confessionário não teve dificuldade em apertar o gatilho quase a queima roupa na cabeça de Cleta, por duas vezes.
Malgaxe