O corredor

Quando eu era bem mais jovem, há um bom tempo atrás trabalhei em um hospital psiquiátrico aqui em minha cidade.

Não que essa profissão me encantasse, mas eu precisava de um emprego e foi o que eu encontrei na época.

Na verdade trabalhei pouco mais de um ano lá, mas o que eu vi nas noites em que eu dava plantão, permanecem em minha mente até hoje.

Sempre preferi os plantões noturnos por serem mais sossegados e por ter um extra no salário.

Mas com o tempo percebi o porque dos outros funcionarios não gostarem desse horário.

Eu entrava às 22 horas e ficava até às 06 da manhã.

Até a meia noite tudo era tranquilo, mas depois, quando todos os pacientes já estavam recolhidos em seus quartos, era que o problema começava.

Nós, a equipe de enferagem, íamos para o posto para fazermos relatórios e prepararmos medicações.

E não eras incomum ouvirmos vozes, passos, às vezes até alguns gritos abafados.

Percebi então que meus companheiros de trabalho nem se preocupavam com isso.

Comecei a pensar que coisa de minha cabeça e que nada daquilo era real, e também não comentava nada, temendo que rissem de minha cara.

Confesso que sempre me arrepiava ao ouvir essas manifestações.

Numa noite fui escalado para fazer uma visita de rotina aos quartos para conferir se tudo estava certo, se todos estavam acomodados, enfim.

Um frio tomou conta de meu corpo, mas aceitei a tarefa sem problemas.

Ficamos dentro do posto, fizemos o que tinha de ser feito.

E lá pelas 2 horas, entendi que precisava fazer a "ronda".

Já tinha ouvido muitos sons naquela noite e me assustado muito.

O posto da enfermagem ficava no fim do corredor, e os quartos preenchiam as duas laterais, apenas iluminado por uma lampada amarelada bem no meio do corredor.

Lewvantei me e fui abrindo a porta de cada quarto. Devagar para não fazer barulho e acordar algum paciente.

Aparentemente nada de anormal.

Mas ao sair de um dos quartos, algo me deixou gelado e imóvel.

Bem no meio do corredor. Ele estava lá.

Era alto, cabelos e barbas longas, as roupas do hospital apodredendo em seu corpo e no pescoço uma corda. Seus pés não tocavam o chão, e a corda estava presa em nada.

Fiquei ali parado, sem ação, tremendo e sentindo o pior de todos os medos.

Atrás dessa figura sinistra vi outras pessoas circulando, saindo e entrando nos quartos, algumas gemendo, se arrastando, outras gritando.

Tudo parecia uma imagem em preto e branco de televisores antigos e mal sintonizados.

Acho que fiquei por alguns segundos vendo essa cena, até que senti uma mão tocar em meu ombro, o que me fez dar um salto e voltar á realidade.

Era minha colega de trabalho.

Me perguntei se estava tudo bem. Respondi que sim.

Ela olhava para o mesmo corredor que eu, mas aparentemente não via nada de diferente, apenas um corredor.

Perguntei se ela via ou ouvia algo estranho naquele lugar. Ela demorou um pouco para responder, e depois me disse que sim, mas que com o passar do tempo, tudo passava a fazer parte da rotina e não incomodava mais.

Essa minha colega tinha o olhar bem cansado e sofrido.

Ela me perguntou se eu queria mesmo conviver com aquilo tudo, todas as noites de meu trabalho.

Pensei bem, e decidi que não.

Trabalhei mais um mês e saí.

Deixei os fantasmas do corredor.

Se você tem alguma dúvida sobre esses fatos, pode conversar com pessoas que trabalham na área de enfermagem e eles confirmarão o que estou dizendo, alguns com menos e outros com mais detalhes.

Mas isso é real.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 10/11/2010
Código do texto: T2607152
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