O Baile de Máscaras

As vésperas de completar quinze anos, Annabelle desejava que sua festa fosse única e todos os seus caprichos e desejos pueris deveriam ser saciados. Ela era belíssima como poucas, uma flor cálida em pleno desabrochar, mas aquele rosto juvenil e angelical escondia uma futilidade asquerosa, como um diamante falso. Para o seu baile de máscaras em estilo parisiense, seus pais tiveram de investir uma grande fortuna, não que isto fosse um problema para a influente e rica família Montreani. Apesar dos exageros, a festa de Annabelle Montreani era o evento mais esperado da cidade, a data em que a jovem dama seria apresentada a sociedade burguesa.

O grande dia chegou, flores de todas as cores, tecidos finos cobriam o grande salão do pallazo Montreani, ricamente decorado. A música tocava suavemente, os violinos riscavam o ar com uma música viva e agradável. Todos aguardavam a entrada triunfal, todos os mais ricos e menos influentes foram convidados, ela fez questão de que até mesmo os seus desafetos de longa data fossem convidados. O seu ego inflado deveria ser alimentado ao ver a face desgostosa dos seus falsos amigos, nada a agradava mais do que humilhar á todos aos que não se encaixavam em seu circulo de amizades.

Ela desceu através das escadas, em pose majestosa exibindo o seu vestido branco de cetim, suas luvas lhe forneciam um aspecto virginal. Os cabelos pediam em longos cachos dourados até a cintura, decorados com pérolas brilhantes. O seu sorriso era belo e aquecia os corações dos jovens que ali estavam. Uma máscara prateada adornava o seu rosto, acentuando ainda mais os belos olhos azuis felinos.

Annabelle era uma deusa virginal aos olhos dos rapazes, isto logo instigou o ódio e a inveja por parte das outras damas que ali estavam. Os olhares enfurecidos serviriam apenas para estimular o orgulho exacerbado de Annabelle.

Ela observava a cada convidado, analisando suas roupas e trejeitos, mas algo se destacou entre os milhares de convidados. Um belíssimo rapaz de olhos verdes intensos escondidos sob uma máscara negra. A pele alva ornamentava os lábios bem delineados e rosados. Os cabelos negros e brilhantes pendiam até a altura dos ombros, a moldura perfeita para um rosto tão jovial, proporções tão harmônicas que causaram admiração a todas as donzelas. O jovem se aproximou e a segurou pelas mãos em um pedido de valsa. Sem reação ela ficou extasiada com aquela imagem de tamanha perfeição. Sentia como se o tempo houvesse parado, o som cessado, apenas para observar aquele homem de beleza extraordinária. Ele a tomou nos braços circundando delicadamente sua cintura fina. O seu toque gélido a fez arrepiar.

Os dois dançaram a primeira valsa, e não tiraram os olhos um do outro, havia uma atração enigmática naqueles belíssimos olhos verdes, capaz de fazer uma mulher apaixonada mergulhar no abismo. Antes mesmo do final do baile, os dois caminharam calmamente até o jardim. Subitamente Annabelle foi tomada pelos braços, em um gesto rápido e imprevisto ele a beijou intensamente. Seus lábios eram frios como pedras de mármore, seus braços rígidos a envolveram com sua pele fria e pálida. Annabelle sentiu um gosto ferroso e azedo em seus lábios, era o seu sangue que pulsava a caminho dos lábios do seu par. Sentiu seu corpo enfraquecer, mas seu corpo não desistiria de saborear a sensação do beijo nos lábios daquele homem.

Logo depois, eles novamente caminharam em direção ao jardim, o que na verdade era um imenso e tortuoso labirinto cercado por árvores gigantescas, um local secreto e afastado do pallazo. Ao longe eles podiam vislumbrar as pequenas luzes e ouvir o som da música que cortava o ar ao longe, mesclado ao som do vento noturno que soprava.

O jovem acariciava a face límpida de Annabelle, admirando-se com sublime beleza. Deslizou os seus dedos longos através dos braços alvos, sobre seus longos cabelos dourados. Abruptamente ele a lançou ao chão com tamanha força que seu ombro se deslocou, causando uma dor excruciante. O jovem retirou sua máscara negra, seus olhos haviam mudado, tornando-se rubros, olhos do próprio demônio. Em sua boca milhares de dentes pontiagudos surgiram, sedentos de ódio. O olhar de Annabelle que antes fora de admiração agora era de puro terror.

A menina se arrastou a procura de abrigo, sujando o seu vestido. O pavor ao encarar aquela Besta assassina eram indescritíveis. Antes mesmo que o grito de horror se desprende-se de sua garganta. A fera saltou sobre ela cravando seus dentes pontiagudos em sua carne, sugou até á ultima gota da seiva viva daquele frágil corpo. Já inconsciente, ele a despiu, retirou os laços de seu vestido e rasgou o que sobrava do tecido com selvageria. Olhou a carne nua e macia, apreciando cada centímetro, finalmente ele a devorou, arrancando pedaços de carne até descarna-la por inteira. Quando ele já estava farto ficou a contemplar os olhos da morta que fitavam o imenso vazio, além das estrelas.

Ao final da festa todos queriam saber o destino de Annabelle e do misterioso rapaz com quem ela dançara por toda a noite e até já havia algumas teorias sórdidas lançadas por línguas ferinas.

Um grito de horror invadiu a noite, vindo do jardim. E lá todos encontraram sua escrava aos prantos e o corpo descarnado de Annabelle, como uma boneca destroçada por um cão raivoso. A única coisa que permanecera intacta fora sua cabeça, com a expressão imortalizada de terror em seus olhos azuis opacos.

E assim morreu Annabelle Montreani, a mais bela jovem em seus imaturos quinze anos. Quem seria o monstro sem alma que ousara roubar a vida de um ser tão inocente? Este é um segredo enterrado em sua sepultura por toda a eternidade.

Fim.

Taiane Gonçalves Dias
Enviado por Taiane Gonçalves Dias em 08/11/2010
Reeditado em 10/11/2010
Código do texto: T2604226
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