NÃO SE MENTE PARA ESPELHOS.
Preciso limpar esse espêlho, tá embaçado prá caramba.
__Tá falando sério mané?
__Espêlho, já te falei um montão de vezes que espêlho não fala.
__Tu não quer encarar a verdade, tô sujo não mané, tu tá ficando ceguêta. Deixa de ser bundão e frouxo e opéra essa cataráta. Mané.
__Não vou te dar atenção. É madrugada e tenho que fazer coisas importantes no book
__Vai fazer com um ôlho só, o outro já éra, babacão. Quero ver você fazendo coisas importantes no book quando o outro ôlho pifar também.
__Cala a boca espêlho, tenho muito que pensar e você tá atrapalhando.
Preciso agradecer um monte de pessoas. Cala a boca para eu poder teclar.
__Vai agora não covardão, você não que encarar a realidade, olha prá mim e confessa, tá se borrando de medo da operação. Te conheço a muito tempo, sei que da morte você não tem medo. Conta vai, conta prá mim o que você teme, a operação é tão simples. Do que você tem medo babacão.
__O espêlho, se você me chamar de babacão de novo, quebro vc em mil pedaços.
__Além de babacão é burrão, serão mil de você a te perguntar do que você tem medo.
__Tá bom, eu conto, não se mente para espêlho. Você está certo quando fala que não tenho medo da morte, essa é inevitável, ningúem dela escapa. Tenho medo de ir ao médico e voltar de lá cégo. Tenho medo da escuridão, tenho medo da escuridão dos dias cláros. Tenho medo de viver na escuridão. Tenho medo de não poder ver as belezas das coisas e das pessoas, tenho medo de não poder ver o por do sol de outono, de não ver a mar encontrando o céu lá longe, tenho medo de andar em meio ao bélo e não ver. Eu que mesmo enxergando tantas belezas não vi, não vi as que estavam longe de minhas vistas, mas também não vi tantas que a meu lado estavam. Mas de todos os medos que tenho dessa escuridão, um é maior que todos os outros. Aquela visão que me faz ser grato a vida, aquela visão que faz cláro e iluminado meu dia por mais que o céu esteja nublado. Intrometido espêlho, conhecedor de nossas verdades e segrêdos, que seria de mim sem ver a beleza que dá sentido a minha vida, a beleza que faz essa vida suportável, beleza que não posso ver tanto quanto queria e gostaria, a distância nos separa. Que seria de minha vida sem poder ver minha amada filha?
Preciso limpar esse espêlho, tá embaçado prá caramba.
__Tá falando sério mané?
__Espêlho, já te falei um montão de vezes que espêlho não fala.
__Tu não quer encarar a verdade, tô sujo não mané, tu tá ficando ceguêta. Deixa de ser bundão e frouxo e opéra essa cataráta. Mané.
__Não vou te dar atenção. É madrugada e tenho que fazer coisas importantes no book
__Vai fazer com um ôlho só, o outro já éra, babacão. Quero ver você fazendo coisas importantes no book quando o outro ôlho pifar também.
__Cala a boca espêlho, tenho muito que pensar e você tá atrapalhando.
Preciso agradecer um monte de pessoas. Cala a boca para eu poder teclar.
__Vai agora não covardão, você não que encarar a realidade, olha prá mim e confessa, tá se borrando de medo da operação. Te conheço a muito tempo, sei que da morte você não tem medo. Conta vai, conta prá mim o que você teme, a operação é tão simples. Do que você tem medo babacão.
__O espêlho, se você me chamar de babacão de novo, quebro vc em mil pedaços.
__Além de babacão é burrão, serão mil de você a te perguntar do que você tem medo.
__Tá bom, eu conto, não se mente para espêlho. Você está certo quando fala que não tenho medo da morte, essa é inevitável, ningúem dela escapa. Tenho medo de ir ao médico e voltar de lá cégo. Tenho medo da escuridão, tenho medo da escuridão dos dias cláros. Tenho medo de viver na escuridão. Tenho medo de não poder ver as belezas das coisas e das pessoas, tenho medo de não poder ver o por do sol de outono, de não ver a mar encontrando o céu lá longe, tenho medo de andar em meio ao bélo e não ver. Eu que mesmo enxergando tantas belezas não vi, não vi as que estavam longe de minhas vistas, mas também não vi tantas que a meu lado estavam. Mas de todos os medos que tenho dessa escuridão, um é maior que todos os outros. Aquela visão que me faz ser grato a vida, aquela visão que faz cláro e iluminado meu dia por mais que o céu esteja nublado. Intrometido espêlho, conhecedor de nossas verdades e segrêdos, que seria de mim sem ver a beleza que dá sentido a minha vida, a beleza que faz essa vida suportável, beleza que não posso ver tanto quanto queria e gostaria, a distância nos separa. Que seria de minha vida sem poder ver minha amada filha?