UM CONTO DE NATAL - (REPUBLICAÇÃO)

Mais um final de ano se aproxima e com ele a festa mais aguardada pelas crianças.

Noite de Natal. Crianças espalhadas pelo mundo inteiro aguardam a visita do bom velhinho. Apreensivas esperam que Papai Noel chegue com os presentes tão desejados durante o ano, mas nem todos os pequeninos acreditam na figura de um homem vestido de vermelho com barba comprida e um barrigão.

Esta é a história dos irmãos Daniel e Rodrigo, um com doze e o outro com sete anos. O primeiro não possui mais a ilusão do velho barbudo, é muito difícil hoje em dia uma criança nessa idade acreditar que um velho desconhecido venha até sua casa entregar presentes.

- Rodrigo, o que você está fazendo? - Perguntou Daniel, o mais velho.

- Estou colocando um bilhetinho na árvore de Natal com meu pedido para o Papai Noel.

- Larga a mão de ser bobo. Já não te falei que Papai Noel não existe.

- É lógico que existe. Eu o vi no Shopping hoje à tarde.

- Está vendo como você é besta. Era um homem vestido de Papai Noel para enganar trouxas como você.

- É mentira. Eu conversei com ele. Ele disse que vai trazer meu presente porque fui um menino bonzinho.

- Então fica esperando seu bobo, ele não vai trazer nada pra você. Ele não existe e nunca existiu.

- É o que veremos.

Faltando vinte minutos para as doze badaladas, Viviane mãe dos meninos entra na sala e vai falando.

- Meninos. Está na hora de vocês irem dormir.

- Mãe, eu quero esperar Papai Noel. Falou Rodrigo.

- Não pode meu filho, senão Papai Noel não vai trazer seu presente. Vai dormir. Quando você acordar Papai Noel vai ter deixado seu presente.

- Tudo bem mamãe.

O mais velho ficou olhando para a mãe com um olhar desconfiado. Raphael, pai dos meninos, não precisava falar para que eles entendessem o recado. Olhou para Daniel, e como se um olhar valesse mais que mil palavras, o guri foi em direção do quarto com o irmão mais novo.

Silêncio em toda a casa. Somente o barulho do vento entrando pela fresta da janela podia ser ouvido.

Daniel acordou com sede. Levantou e caminhou em direção a cozinha. Quando chegou próximo a porta da sala, um vulto vermelho e alto na sua frente causou espanto.

- Não pode ser verdade. Eu devo estar ficando louco. Não existe Papai Noel.

O menino seguiu em direção aquele homem travestido com roupa vermelha e botas enormes.

Caminhou lentamente na ponta dos pés até chegar próximo. O homem de costas para a porta não percebeu a aproximação do menino franzino.

- Papai Noel. É você?

O homem virou-se rapidamente baixando o rosto em direção ao menino. Grandes olhos negros fixaram-se dentro dos olhos do garoto. Ficou tão perto do rosto do menino que sua imagem fora refletida na escuridão dos olhos enegrecidos.

A figura grotesca de um velho narigudo e com uma longa barba branca o encarava. Um arrepio percorreu a espinha do garoto. Ficou paralisado sem reação. Não conseguia se mexer nem falar nada. O homem aproximou-se do garoto e uma voz rouca cortou a escuridão da sala:

- Você que é o Daniel. Aquele que não acredita no Papai Noel?

O menino não conseguia abrir a boca, tamanho pavor que sentia no momento.

- Vou perguntar de novo. Seu nome é Daniel?

O garotinho tremendo de medo conseguiu somente dizer um “sim” muito baixo que mal podia ser ouvido. O homem que parecia um gigante calçado de botas abraçou o garoto estático e o colocou num saco vermelho.

Os lábios do menino não conseguiam se abrir. Dava a impressão de estarem colados. Não conseguia falar e nem gritar por socorro. Tentou se debater dentro do saco, mas o corpo permanecia inerte aos movimentos como se uma força externa o paralisasse. O homem aproximou-se da janela da sala e de supetão pulou e sumiu na escuridão da calada noite.

Amanheceu o dia, Viviane colocou a mesa para o café da manhã.

- Daniel. Rodrigo. Venham tomar café.

Somente Rodrigo saiu do quarto e foi em direção a cozinha.

Quando passou pela sala reparou alguma coisa embaixo da árvore de Natal. Um pacote colorido e grande.

Saiu correndo na direção do embrulho com seu nome e começou a rasgar a embalagem. Seus olhos nem piscavam de tão compenetrado que estava.

- Mamãe, mamãe, Papai Noel trouxe meu presente. Eu sabia. Eu sabia que papai Noel viria.

Viviane colocou a cabeça para fora da porta da cozinha e espiou o menino abrindo uma caixa grande. Logo pensou. - Deve ser o presente que Raphael trouxe para os meninos. O garotinho sentia uma emoção tremenda, suas mãos tremiam enquanto as folhas da embalagem caiam ao chão.

– O que será que papai Noel trouxe pra mim?

Gritos de alegria podiam ser ouvidos pela casa.

- Mamãe, papai Noel trouxe meu presente.

Ao abrir o embrulho uma surpresa, o menino havia ganhado um boneco. O brinquedo possuía feições humanas, dava a impressão que estava vivo. Os detalhes dos olhos, da boca e cabelos impressionavam tamanha perfeição.

- Mamãe, mamãe, olha o que ganhei. Ganhei um boneco.

A mulher dirigiu-se para a sala. Um grito de horror pode ser ouvido á distância. Como se fosse acertada por uma bigorna na cabeça. A mulher despenca no chão desacordada.

Daniel, o menino mais velho estava paralisado como estátua. Amarrado em seu pulso em cartão de Natal com a figura do bom velhinho e os dizeres.

- “Nunca subestime o espírito do Natal”

Flavio Brabo
Enviado por Flavio Brabo em 01/11/2010
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