PRELÚDIO DO ALÉM
Quando André acordou estava confuso, a mente pesava em seus olhos, não tinha percepção de onde estava, o que acontecera, respirava com dificuldade, mergulhado numa profunda escuridão e silencio definitivo.
Onde estava? O que era aquele ambiente que o desfalecer lhe impunha, o cheiro ocre de cimento fresco mesclado ao odor adocicado de cravo do Himalaia e parafina parecia um lugar surreal.
Os olhos semi serrados, um amortecimento que lhe sugeria não ter corpo apenas parcialmente sentindo o olfato e flashes instantâneos lhe traziam enfileiradas por onde ele passava pessoas, muitas pessoas, mas era terminal aquela força, e repetidamente ele via-se em grandiosos ambientes tomados por luzes resplandecentes, que exalavam intensa paz.
Somente uma vez o silencio foi quebrado pelo barulho surdo de uma porta de metal que se fechava ao longe, uma fronteira que o confuso cérebro de Andre sugeria vagamente ser um lugar inalcançável.
André não tinha consciência de que era um corpo, de que fora medicado em um coma devido acidente automobilístico, que não resistiu aos ferimentos e que fora declarado morto.
Era uma linda tarde, o enorme cemitério do século 18 já estava vazio, todos já haviam ido embora lastimando a grande perda do engenheiro civil Andre...
A 2 metros de altura, dentro de um jazigo, no mausoléu de sua família, o jovem Andre sentia as ultimas reações de suas células...
No ar que era rarefeito dentro do tumulo, e que pouco a pouco foi extinguindo-se, sentindo os efeitos, dos pés para a cabeça, Andre foi esfriando, esfriando, devido à inconsciência, nenhuma dor...
A linha tênue que separava Andre deste mundo o levava a uma viagem por um enorme vale luminoso em direção ao desconhecido...