Entre Amigos

Eva Torres, após se tornar viúva, mudou-se com seu filho da Espanha para a Itália. Em Capannoli, província italiana, ela recomeçaria a vida com seu pequeno filho. Josué foi para a escola e fez amigos, enquanto Eva fez amigas na vizinhança e em seu trabalho. A vida dos dois parecia enfim estar alavancando, depois do trágico acidente que matara o Sr. Torres.

Quando Josué pediu para ir brincar na casa de seus colegas, Eva não teve como negar. Era um sinal de que o filho estava se adaptando muito bem com o novo lugar e costumes. O garoto passou a ir todos os fins de semana para a casa dos tais amigos, moradores de um bairro próximo, enquanto a mãe mantinha contato com os pais dos colegas por telefone. Pareciam gente boa, capazes de tomar conta de Josué. E, por mais preocupada que Eva ficasse, Josué lhe tranquilizava dizendo: "Fique tranquila, mamãe, estou entre amigos."

Após um dos finais de semana, o garoto não voltou para casa. O pai dos amigos de Josué tinha ficado de trazê-lo devolta para casa, mas não o fez. Eva, muito preocupada, ligou para a casa da família em busca de notícias. A mãe disse que o garoto dormiria lá novamente naquela noite, no outro dia eles levaria Josué para a escola, e todos almoçariam juntos na casa da família. Inclusive Eva, que anotou o endereço da residência, e dormiu quase que tranquilamente. No dia seguinte, notou diferenças em seu filho. Parecia pálido, púpilas dilatadas e hematomas pelos braços e torax. Exigira explicações assim que chegasse na casa da família. Não toleraria maus tratos contra seu filho.

Chegando no tal endereço, onde se encontrava um casarão de construção antiga, Eva desceu do carro mas não viu Josué lhe seguir. Imaginou que o garoto tivesse ido em disparada na sua frente, explicando o porque de a porta da casa estar escancarada sem ninguém. Eva rondou pelos cômodos e não encontrou ninguém, e tudo parecia muito velho e abandonado por lá.

Como estava um dia bonito e ensolarado, Eva presumiu que seria um almoço ao ar livre, então dirigiu-se aos fundos da velha casa. Só o que encontrou, foi um velho cemitério particular, com poucas e assustadoras lápides. O pânico de Eva teve início quando viu, nas duas primeiras lápides, os nomes do pai e da mãe da família seguidos por suas devidas fotos. Na terceira, os nomes de duas crianças também com fotos, que eram os coleguinhas de seu filho. E enfim, na quarta e mais nova lápide, encontrava-se a foto e o nome de Josué com a seguinte frase em idioma italiano: "Fique tranquila, mamãe, estou entre amigos."

Lucas Vosch
Enviado por Lucas Vosch em 19/10/2010
Código do texto: T2566534
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