Encruzilhada

Quase meia noite. A estrada era bem escura e as árvores altas produziam sombras que causavam medo.

Ainda mais sendo noite de lua cheia,

Íamos caminhando a passos largos, eu, minhas irmãs menores, meus pais e meus avós.

Era costume de família visitar os sítios vizinhos nos começos de noite para conversarem, comerem bolinhos e beberem uma boa cachaça contando histórias e rindo.

Mas naquele dia se empolgaram e adentram até umas horas mais altas.

Quando notaram já era bem tarde, e lógico que nós, crianças, nem notamos isso, envolvidos em nossas bricnadeiras.

Se despediram e saímos estrada afora.

Fomos caminhando e meus pais e meu avós conversando.

De repente me arrepiei ao ouvir sons estranhos. Vozes, o bater de cascos de cavalos, e outros sons se aproximando.

Olhei para os outros e notei que também estavam assustados.

Paramos ao perceber que estávamos bem em uma encruzilhada e que provavelmente esses cavalos iriam atravessar na nossa frente.

Mas para nossa surpresa eles também ficaram parados, apesar de não podermos ve-los por causa das árvores que haviam ali.

Ficamos ali parados por alguns segundos e nada de algo se aproximar.

Foi quando meu avô quebrou o silêncio e disse:

- Eles não vão atravessar na nossa frente e se nós atravessarmos na frente deles seremos pisoteados.

Não querem que os vejamos.

Vamos dar as mãos e nos virarmos. Não tenham medo e não olhem para trás.

Não sei o que era mais difícil, não ter medo ou não olhar para trás.

Obedecemos meu avô e nos viramos.

Passo a passo, fomos ouvindo os cavalos se aproximando e atravessando a encruzilhada.

Pareciam ser muitos e junto podiíamos ouvir outros sons. Vozes numa lingua estranha, sons de espadas, correntes se arrastando e uma som que me assustou mais foi o barulhos de asas, mas não asas normais, mas pelo barulho pesado pareciam ser enormes.

Sentíamos até a respiração ofegante dos cavalos, como se estivessem muito próximos de nós.

Até o cheiro da poeira dava pra sentir.

Depois de alguns minutos que pareceram horas intermináveis o som foi diminuindo e sentimos que haviam todos passado.

Meu avô nos disse:

-Pronto, podemos ir.

Nos viramos e seguimos pela estrada.

Nunca nenhum de nós falaou ou fez perguntas sobre o assunto.

Meu avô faleceu um bom tempo depois do ocorrido.

Mas duas coisas nunca consegui entender:

como meu avô sabia como devíamos agir e o que exatamente aconteceu naquele dia.

Acho que nunca vou saber .....

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 16/10/2010
Reeditado em 17/10/2010
Código do texto: T2560562
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