Evocação
 
Helza de olhar longínquo observava a tarde do altiplano onde fora morar há alguns anos, a sua casinha destacava-se na imensidão, e esta cortada por uma fina estradinha que a léguas dali podia ser vista.
As mãos rápidas de Helza teciam um crochê da cor vinho que enfeitaria sua mesa na pequena salinha na entrada da bem cuidada casa.
Nas poucas vezes em que ergueu a cabeça viu a muito longe um pequeno filete de poeira que subia acima da verdejante paisagem, atrás de pequenos morros...
Seguiu trançando os fios, perdida em seus pensamentos, que voavam pelo tempo em que tinha um marido e um filho, passado que vez ou outra vinha povoar de saudade seus momentos de solidão.
Agora com a cabeça posta sobre a mão, pode divisar que abaixo da poeira ao longe, era um cavaleiro que cortava aquelas imensidões, marcando o azul do céu com a fina camada de terra vermelha.
Em seus sonhos nos momentos de meditação eram assim as lembranças de seu amado, que poderia a verdadeira vontade de vê-lo trazer a magia de materializá-lo em sua frente.
Sonhos que molhavam seu rosto era distante a possibilidade e mais longe ainda o lugar onde seu amado estava.
Era agora mais nítida a figura montada em um corcel negro, muito fiel era aquela imagem da ultima que tinha de seu amor.
Trançou comovida a ultima linhada de fio em seu crochê, colocou as agulhas trançadas sobre a mesinha de madeira rústica, arrumou o vaso com flores silvestre, desceu seus olhos por todo seu corpo como em busca de algum amassado em sua roupa.
Olhou tudo em volta para certificar-se de que nada poderia atrapalhar aquele momento, talvez único, e em dois passos encostou o abdômen, segurando firme a singela cerquinha de bambu.
Seus olhos brilhavam, mas o semblante surreal de Helza mostrava que não era o concreto da mulher que ali estava, e sim o abstrato de alguém cuja paixão jamais morreu...
Légua por légua, aproximou-se aquela poeira, até contornar a ultima colina e parar em frente à casa de Helza...
Com um movimento de cabeça, sem erguê-la cumprimentou a mulher, beijou e lhe jogou um bouquet de rosas brancas, e continuou o seu caminho...
O mesmo porte, os mesmos trajes do antigo amor de Helza, que há muito um belo caixão funerário levou para o além...
 
Malgaxe
Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 07/10/2010
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