Macumba

Fim de noite. O dia havia sido péssimo.

Não que algum dia de sua vida tenha sido bom de uns tempos para cá.

Tudo parecia estar errado. Perdera o emprego.

Sua esposa o traíra e o deixara.

Se tivesse filhos com certeza teriam aprontado alguma para ele.

Acabou se entregando à bebida para afogar as mágoas.

E nesse dia não era diferente. Sim, estava bêbado.

Na verdade nem se lembrava mais como era estar sóbrio.

Saiu do boteco e foi para casa.

Morava de favor em um barraco que ficava bem fora do centro da cidade.

Quase ninguém circulando pelas ruas.

Só ele e as sombras acompanhando-o.

Suas pernas teimavam em não obedecer ao resto co corpo, mas ainda assim ele seguia seu caminho.

De repente numa encruzilhada deparou com uma cena que não era incomum por ali.

Um trabalho de macumba muito bem preparado.

Frango assado com farofa, ainda quentinho, vinhos, cachaça e outras iguarias, tudo iluminado por velas coloridas.

Ele então fez o que nunca tinha feito, sentou-se defronte ao banquete e se esbaldou, comeu o frango quase todo, e ingeriu meia garrafa de vinho, e pra finalizar tomou bons goles da cachaça, ficando assim num estado de embriagues ainda pior.

Sua cabeça ficou pesada, sentiu o estomago e a cabeça girando em sentido contrário e não mais aguentando o peso do corpo, deitou-se ali mesmo no chão.

Mas para sua surpresa era como se o chão sumisse.

Sentiu-se caindo sem parar. Numa escuridão total.

A escuridão vai sumindo aos poucos e ele se sente colado ao chão. Um sentimento de medo e terror se apodera dele.

Ele nota um vulto se aproximando, fazendo um som assustador, como se rosnasse.

Chegou bem perto e ele percebe que seus olhos são vermelhos, de estatura enorme e uma boca cheia de dentes e uma lingua repatida como se fosse uma cobra.

Tenta se levantar, mas não consegue, está como que fundido ao chão.

Tenta gritar mas a voz não sai.

O vulto ergue as mãos e deixa á mostra garras enormes.

E de sua boca descomunal saí uma voz assustadora:

- Só quero o que é meu. Nada mais.

- Era seu? Algo lá era seu? Gritou apontando para o despacho.

- Nãoooooooooo, Nãoooooooo, Nada era seu ali.

- E quero de volta.

Quando falou isso, cravou suas garras na barriga causando enorme desespero e dor quase insuportável.

O homem viu a criatura tirar de seu estômago, os restos do frango e um líquido que ele deduziu ser o vinho e cachaça.

Ele gritava, mas a voz não saia.

Tentava se mexer mas era impossível.

A criatura ali, rasgando seu corpo, ele sentia o sangue e suas entranhas se derramando pelo chão.

Agora a criatura ria, um riso do mal com dentes enormes e olhos vermelhos.

-Aprendeu agora? Não quero seu corpo nojento.

- É meu, tudo meu.

Ele olhou para o despacho e estava tudo lá. Intacto. O frango, o vinho e a cachaça.

Seus olhos fciaram pesados e ele não viu mais nada.

Acordou numa cama de hospital dois dias depois.

Não demorou para aparecer um enfermeiro e ele questionou:

- Como vim parar aqui? o que houve?

O enfermeiro olhou bem para ele e disse:

- Bem, na verdade era o que gostaríamos de perguntar a você.

- O que houve? Só o que sabemos é que te encontrarm ao lado de um despacho desacordado e com a barriga aberta. Aparentemente algum animal o atacou enquanto dormia.

Ele se arrepiou todo e disse ao enfermeiro:

- Na verdade não sei o que houve, só me lembro de algumas coisas, mas quero esquecer e mesmo que eu conte a você ou a outra pessoa, ninguém acreditaria.

O enfermeiro deu de ombros e saiu.

- Na verdade eu nem sou enfermeiro, só passei por aqui para pegar o que é meu

Eu só quero o que é meu.

Um arrepio misturado com terror tomou conta do corpo daquele paciente deitado naquele leito de hospital.

E o "enfermeiro" saiu.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 04/10/2010
Código do texto: T2537642
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