Os Demônios do Hospício II – o Exorcismo

Desde a morte de Sérgio, o Dr. Léon andava meio esquisito, todos no hospital psiquiátrico Dra. Lara Almeida estavam de luto, Sérgio morreu em condições estranhas demais, fora encontrado com uma faca de cortar carne enfiada no peito, sua mulher Fernanda havia sumido e era a principal suspeita do crime, mas Léon conhecia o casal, ela não teria motivos para matar o marido. Por dinheiro, Sérgio não tinha, se ela havia arrumado um amante, Sérgio dizia que não brigava por mulher, pois havia muitas no mundo, se Sérgio havia arrumado uma amante, impossível ele amava Nanda demais para isso. Léon não conseguia achar uma explicação.

Ele acordou naquela manhã chuvosa, as ruas deveriam estar alagadas e o trânsito já meio caótico daquela hora em que todo mundo está indo para o trabalho ou para a escola. Iria ficar estressado logo de manhã, tomou uma ducha para espantar o sono, sua cafeteira estava chiando ao longe, aquilo havia sido presente de sua mãe, era muito útil tomou o café rapidamente. Descendo as escadas do condomínio, ele encontrou Ângela, sua vizinha do andar de baixo, ele morava no segundo andar de um prédio de dez andares, Ângela morava no primeiro, sempre paquerou com aquela loira fenomenal, afinal era médico e os médicos são charmosos por natureza, pelo menos pensam que são, mas naquele dia em especial, o Dr. Léon estava ocupado demais para paquerar sua vizinha gostosa, seu pensamento estava voltado para descobrir o que acontecera com Sérgio, e só uma pessoa poderia responder aquilo:

- Um louco do Lara, Sid Animal! – falou em voz alta.

Pegou seu Ford Eco Sport preto na garagem, rumou para o Hospital psiquiátrico, ao contrario do que ele imaginava o trânsito estava bom, até passar em frente do colégio Pequeno Nazareno, que àquela hora estava sendo abastecido de crianças, por conseqüência, estava engarrafado na frente, Dr. Léon lembrou-se do tempo de padre, aquele colégio cristão sempre lembrava ele disso, desistiu do seminário quando conheceu Mariana, prometeram se casar, mas depois de dois anos a menina teve uma grave doença e morreu, Léon prometeu a si mesmo que iria ser médico, acabou se tornando neurologista.

Chegou ao hospício e foi ao vestiário dos médicos, vestiu o jaleco branco e saiu visitando seus pacientes. Dr. Léon visitou primeiro os seus dois pacientes de menor gravidade os da ala norte, foi ver os que se achavam divinos, presenciou uma conversa no mínimo engraçada entre os dois:

- Rapaz eu sou Jesus- disse o primeiro.

- E quem foi que disse isso rapaz? – perguntou o segundo.

- Foi Deus. – disse o primeiro apontando para o céu.

- Eu disse isso? – disse o segundo, coçando a cabeça.

Dr. Léon ainda visitou a ala oeste, pois tinha cinco pacientes lá. Na ala sul, tinha dois pacientes, Sidney, o Sid Animal e Samanta. Samanta era sua paciente que ele menos entendia, era impossível conversar com ela, ela apenas grunhia coisas incompreensíveis, era a mais pirada, como costumava brincar, pois era uma canibal, fora trancada lá por ter matado e comido sua mãe e suas duas irmãs, uma recém nascida e uma de dois anos, vivia amarrada e amordaçada, sempre tentava morder quem passava perto dela. Léon fez o possível para ir o mais rápido possível, pois queria agendar uma entrevista com Sidney o mais rápido que pudesse. Por sorte conhecia a menina que agendava Sueli, Su como era conhecida, foi sempre muito legal com o Dr. Léon, queria agendar para a tarde, iria tirar toda a história a limpo. Ficou certo que ele teria a entrevista às duas da tarde, na sala cinco, ele teria uma equipe de mais dois auxiliares com ele, se bem que o assunto seria bem particular.

Sidney chegou amarrando em sua já tradicional camisa de forças, desde seu último ataque, que já fazia dois meses, Sid Animal havia atacado Sérgio no seu último dia de trabalho, Léon sentou-se na cadeira e ficou encarando Sid, que olhava para ele com uma expressão vazia, seguiu o protocolo do hospital, ligou o gravador:

- Então senhor Sidney Albuquerque do Nascimento, vinte e um anos, caucasiano, um e oitenta e cinco de altura, oitenta quilos, mais conhecido como Sid Animal, o estripador da Barra, começamos aqui a entrevista de número dez.

- Doutor, hoje não é dia de entrevista, o que o senhor quer de mim? Sabe que eu sou inocente. – começando a gritar- o senhor sabe.

- Calma, Sidney, é só o protocolo. – olhando para os auxiliares que encaravam Sid – por favor, saiam, fiquem lá fora se eu precisar de ajuda eu chamo. - os dois auxiliares prontamente atenderam as ordens do médico.

- Olha aqui Sid, acho que sei qual é o seu problema, estou começando a acreditar em você, agora eu tenho que confiar em você e você confiar em mim. Em todas essas nossas reuniões, você me tem revelado muitos detalhes de sua vida, me conte agora um pouco mais sobre seu pai.

- Aquele filho da puta, meu pai era um macumbeiro de merda, engravidou minha mãe e me criou até os quinze anos, depois disso caiu no oco do mundo e nunca mais o vi.

- Seu pai era macumbeiro? Isto é. Candomblé? Magia? O que? Fale um pouco mais Sid.

- Meu pai fazia trabalhos de Magia negra, ele era da umbanda, tinha um terreiro de macumba nos quintais da minha casa, cresci dentro daquilo, mas nunca gostei.

-Sid e essas suas apagadas, começaram em que idade, quando foi a primeira vez, você lembra?

-Olhe doutor, eu apaguei a primeira vez numa roda de macumba, enquanto dançava e cantava, eu devia ter treze anos, disseram que um caboclo muito sábio baixou em mim, ensinou muitos caminhos. Desse tempo em diante nos dois anos que se seguiram meu pai sempre fez os caboclos baixarem em mim, eu era um verdadeiro oráculo – nessa hora Sid expressou um sorriso, não menos diabólico do que qualquer outro movimento do maníaco- era respeitado. Até certo dia, em que alguma coisa má desceu, era um Exu como dizem um demônio, uma figura má, só que não era um Exu normal, ele se apossou de mim e eu passei sete dias doentes, sete noites sem dormir, sem comer, falava coisas horríveis, até que meu pai conseguiu retirar esse espírito mal de mim, mas outros vieram, e depois mais outros. Dizem que mil demônios encarnaram em mim nesse período. Meu pai não agüentou e fugiu me abandonando.

- Continue. – disse o médico, ficando mais interessado a cada palavra.

- Desde então, eu venho apagando e quando acordo, fiz alguma merda, eu não esses espíritos maus, a primeira vez, eles tinha matado o Bruce, meu cachorro na época, depois foi o estrupo da minha prima, e nunca mais parou, eu virei esse monstro que agora eu sou.

Dr. Léon pediu que Sid Animal falasse sobre o ataque a Sérgio.

- Acho que alguma coisa do outro mundo tinha assuntos inacabados com aquele cara, já descobriram quem foi?

- A suspeitas de que foi sua mulher, mas não acredito nessa versão.

A tarde toda, Sid Animal e Léon conversaram a respeito do incidente e de outros assuntos mais técnicos, além de possessão demoníaca e umbanda. Sid Animal era o paciente de Léon mais inteligente, ele poderia ser um louco psicopata assassino, mas era muito sábio, Léon sabia que aquela inteligência vinha dos espíritos que possuíam Sid, era assustador como o rapaz sabia de coisas que até o próprio médico não sabia, de alguma forma Sidney ficava com um pouco da inteligência dos espíritos. Isso acabou gerando uma duvida em Léon, será que Sid Animal ficava com alguma coisa dos demônios?

Léon decidiu que iria curar Sid Animal, depois deixaria Sid em outra ala de menor segurança, onde o paciente pudesse cumprir sua pena em maior conforto, Sid Animal não era louco e não era um criminoso, mas era um fantoche, um homem perturbado por espíritos do mal, era a encarnação do diabo, como fora chamado durante o julgamento.

Léon resolveu que iria exorcizar os demônios de Sid, conhecia um mago de muitas eras, Paulo que também era médico, curava seus pacientes de maneira milagrosa, ele era muito respeitado no meio devido sua “sorte” em operações de alto risco e tratamentos complexos, nunca tinha perdido paciente nenhum. Dr. Léon contou o caso para o Dr. Paulo que aceitou na hora, conhecia o caso de Sid Animal e acreditava que não era possível que um homem daqueles não fosse perturbado por espíritos ou coisas piores.

Ficou acertado que no final de semana no domingo, iriam até a cela de Sidney, realizariam o ritual de exorcismo, Sid Animal finalmente iria se livrar dos seus demônios, mas talvez, esse fosse um erro que eles cometeriam.

No domingo, Dr. Paulo e o Dr. Léon chegaram ao Lara o mais cedo que conseguiram, Paulo trouxera seus apetrechos e suas mantas ritualísticas, além de um livro de exorcismo. Léon iria fazer o possível para que Sidney deixasse de ser atormentado pelos demônios, não entendia bem o motivo, mas estava ficando amigo de seu paciente, o que ele sabia ser um erro. A cela de Sid Animal ficava no final do corredor, tinha uma cela desocupada no inicio do corredor, decidiram que iriam realizar o ritual de exorcismo ali. Prepararam a sala, colocaram um crucifixo na parede, os um tapete que deitariam Sidney e varias velas, além de um pote de água benta entre outras coisas.

Sid Animal naquela manha havia acordado perturbado, estava gritando desde cedo, colocaram ele na camisa de força com muito esforço, Sid tinha a força de três homens, não poderiam lhe dar tranqüilizantes, pois tinham ordens do Dr. Léon de não lhe aplicarem nada. Léon pediu aos auxiliares que fossem tomar um café e não voltassem logo.

Léon e Paulo vestiram os trajes do ritual e abriram a cela de Sid Animal, o estripador da Barra encarou eles, com os olhos vermelhos e a baba amarela escorrendo no canto da boca ele partiu para cima do Dr. Paulo, ia acertá-lo em cheio no estomago com uma cabeçada, mas Paulo agilmente saltou para o lado e Sidney acertou uma cabeçada segura na porta de aço e caiu, uma bica de sangue saltou da cabeça do paciente que logo estava de pé bufando novamente, “esse homem não é normal mesmo.”, pensou Dr. Paulo e puxando seu cajado derrubou Sid com uma pancada na perna, antes que o homem pudesse se levantar novamente, Léon o amarrou com uma corda mágica. Levaram Sid para o final do corredor, na saída da cela Sidney levou uma senhora queda, e deslocou o ombro, seus gritos eram horríveis, afinal quem já deslocou o ombro sabe como dói, Dr. Léon conseguiu colocar o ombro do miserável de volta no lugar. Ao passar em frente à cela de Samanta, Sid caiu novamente, e bateu com a cabeça na porta, Léon sentiu um arrepio quando viu que Samanta grunhia de dentro, pensou na miserável amarrada e amordaçada, mas mesmo assim perigosa. Antes de chegar à cela onde aconteceria o ritual Sid Animal já todo ensangüentado levou mais uma queda, o que fez Paulo se lembrar da via crucis.

Deitaram Sidney em uma pequena maca que estava bem no centro da cela, retiraram a camisa de força e o amarram na maca com algemas, eles acenderam as vela e começaram o ritual, Paulo e Léon rezavam em latim quando Sid começou a gargalhar, uma voz que não era a de Sid falou:

-Tolos essa alma é minha, ele é meu. - e gargalhou, o que fez Léon estremecer, mas Paulo respondeu.

- Cale-se espírito imundo, essa alma estará livre de você em nome de Deus, em nome do nosso senhor Jesus Cristo.

Nesse momento, Paulo jogou a água benta sobre o corpo de Sid Animal, água parecia que estava fervendo, onde pegava no corpo do estripador, queimava sua pele, Sid gritava e gargalhava ao mesmo tempo. Paulo começou uma oração e foi seguido por Léon, os olhos vermelhos de Sid estavam se revirando quando de repente, ele vomitou, quase se engasgou, mas Léon estava lá para ajudá-lo. De repente, o corpo de Sidney se eleva da maca como se sentisse muita dor, um grito sai de sua boca com toda a força de seu peito, os demônios de Sid animal estavam sendo exorcizados. Paulo sabia que não podia para agora, estava dando certo, uma chama de esperança queimava no peito de Léon, ele sabia que o ritual estava dando certo, mas o corpo de Sid ficou estático, o último demônio e o mais poderoso que ficara adormecido por tanto tempo iria finalmente ser expulso, mas passos no corredor como se corressem vinham na direção da cela, Sid Animal gritou com uma voz que não era a sua:

- Nanda é agora.

Fernanda a mulher de Sérgio apareceu na porta com uma faca na mão, Léon não acreditou no que seus olhos viam, Fernanda estava com os olhos vermelhos e a baba amarela escorria no canto da boca.

- Fernanda? – Léon disse sem acreditar.

A mulher partiu para cima de Léon, mas Paulo lhe deu uma bordoada na canela e ela caiu como um gato, ela já estava pé novamente, partindo para cima dos homens, enquanto isso Sid Animal conseguiu mais uma vez se soltar da maca, deu uma soco no estomago de Léon e um chute na têmpora esquerda de Paulo, que caiu desacordado. Léon ainda pode ver Sid Animal soltando Samanta, quando a canibal corria para cima de Fernanda que gritava de dor, e seus olhos já não eram mais vermelhos, Léon pode ver o horror e a surpresa estampadas nos olhos da mulher. Sidney se retorcia no chão, Léon pode ver quando uma sombra levantou-se do corpo dele, e abraçou Samanta, o corpo da menina foi rebatido contra uma parede, Fernanda que já estava morta, foi afastada pelo baque, Léon recuperou o fôlego e correu para salvar Sidney, trancou-se com ele em uma cela e pode ver quando, o corpo de Fernanda e Samanta rumaram para atacar o Dr. Paulo, que estava desmaiado, o medo e o horror estamparam o rosto de Léon, ele viu quando ambas arrancaram os olhos do Dr. Paulo, o sangue escorreu nos olhos do homem, pedaços de carne lhe eram arrancados como se ele fosse um sanduiche, Léon não acreditou no que viu. Virou-se para Sidney, e deu- lhe dois tapas no rosto para tentar acordá-lo.

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Veja como termina a saga de Sid Animal em "Os Demônios do Hospício III – Os Malditos"

João Murillo
Enviado por João Murillo em 04/10/2010
Reeditado em 20/10/2010
Código do texto: T2537410
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