Os Demônios do Hospício - A Maldição

Sérgio acordou naquela segunda-feira pensando no trabalho no hospital psiquiátrico, iriam receber um novo paciente, vindo de outra cidade, levou o maior susto com um barulho gigantesco na cozinha, era sua mulher derrubando toda a prataria na bateria, ele levantou assustado e correu para a cozinha, pensava que era ladrão, chegando lá sua esposa estava histérica, estava com um olhar vazio. Ele acostumado com os loucos do hospício, lhe segurou, e deu-lhe uma rasteira, ela caiu assustada, gritando, ele lhe deu duas tapas e ela gritou:

- O que é isso?- ela parecia acordar assustada.

- Você está bem? O que está fazendo?- Sérgio gritou para ela.

Ela levantou dizendo que não sabia ao certo o que estava acontecendo e que estava na hora de ele sair para o trabalho, Sérgio viu que já passava das seis e quarenta, teria apenas vinte minutos para chegar ao hospício, engoliu um pão, sem tomar banho nem escovar os dentes saiu apressado para o hospital, poderia fazer sua higiene pessoal no banheiro do alojamento de funcionários. Sorte que o ônibus ia passando na hora que ele saiu, pegou o coletivo que não estava muito lotado, o que era um verdadeiro milagre, uma situação daquelas ocorria uma vez a cada ano. Dez minutos depois, ele desceu em frente o hospital psiquiátrico Dra. Lara Almeida, um hospício conceituado na cidade, abrigava os doentes mentais de várias regiões. Sergio trabalhava na temida ala sul, apenas os loucos mais perigosos iam para lá, normalmente, os dementes que cometeram crimes e foram condenados. Naquele dia, em especial, todos estavam apreensivos, pois um novo demente ia chegar, era Sidney, ficou conhecido como Sid Animal, ele havia assassinado sua mãe e duas primas, estrupado duas meninas de menos de seis anos, no tempo que passou esperando julgamento, ele atacava os carcereiros e chegou a arrancar uma dentada do braço do delegado. Fora repudiado pela sociedade, havia tido protesto durante o seu julgamento, sua pena foi de trinta anos de prisão, mas seu advogado havia conseguido um atestado, muito contestado por sinal, que ele tinha problemas mentais, e ele iria cumprir sua pena em uma cela de segurança máxima no hospital psiquiátrico Dra. Lara Almeida. Ele iria apodrecer na ala sul, seria colocado em uma cela acolchoada e esquecido lá, pelo menos era isso que Sergio pensava.

A chegada do prisioneiro foi tranqüila, não tiveram clamor popular como eles esperavam, o povo brasileiro esquece rápido das coisas, ele chegou amarrado em uma maca, parecia até, certo canibal de filmes de suspense, ficou combinado que Sergio iria ser o responsável por colocá-lo na cela. Ia escoltado por dois policiais armados de pistola elétrica e cassetetes, ele estava muito assustado, aquele homem não deveria estar ali, deveria estar em um cemitério.

Avançaram pelo corredor, Sergio ia bem à frente, um policial empurrava a maca e o outro ia atrás, fora do campo de visão do Animal, a cela de Sid Animal era a ultima no final do corredor, havia sido preparada especialmente para ele, se bem que ele ficaria solto dentro da cela, com uma camisa de forças. Como o destino nem sempre é certo e o mal precisa apenas de um leve desvio para se manifestar, por algum motivo que não conseguiram explicar, e ao chegar na frente da cela de Samanta uma paciente que era meio canibal, vivia amarrada e amordaçada pois, sempre queria morder todo mundo, o criminoso consegui se soltar da maca e nocauteou o policial que estava empurrando a maca com uma cabeçada no estomago, o outro policial levou um senhor chute nos testículos, Sérgio gritou por ajuda, ele estava sozinho naquele corredor macabro com Sid Animal, o estripador da Barra, ele encarou Sérgio como se fosse uma presa mas, em vez de avançar, Sid gemeu para o homem:

- Você, não precisa ter medo, eu não vou lhe fazer mal, eu sou inocente, não fiz nada, nenhum daqueles crimes foram cometidos por mim, eu não sei o que acontece mas, eu desmaio e quando acordo toda a merda está feita. Eu não, não... - começou a cair no chão, parecia que estava tendo um ataque epilético.

Sérgio tentou ajudá-lo, mas o Animal já estava de pé um segundo depois, não era mais o mesmo homem que estava na sua frente, seu rosto estava vermelho como se estivesse prendendo a respiração, seus olhos estavam vermelhos e de sua boca descia uma baba amarelada, ele avançou para cima de Sérgio, a morte estava muito perto dele. Derrubou ele no chão e começou a estrangulá-lo.

-Você vai morrer! Você vai morrer, não vai ser eu quem vai lhe matar e nem os meus demônios, seu maldito, maldito. – gritava Sid Animal com um bafo horrível, que fazia Sérgio ficar tonto. Sergio já começava a apagar quando o Dr. Léon que por sorte, iria ver Sid na cela, apareceu e lhe deu uma pancada nas costas, quando o estripador da barra caiu de lado um choque com a arma de um dos policiais caídos lhe foi dado pelo médico, Sid Animal quase morreu desse choque, ficou apagado por um bom tempo. Sérgio agradeceu pela ajuda, Léon lhe ajudou a acordar os policiais, ajeitaram o criminoso de volta na maca, o colocaram na sua cela. Levaram Sérgio para a enfermaria, Léon estava preocupado com as marcas no seu pescoço, mas foram apenas hematomas, superficiais.

Naquela tarde, Sérgio e Léon voltaram na cela de Sid Animal, ele estava sentado no meio da cela com sua camisa de forças, tinha uma expressão de derrota, Sergio abriu a janelinha da porta, Sid o encarou e Sérgio lhe perguntou:

- Você quis me matar, o que foi que eu lhe fiz?

- Você ajuda a tirar minha liberdade, homens já fizeram guerras por liberdade. – respondeu Sid com um sorriso e continuou falando - mas, não eu não quis matar você, eu não me lembro de nada, eu sou um mero fantoche pra alguns espíritos maus, acho que alguns não gostam de você. Acho que algum ser sobrenatural quer você morto.

- Seu lunático. Você vai apodrecer ai, por todas as mortes que você cometeu.

- Eu nunca matei ninguém como você deve ter notado, eu lhe disse que desmaiei todas as vezes que fiz mal a alguém eu sou incapaz de fazer mal a alguém.

- Não minta para nós Animal, você é o estripador da barra, todo mundo quer matar você, me de um bom motivo para não fazermos isso. – disse Léon

- Acho que é o seu trabalho não deixarem me matar. – respondeu Sid com um sorriso no rosto.

- E que historia é essa de que não seriam seus demônios quem iriam me matar? – perguntou Sérgio.

- Eu não sei, eu sou uma mera ferramenta para coisas que você não entende.

Sérgio terminou seu plantão e foi para casa. Resolveu pegar o ônibus em frente ao colégio Pequeno Nazareno, que ficava a duas quadras do Lara, enquanto esperava o ônibus pode notar que do outro lado da rua, uma menina o encarava, não devia ter mais de seis anos, era morena, os cabelos crespos grandes, a farda suja, parecia que ela havia rolado na lama, Sérgio estranhou aquela menina esquisita, mas de esquisitice ele já estava de saco cheio, não conseguia tirar o pensamento das palavras de Sid Animal, se não fosse por Léon, não precisaria de demônios para matá-lo, o Animal teria se encarregado disso. Quando o seu ônibus chegou ele ainda tentou ver a menina de dentro do coletivo, mas ela havia sumido.

Sérgio chegou a casa na boquinha da noite, a casa estava toda escura, Sérgio entrou procurando pela mulher:

- Nanda. Cheguei.

Um barulho chamou sua atenção na cozinha, ao entrar naquele cômodo ele viu que estava completamente bagunçada, parecia que um tornado havia sido formado ali, no quarto ele escutou um chiado, entrou no quarto cuidadosamente, a televisão estava ligada em estática, desligou a televisão e o silencio encheu o quarto. Escutou passadas atrás de si, girou nos calcanhares e uma dor lancinante lhe encheu o peito, sentiu o sangue enchendo sua garganta, e viu o rosto e os olhos vermelhos de sua esposa, de sua boca saia uma baba amarelada, e um sorriso doentio estava na sua linda boca que ele tanto amava beijar, infelizmente, estava morrendo e não tinha nada para fazer. Uma voz que não era a de sua esposa, falou:

- Minha vingança será feita, minha vingança vai começar. Você não pode fazer nada para impedir.

Sérgio morreu sem entender o que tudo aquilo significava.

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Vejam como Sid Animal teve seu perdão em "Os Demonios do Hospicio II- O Exocismo"

João Murillo
Enviado por João Murillo em 29/09/2010
Reeditado em 20/10/2010
Código do texto: T2527246
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