A Baronesa
A tarde caia majestosa sobre o vale e contornando a imensidão uma sinuosa estrada que encontrava como limite nas alturas a casa da Baronesa, uma antiga escravocrata que não mais tinha escravos, mas não abdicava de certos costumes, como tomar o café colonial toda a última sexta do mês e sempre bem acompanhada.
Em seus 62 anos de idade a baronesa ainda inspirava a imaginação masculina, principalmente a dos mais jovens, sedentos de conhecer a experiente baronesa, e seus luxuosos aposentos.
Ao passar o meio dia de toda a ultima sexta feira de cada mês, as carruagens enfileiravam-se para levar as damas dos fazendeiros abastados para o alto do altiplano, na casa da expoente anfitriã.
Em seu vestido cravejado de diamantes e de um negro brilhante que cegava a visão, a Baronesa fazia questão de receber todas as convidadas.
Nestas reuniões além de bolos e pães, eram servidos petiscos saborosos de carne, previamente preparada pela funcionaria de confiança da Baronesa, bem como sucos e vinho tinto suave.
A frente da casa era tudo que se via de qualquer direção de que se olhasse, mas havia extensões do terreno em meio a fechados ciprestes que não se observava, ou me melhor, se tinha idéia, afinal a casa terminava onde a vista alcançava, e continuava com o arvoredo fechado, mas o que interessava na casa da Baronesa era a comilança e nada mais. Aqueles penhascos atrás eram intransponíveis e proibitivos, como sempre fazia questão de frisar a Baronesa a seus convidados que ficavam confinados a sala de estar e depois a de jantar.
Durante pelo menos 2 horas, o banquete móvel passeava nas mãos das 3 antigas escravas, a agora alforriadas.
Brigadeiros, bolos, e muitos petiscos a milanesa, batatas fritas com bacon, e podia-se sentir planando no ar a fumaça aromática vinda da cozinha onde eram preparadas as delícias.
Nesta quinta feira, senhora De Jarrier, teve que trazer seus dois filhos juntos, para que não ficassem sozinhos em casa, pois a empregada falecera recentemente.
Devidamente instruídos, ficaram sentados na sala até que o vinho começasse a fazer efeito e a guarda ótica da Baronesa enfraquecesse, dando frente para incessantes e frenéticas gargalhadas.
Foi neste ambiente de franca deterioração é que os dois meninos enveredaram por uma porta lateral, desceram uma escura e longa escada, pararam numa espécie de clarabóia ao lado e depois voltaram a subir e desta vez o dobro dos degraus descidos, sempre em direção ao fundo do palácio, e cada vez mais longe se ouvia o burburinho da sala.
Repentinamente a luz forte do sol, os apresentou a duas plataformas em paralelo ao longo do pequeno jardim.
Entre as árvores eles puderam ter idéia a que altura estavam.
Sobre as plataformas algo bem familiar aos dois jovens pares de olhos, tanto que balbuciaram em uníssono:
____Carne de sol?
Rapidamente olharam tudo em volta, e apalpando as paredes correram para dentro do palácio, mas não por onde vieram, enveredaram-se por um corredor, que a medida que caminhavam o frio ia aumentando.
E finalmente estavam os dois encostados em uma parede de metal extremante fria.
Por entre a bruma viram aproximar-se uma figura negra, com um avental branco com manchas de sangue, e sem muito esforço abriu o frigorífico, em cujas paredes geladas eles estavam, e depois sair com um generoso pedaço de carne, pingando sangue.
Entreolharam-se e apenas isso foi o convite que um fez ao outro para que ambos entrassem no frigorífico.
Quando abriu a grande porta de aço, o dantesco espetáculo tinha naquele maquinário da morte a razão de todo aquele misterioso enigma que rondava o palácio da Baronesa.
De um lado enfileirados 23 ganchos de pendurar pedaços de carne, no meio uma mesa com um metro de largura e 10 de comprimento inteira de mármore fino e do outro lado, amontoados os ossos, de onde a carne era tirada.
No fundo, atrás de uma porta, congeladas, grande quantidade de carne.
Na festiva sala continuava o consumo de carnes, vinhos e a mãe dos garotos sem se dar conta do que estava acontecendo, mas não a Baronesa.
Com os olhos ligeiros, tudo vendo, a Baronesa desapareceu da sala, percorreu quase todas as instalações do palácio e lentamente descia a escada que dava para o frigorífico quando o visgo de sangue coagulado no chão a travou no lugar sua trajetória, esbugalhou os olhos quando viu ao lado do longo corredor, pedaços de aventais, e lenços... Ainda sob violento nervosismo balbuciou...
____Empregadas descuidadas, eu ainda mato uma dessas.
Aguçou o ouvido e ali, a 15 metros do frigorífico em meio à penumbra ouviu, como que um bando de porcos comendo seu alimento com voracidade.
Entre o inverossímil do que acreditava que via e o paradoxal do que praticara, teve ímpetos de tentar salvar os meninos...
Mas... Salvar de que?
Pesava-lhe na alma todos aqueles escravos assassinados e conservados congelados para servirem de banquetes em sua sanha diabólica e canibal.
Ajoelhou-se em meio ao sangue coagulado espalhado pelo corredor enquanto os bichos faziam sua refeição, no entender confuso da Baronesa.
Assim arrastando-se percorreu os 15 metros, agarrou-se a entrada da porta, esticou e girou o pescoço, pronto...
Ela tinha em frente a si quatro lâmpadas vermelhas postas como olhos na face de duas criaturas de outro mundo, que apenas balbuciaram como trevas e em uníssono...
Baronesa, Baronesa, viemos do inferno para serví-la...
Meia hora depois que a Baronesa saiu da sala, vieram pelos corredores da cozinha os dois garotos sorridentes, cada um com um prato de petiscos...
____As senhoras querem petisco? É de carne fresquinha...Disseram em uníssono, os dois garotos...
Malgaxe
A tarde caia majestosa sobre o vale e contornando a imensidão uma sinuosa estrada que encontrava como limite nas alturas a casa da Baronesa, uma antiga escravocrata que não mais tinha escravos, mas não abdicava de certos costumes, como tomar o café colonial toda a última sexta do mês e sempre bem acompanhada.
Em seus 62 anos de idade a baronesa ainda inspirava a imaginação masculina, principalmente a dos mais jovens, sedentos de conhecer a experiente baronesa, e seus luxuosos aposentos.
Ao passar o meio dia de toda a ultima sexta feira de cada mês, as carruagens enfileiravam-se para levar as damas dos fazendeiros abastados para o alto do altiplano, na casa da expoente anfitriã.
Em seu vestido cravejado de diamantes e de um negro brilhante que cegava a visão, a Baronesa fazia questão de receber todas as convidadas.
Nestas reuniões além de bolos e pães, eram servidos petiscos saborosos de carne, previamente preparada pela funcionaria de confiança da Baronesa, bem como sucos e vinho tinto suave.
A frente da casa era tudo que se via de qualquer direção de que se olhasse, mas havia extensões do terreno em meio a fechados ciprestes que não se observava, ou me melhor, se tinha idéia, afinal a casa terminava onde a vista alcançava, e continuava com o arvoredo fechado, mas o que interessava na casa da Baronesa era a comilança e nada mais. Aqueles penhascos atrás eram intransponíveis e proibitivos, como sempre fazia questão de frisar a Baronesa a seus convidados que ficavam confinados a sala de estar e depois a de jantar.
Durante pelo menos 2 horas, o banquete móvel passeava nas mãos das 3 antigas escravas, a agora alforriadas.
Brigadeiros, bolos, e muitos petiscos a milanesa, batatas fritas com bacon, e podia-se sentir planando no ar a fumaça aromática vinda da cozinha onde eram preparadas as delícias.
Nesta quinta feira, senhora De Jarrier, teve que trazer seus dois filhos juntos, para que não ficassem sozinhos em casa, pois a empregada falecera recentemente.
Devidamente instruídos, ficaram sentados na sala até que o vinho começasse a fazer efeito e a guarda ótica da Baronesa enfraquecesse, dando frente para incessantes e frenéticas gargalhadas.
Foi neste ambiente de franca deterioração é que os dois meninos enveredaram por uma porta lateral, desceram uma escura e longa escada, pararam numa espécie de clarabóia ao lado e depois voltaram a subir e desta vez o dobro dos degraus descidos, sempre em direção ao fundo do palácio, e cada vez mais longe se ouvia o burburinho da sala.
Repentinamente a luz forte do sol, os apresentou a duas plataformas em paralelo ao longo do pequeno jardim.
Entre as árvores eles puderam ter idéia a que altura estavam.
Sobre as plataformas algo bem familiar aos dois jovens pares de olhos, tanto que balbuciaram em uníssono:
____Carne de sol?
Rapidamente olharam tudo em volta, e apalpando as paredes correram para dentro do palácio, mas não por onde vieram, enveredaram-se por um corredor, que a medida que caminhavam o frio ia aumentando.
E finalmente estavam os dois encostados em uma parede de metal extremante fria.
Por entre a bruma viram aproximar-se uma figura negra, com um avental branco com manchas de sangue, e sem muito esforço abriu o frigorífico, em cujas paredes geladas eles estavam, e depois sair com um generoso pedaço de carne, pingando sangue.
Entreolharam-se e apenas isso foi o convite que um fez ao outro para que ambos entrassem no frigorífico.
Quando abriu a grande porta de aço, o dantesco espetáculo tinha naquele maquinário da morte a razão de todo aquele misterioso enigma que rondava o palácio da Baronesa.
De um lado enfileirados 23 ganchos de pendurar pedaços de carne, no meio uma mesa com um metro de largura e 10 de comprimento inteira de mármore fino e do outro lado, amontoados os ossos, de onde a carne era tirada.
No fundo, atrás de uma porta, congeladas, grande quantidade de carne.
Na festiva sala continuava o consumo de carnes, vinhos e a mãe dos garotos sem se dar conta do que estava acontecendo, mas não a Baronesa.
Com os olhos ligeiros, tudo vendo, a Baronesa desapareceu da sala, percorreu quase todas as instalações do palácio e lentamente descia a escada que dava para o frigorífico quando o visgo de sangue coagulado no chão a travou no lugar sua trajetória, esbugalhou os olhos quando viu ao lado do longo corredor, pedaços de aventais, e lenços... Ainda sob violento nervosismo balbuciou...
____Empregadas descuidadas, eu ainda mato uma dessas.
Aguçou o ouvido e ali, a 15 metros do frigorífico em meio à penumbra ouviu, como que um bando de porcos comendo seu alimento com voracidade.
Entre o inverossímil do que acreditava que via e o paradoxal do que praticara, teve ímpetos de tentar salvar os meninos...
Mas... Salvar de que?
Pesava-lhe na alma todos aqueles escravos assassinados e conservados congelados para servirem de banquetes em sua sanha diabólica e canibal.
Ajoelhou-se em meio ao sangue coagulado espalhado pelo corredor enquanto os bichos faziam sua refeição, no entender confuso da Baronesa.
Assim arrastando-se percorreu os 15 metros, agarrou-se a entrada da porta, esticou e girou o pescoço, pronto...
Ela tinha em frente a si quatro lâmpadas vermelhas postas como olhos na face de duas criaturas de outro mundo, que apenas balbuciaram como trevas e em uníssono...
Baronesa, Baronesa, viemos do inferno para serví-la...
Meia hora depois que a Baronesa saiu da sala, vieram pelos corredores da cozinha os dois garotos sorridentes, cada um com um prato de petiscos...
____As senhoras querem petisco? É de carne fresquinha...Disseram em uníssono, os dois garotos...
Malgaxe