Amor de Sangue
Sempre fui um cara tímido e acima de tudo descrente. Não acredito em nada que não posso ver ou comprovar por meio da ciência. Nunca me prendi em religião, dogmas ou qualquer outra coisa que fosse baseado no invisível ou na crença do irreal. Isso tudo mudou quando eu a conheci. Ou melhor, quando me apaixonei.
Sua figura ruiva e pálida misturada com seu corpo escultural me levava a loucura, coisas que jamais ousei imaginar.Frequentemente me desconcentrava de minhas obrigações, me tornando assim motivo de chacota e piadinhas em meu departamento. Mas o que meus colegas não sabiam é que meus devaneios tinham um nome, o mais belo de todos os nomes. Sabrina. Sempre vestia-se de maneira elegante com suas roupas negras com aqueles decotes avantajados, que deixava a beleza de seu colo sempre a mostra. Seus lindos cabelos ruivos sempre suspensos deixavam à mostra sua pequena tatuagem no pescoço. Aquele desenho de uma cruz, que era magnífica, mas que eu desconhecia o significado.
Conversava com todos, porém apenas o necessário. Não se misturava, era de poucas palavras, misteriosa, sempre mantinha distância dos colegas de trabalho o que dava mais motivos para piadinhas e comentários nas rodinhas do horário do almoço:
─Essa Sabrina é estranha não acham? Não gosta de praia é de pouca conversa - Comentou Roberto dando risada
─Também acho. – o riso foi espalhando-se entre o grupo - o Alex a acha linda, não acha?
Roberto e Sérgio olhavam para mim com uma gargalhada alta e sarrista.
Eu comecei a gaguejar e acabei derrubando o café sobre minha camisa.
─ Não disse Sergio, o Alex gosta da esquisita.
Não adiantava brigar com eles, a fofoca já tinha se espalhado. Abaixei a cabeça e fui me limpar. Após esse dia tentei evitar todos piorando cada vez mais a situação. Alguns até se ofereciam, diziam querer me ajudar a me aproximar de Sabrina, que parecia nem dar ouvidos aos sarros. Aliás, nem parecia realmente ser deste mundo. Transparecia uma ideologia que estava ali apenas de passagem e todos nos éramos simples mortais sem graça e que nada acrescentaria a sua vida.
Os dias foram passando, até aquela terça feira, em que tive o primeiro contato com esta mulher, mudando completamente o rumo de minha vida.
Durante meu horário de almoço, estava esperando todos saírem para almoçar, segui para a cozinha. Quando comecei a comer ouvi um barulho. Larguei minha comida e fui até a recepção, ver o que havia acontecido. Sabrina entrou com pressa, parecia nervosa e nem percebeu minha presença. Seguiu direto para a cozinha onde rapidamente sentou-se, tirou uma garrafa estranha da bolsa e ingeriu a bebida em poucos goles. Eu na minha curiosidade segui e fiquei espiando-a. Um liquido vermelho escorria dos seus lábios carnudos e sensuais ela parecia estar em um transe e eu hipnotizado com aquela linda visão. Como com um baque meu doce sonho foi quebrado por sua gélida voz:
─Está servido Alex?
Foi a primeira vez que aquela deusa sorriu e dirigiu a palavra a mim. Meu corpo se paralisou, minha voz já não conhecia a fala, me impossibilitando de responder. Sabrina continuou sua provocação. Deixou seu sobretudo abrir revelando os seus lindos seios e seu corpo coberto com tatuagens que pareciam ser diversos símbolos místicos.
Eu continuava paralisado, só consegui acenar com a cabeça em uma negativa. Sabrina se aproximou sussurrando.
─Eu sei que quer, não lute com seus extintos Alex você quer mais do que eu quero você quer a mim e eu te darei não só o meu corpo, mas algo que você jamais pensaria ter em sua vida!
Eu enfeitiçado pela deliciosa visão de seu corpo me deixo envolver por suas palavras. Sabrina já percebendo a minha fraqueza sorriu e me prendeu em um pequeno espaço entre a cozinha e o almoxarifado. Encostando-se lentamente em mim. Sua mão abria a braguilha da minha calça com uma agilidade que eu nunca vi. Eu apenas me deixava levar pelo momento que parecia ser um sonho de adolescente.
─Liberte o demônio do seu interior Alex!Seja meu. Entregue a sua alma e venha sem medo a meu mundo! Hummm. Isso !!
Sabrina falava frases estranhas e gemia alucinadamente parecia querer me possuir e conseguiu. Eu apenas me deixava levar.
Em um momento enquanto eu a penetrava começou a dar mordidas em minha orelha que foram descendo para o meu pescoço e se transformou em uma mordia, ou melhor, uma dentada. Senti os seus finos dentes adentrarem em minha jugular por istinto soltei um grito e a empurrei. Sabrina apenas sorriu um sorriso mais que maquiavélico e com uma estranha força veio até mim e novamente me prendeu, avançando sobre o meu corpo dando outra mordida. Essa, mais voraz, parecia sugar todo o sangue do meu corpo. Após satisfazer-se me soltou sussurrando:
─Você foi meu escolhido Alex. Sinta-se vangloriado por isso sua vida é minha vida te dei mais que amor te dei a eternidade!
Eu não podia acreditar no que meus olhos viam. Sabrina em minha frente pálida, mas uma palidez diferente. Suas tatuagens pareciam ter vida eu podia ver o sangue escorrendo não só em seus lábios, mas em seu corpo. Seus olhos vermelhos da cor do mesmo sangue que outrora tinha me sugado e os dentes brancos, mas pontiagudos. Tudo fugia da realidade até que eu comecei a sentir as mudanças em meu corpo e desmaiei.
Amanheci em um estranho apartamento. As palavras de Sabrina me acordaram, Não sentia mais medo ou incredulidade. Algo novo tinha nascido dentro de mim eu só queria estar perto da minha amada e servi-la! Sim eu era seu escravo e tinha tudo que um homem sempre sonhou: um grande amor e a eternidade. Mas isso tudo tinha um preço alto a ser pago, a venda da minha alma! A abstinência por aquele líquido vermelho e delicioso me levava a loucura eu relutara no começo a querer me alimentar de sangue, mas Sabrina me fez gostar e apreciar essa nova iguaria e juntos resolvemos voltar ao serviço e claro a seduzir e ter novas presas.Tudo era lindo eu aprendi a gostar dos requintes da crueldade e juntos nos divertíamos até o momento de hoje amigos.
Após alguns meses Sabrina enjoou de mim me trocando por Sergio meu colega de serviço e hoje bem... Hoje aguardo o meu julgamento aqui no apartamento junto de minha amada Sabrina inerte e nua do meu lado, arranquei sem piedade, enquanto repousava após uma noite de amor com seu amante, seu coração que agora esta em minhas mãos pulsando só para mim.
Deixo aqui registrado para vocês, meus caros amigos nestas amaldiçoadas linhas do meu destino nada mais espero. Só me resta aguardar sem medo e tranqüilo o julgamento final dos seres da noite por essa minha crueldade. O preço que pagarei por ter assassinado a princesa dos vampiros? Não sei! Apenas sei que entre esses seres nefastos não existe misericórdia.