As Ninfas do Bosque

As Ninfas do Bosque:

Por Giomar Rodrigues

Fatigado e desorientado pela caminhada que se estendia muito além do que inicialmente fora planejado, Arthur estava prestes a assumir, embora contra seu tolo orgulho irracional que estava perdido. Havia decidido tomar certas liberdades nos momentos de ócio, começando com pequenos passeios e trilhas por florestas distantes de sua atual localidade, já que tinha adquirido o hábito de mudar-se com certa freqüência.

Embora não conseguisse aceitar encontrava-se realmente perdido, o que anteriormente faria com que fosse tomado de inimaginável sofrimento agora lhe causava uma sensação deliciosa de controle e prazer.

Não demorou muito para avistar um lindo campo logo à frente, pois todo seu caminho estava preenchido com flores de diversos tipos e cores, criando um mosaico divino digno apenas dos céus. Mas embora tivesse ficado encantado com o ambiente, a próxima paisagem que avistou deixou-o sem fôlego, pois estava diante de três belas mulheres sentadas em uma rocha gigantesca no meio do caminho que lembrava brevemente um divã. As beldades não eram menos que uma linda loira de olhos azuis, uma ruiva de olhos verdes e uma fogosa negra de olhos castanhos. Todas estavam a brincar seminuas de maneira inocente, mas quando notaram a súbita presença, não se sentiram tímidas, muito pelo contrário, insistiram em convidar o estranho para participar de tão sensual dança.

Invocado através de gestos sensuais que tornavam-se cada vez mais ousados e provocativos, Arthur naquele momento de desmedida luxúria, se viu obrigado a ceder aos copiosos chamados das três divinas beldades. Não se controlando mais, determinado a saciar os rebeldes desejos sexuais das criaturas, se entrega ao prazer absoluto do momento, jogando todas as coisas que possuía consigo o mais longe possível. No exato instante da consumação sexual, ainda embriagado de desejo, reparara ao seu redor que estava sendo acariciado, lambido e beijado pelas outras mulheres presentes. Só veio a lamentar-se de imediato pelo som de seu celular que estava com suas coisas agora distantes, mas ao repousar novamente seus olhos nas maravilhosas mulheres, notara que não somente o maldito celular havia quebrado o clima, como também havia desfeito algum tipo de encanto que lhe envolvia, pois agora estava copulando com uma criatura horrenda oriunda dos mais sombrios dos pesadelos de um lunático.

Cercado pelas infernais criaturas, que continuavam agora em vão tentar seduzi-lo, permanecia não acreditando na doentia cena que se encontrava, mas nesse instante notando que seus carinhos não eram mais necessários as bestiais criaturas, tomaram uma postura agressiva e extremamente violenta contra o homem, que fora brutalmente devorado vivo em meio a histéricos gritos de agonia, para ser esquecido da história daquele malévolo bosque.

Os anos foram passando, e o bosque voltou a atrair voluptuosos olhares de um fotógrafo, que estava em suas mais que merecidas férias, viajando somente com a companhia de seu cão, este um grande e brincalhão vira-latas chamado de Korp. Diferente do cão, seu dono era um sujeito sério, mas dotado de bom coração, este que doía consecutivamente pela recente perda de sua esposa em um trágico acidente de trem, o amargurado homem era chamado William Grayson.

Estavam chegando próximos ao local desejado rapidamente, pois este dirigia um luxuoso Fusca conversível, mas devido às brincadeiras constantes de seu companheiro canino, um acidente acabou sendo inevitável, assim acabara saindo da estrada e indo de encontro a uma árvore próxima dotada de imensas raízes que acabaram por auxiliar na redução da gravidade da situação, pois os pneus ficaram presos nas raízes evitando coisas piores. Graças aos deuses saíram praticamente ilesos do acidente, somente com algumas escoriações e nada mais.

O restante da viagem teve de ser toda a pé, o que enfureceu profundamente william e o que realmente alegrou Korp, que não compreendia a situação.

- Merda!! Por que tinha que acontecer isso logo agora? - Se questionava constantemente o jovem, demonstrando a fúria à flor da pele.

Logo que adentraram o interior do bosque sua fúria foi esquecida, pois repousou os olhos nas mais diversas e belas paisagens, que sua câmera poderia fotografar. Sem demora encontrou, para seu espanto e alegria uma inquietante trilha feita por flores, que inevitavelmente foi possuído pela necessidade de segui-la. Chegando ao destino final percebeu três estranhas criaturas esfregando-se livremente na surpreendente formação rochosa que lembrava muito uma cama ou divã. As criaturas eram as mais belas que já havia visto em toda sua vida, nesse instante esquecera-se dos problemas do mundo lá fora, e estava pronto para entregar-se ao desenfreado desejo sexual, seus olhos não podiam piscar nem olhar para outra coisa que não fosse às beldades a sua frente, mas foi inesperadamente salvo por aquele que, já havia esquecido seu cão que latia ferozmente para as mulheres, quando voltou a contemplar a maravilha anterior, percebera que tinha se esvaído, pois agora somente havia restado três bestiais criaturas com faces que lembravam primatas, com orelhas pontiagudas, ombros largos e peludos, com braços longos e finos com mãos que eram garras gigantescas e disformes, tinham o estômago extremamente dilatado e possuíam um fina cauda.

Logo perceberam que não eram mais objeto de desejo para mais ninguém, então mudaram suas atitudes, tornando-se totalmente apreensivas e prontas para um ataque repentino e agora esperado. Sem pensar duas vezes, William pegou sua mochila, nela ele depositava toda sua esperança, pois tinha um revolver escondido e os equipamentos de acampamento. Contudo só conseguiu encontrar rapidamente um afiadíssimo facão, já que estava recebendo um violento ataque de uma das criaturas. Desviando com imensa agilidade do ataque conseguiu realizar um contra-ataque na besta, decepando violentamente sua cabeça, regando com ódio a ira das demais bestialidades. As duas criaturas iniciaram um ataque coletivo, que foi arruinado graças a Korp que atingiu com uma mordida a panturrilha de um dos monstros, enquanto o outra prosseguia com a investida, no determinado instante Willian começou a correr para tentar encontrar sua arma, mas pode pegar apenas seu canivete retrátil, que encontrava-se no primeiro bolso da mochila.

Como a distância estava tornando-se cada vez menor, não teve outra escolha, a não ser arremessar o canivete que acabou por perfurar um dos olhos, da agora caolha criatura, que agonizava de dor, embora continuasse a correr ainda mais depressa. Tão logo William encontrou sua arma, mas não teve chance de usá-la, já que estava agora embaixo da criatura, pois perdeu tempo demais para retirar a trava de segurança e engatilha-la, encontrava-se em péssima situação, não tendo forças necessárias para conter as inevitáveis mordidas da besta em seu rosto, sendo intoxicado pelo fétido hálito de carniça que vinha de sua boca, que insistia em babar nele, um líquido espesso e amarelado. Seu tormento teve fim quando com um esforço supremo, encontrou seu facão, que usou para atravessar o peito deformado da besta, causando a ela uma merecida agonia. Levantou-se com muito esforço, estava fisicamente castigado, mesmo assim pretendia ir até o fim daquela loucura em que se encontrava.

Tentou correr para voltar até a estranha formação rochosa, onde Korp tinha sido visto pela última vez, pois na determinada situação seu cão era um último e desesperado resquício da sanidade que ainda lhe restara.

A cena que presenciou a seguir lhe embrulhou o estômago, não restara chance alguma de salvação para Korp, que agora era devorado vivo, enquanto agonizava, já que seus membros haviam sido arrancados um a um, enquanto seu corpo ainda tinha vida. Podia-se ver a expressão de sofrimento no pobre cão, onde não restava força sequer para abrir a boca, enquanto a criatura infernal se alegrava espremendo as patas de Korp para beber todo seu sangue de forma quase ritualística.

William começou a correr, mesmo mancando com a arma em punho, que para a surpresa da criatura, foi surpreendida e rapidamente morta por quatro tiros em sua cabeça. Mesmo morta a besta apresentava um sorriso sinistro em sua face, o que reascendeu a fúria cega do homem que continuou atirando no cadáver por várias vezes, ao notar que o esforço era inútil, parou e sentiu-se desesperado quando realmente percebeu o terrível rumo que tomara suas férias. Quando deu por conta que Korp ainda permanecia em profundo estado de sofrimento, tomou a correta decisão de sacrificá-lo.

- Não se preocupe meu amigo, você foi de imensa ajuda hoje, acho que sem você não teria conseguido... – Murmurava William com lágrimas nos olhos e um enorme pesar no coração, por nunca ter percebido o real significado do fiel amigo.

Encostou suavemente a arma na cabeça ferida de Korp, o som do tiro ecoou por todo bosque, mas principalmente na cabeça de William, seria um som que ali permaneceria para sempre.

FIM

Giomar Rodrigues
Enviado por Giomar Rodrigues em 20/09/2010
Reeditado em 28/09/2010
Código do texto: T2509590
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