Abismo Profundo dos Sonhos

Abismo Profundo dos Sonhos:

Por Giomar Rodrigues

Meu nome é Edgar Howards tenho 23 anos, estou pensando no momento em mudar de uma forma drástica o rumo de minha vida, ou morrer tentando. Fora esse drama todo, há um motivo real para tudo, recentemente fui rejeitado por uma garota muito importante em minha vida, ela era minha amiga desde os meus tempos infantes. Desde então venho apenas querendo fugir da atual realidade, me concentrando somente em escrever poemas recheados de sofrimento, sempre antes de ir para a cama, com a vaga esperança de não mais acordar...

Canção de Jack

"Sofrimento eterno inflama a alma,

solução não encontra...

Chafurda na lama como toda raça humana,

amaldiçoada toda existência...

pois sinto que não há mais essência..."

Acordo com o som do granjear de pássaros, que não conheço. Me encontro numa sala repleta de objetos antigos, como lamparinas e mosquetes. Durante o tempo que permaneço deitado não percebo, que existem quadros nas paredes, muitos deles. As pessoas neles pintadas, assim como seus cenários me parecem representar épocas tão antigas, da mesma maneira que me vem ao pensamento um sentimento de hierarquia, já que noto que os semblantes melancólicos e fechados, possuem uma grande semelhança física.

Ao levantar-me encontro tonto, com as pernas bambas, como se estivesse ali naquele lugar à muitos dias. A luz naquele recinto era escassa, havia apenas uma lamparina, daquelas de querosene para me auxiliar, se não fosse esse fato não haveria notado que havia uma mesa a frente, nela uma gaveta. Esta gaveta tinha uma tranca, mas felizmente encontrava-se aberta. Dentro dela encontrei alguns itens, que eram dignos de nota, um diário muito velho, uma chave, que primeiramente acreditei ser da gaveta, mas foi um ledo engano, ainda havia um revólver do tipo COLT, com três balas, carreguei todos os itens comigo. A última anotação do diário tinha a seguinte mensagem:

18 de Fevereiro de 1834...

“Meu trabalho está terminado, embora o resultado não me alegre, me sinto culpado pelo mal causado a alguém tão querido para minha família... meu próprio filho, não achei que as reações seriam tão catastróficas, que no momento para minha culpa, não encontro outra saída, senão desistir da minha vida.”

Assim terminava o diário, logo que terminei de lê-lo, deixei a cabana, que imediatamente descobri ser o refúgio de tão amargurado homem. Mas quando passei pela porta, algo chamou toda minha atenção, era um cadáver de encontro a parede ao lado da porta, havia dado cabo de sua própria vida, atirou dentro de sua boca com um mosquete, idêntico aos contidos naquela sala que acordei. Certamente aquele homem era o senhor do quadro e também o detentor do diário, mas agora era impossível reconhecê-lo, já que sua nuca havia sido estraçalhada pelo disparo, seu corpo ainda continha pólvora, que é muito presente nestas velharias.

Resolvo sair daquele cenário, percorro o único caminho que encontro, uma floresta escura, embora não fosse um cenário muito reconfortante. Enquanto sou guiado pela fraca luz de minha lamparina, tento não prestar atenção nos sons de animais locais que me provocam um estridente sentimento de medo, mesmo não deixando de sentir durante todo o percurso, a inquietante sensação de estar sendo observado. Quando vejo uma placa com o nome do lugar, percebo que a floresta acabara, e também mais adiante um intrincado números de cabanas.

Vou em direção a única cabana, que possui iluminação, mas sua porta estava trancada, que frustrante minha sensação, mas felizmente lembro da chave encontrada na gaveta, ela resolve meu problema, encaixando perfeitamente na fechadura. O cenário que encontro adiante não é dos mais agradáveis, havia sangue por toda parte e os móveis estavam todos quebrados ou desarrumados, o que me alertou de uma presença iminente naquele lugar.

Notei que uma luz vinha de um dos quartos, a porta esta fechada. Me aproximei para abrí-la, nesse momento já podia ouvir uma pesada respiração do outro lado da porta, como se algo me esperasse. Ao tocar a maçaneta, senti como se todo meu sangue agora fosse de gelo e percorresse dificilmente cada veia de meu corpo. A porta foi abrindo devagar, revelando seu sinistro interior.

Ao entrar no quarto, que agora tinha sua porta totalmente aberta, notei uma horrenda criatura caída ao chão, aparentemente ferida, mas ainda viva, não demorou muito para ela notar minha presença, o que à fez levantar rapidamente, embora estivesse cambaleando.

Quando apontei o revólver para a agonizante criatura, quase que por instinto, o que fez com que a refrea-se, aparentemente resultou em um sentimento de tentar aplacar sua ira usando a mim como meio disto.

Não mais resistindo, dei os três tiros que tinha em minha arma na criatura, não esperando os repentinos tremores de minhas mãos, acabei errando dois deles, mas felizmente o ultimo atingiu o alto do pescoço da besta. Que fez com que parasse a cerca de quinze centímetros de mim. Eu me afasto um pouco, então imediatamente espasmos violentos dominam a criatura, que logo tem encontro ao chão, então percebo o mais horrível, a disforme criatura que agora jazia pálida no chão da cabana, era ninguém menos que o próprio filho do demente autor do diário. O resultado de tão surpreendente descoberta me provoca enjôos, que não conseguindo conter acabando por vomitar, apoiado em uma grande janela aberta de madeira. Tentando lentamente me colocar em pé novamente, visivelmente abalado pelos fatos, acabo por desmaiar, sendo que a ultima visão que lembro ter, é de uma lua fantasmagoricamente carmesim.

Ao abrir novamente meus olhos, noto que o cenário tomara outro rumo, acabara de retornar para meu quarto, o refúgio de meus sonhos, percebendo que tudo não passara de um sonho, talvez proveniente dos mais profundos abismos da loucura, assim achei, mas algo me tornou instantaneamente perplexo, quando notei que meu diário, detentor de meus poemas e meus delírios, era incrivelmente idêntico ao de meu amargo sonho, porém somente era mais novo, o que causou em mim uma terrível sensação imediata, fui consumido pela idéia de que talvez aquele fosse o mesmo diário.

FIM

Giomar Rodrigues
Enviado por Giomar Rodrigues em 20/09/2010
Reeditado em 28/09/2010
Código do texto: T2509585
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