A Noiva de Santa Fé.
 
Em nome do pai, do filho e do espírito santo... A voz rouca do velho cardeal finalizava a extrema-unção de uma bela mulher vestida de noiva.
Distante 5 kilometros dali, 1 dia separava a tragédia, da romântica musica e do perfume aromático de tantas e exóticas flores a enfeitar a maravilhosa igreja no alto de uma colina de Santa Fé, cidade ao sul dos Andes com vistas para a imensidão do vale ao longe.
Salomé Bordaberri, dentre os 45 mil habitantes de Santa Fé, a mais linda criatura, atleta, com força extraordinária nos braços, um presente dos Deuses para os olhos de quem a pudesse fitar.
Contava agora com 35 anos, e todos julgavam que a má sorte a acompanhava pela vida, pois em 6 ocasiões os noivos a quem escolhera, ou a abandonaram ou tiveram mortes misteriosas, e a cada núpcias de Salomé a pergunta inevitável:
____Será que agora Salomé iria ter finalmente um casamento, para a sua felicidade?
Apesar do infortúnio que beirava a vida de tão bela jovem, havia sempre muitos pretendentes, pois a beleza da moça seduzia olhos banhados de um lilás sobrenatural, e um misterioso sorriso que levemente contraia a face num convite surreal para o amor.
Três dos ex noivos, tiveram mortes horríveis. Nos longos bosques recortados de pequenos caminhos, ficavam as pousadas que levavam a região pessoas de diversas regiões, e que sempre que aconteciam estas tragédias eram investigadas, porém nada era apurado, e prosseguiam as mortes e também a desconfiança de que os matadores vinham de outros lugares e matavam para roubar.
Era sempre creditada a má sorte da moça as tragédias e no caso dos três mortos, foram empalados em lugares diferentes, mas nas redondezas das pousadas, aliás lugares que sem receios eram escolhidos por Salomé, que sempre respondia ao lhe perguntarem o porque da escolha:
____Eu sou protegida pelo meu Deus e nada me acontecerá...
Isso intrigava as pessoas, mas mais admiravam a coragem da moça do que temiam pela sua vida.
Em nenhuma oportunidade Salomé foi encontrada ao lado do corpo, pois a resposta era sempre a mesma:
Estava repousando na pousada escolhida e o noivo saiu caminhar na noite.
Os dois outros ex noivos de Salomé, eram tidos como desaparecidos, e jamais alguém encontrou os seus vestígios.
Um detalhe que despertava atenção dos legistas era que dos cadáveres, podia-se ver claramente que lhes faltavam alguns pedaços, imperceptíveis aos olhos, pois eram abertos, as vísceras retiradas e depois novamente costurados e vestidos com os andrajos que lhes restavam.
A cerimônia religiosa de Salomé e Andrés Valadez era o acontecimento do ano em Santa Fé.
Salomé tinha uma pequena boutique e viajava constantemente aos grandes centros para comprar roupas e numa destas viagens conheceu Andrés, uma alma astuta, comerciante de armas e não foram raras as vezes em que Salomé o olhou com angustia, e sempre que surgiam estes olhares eram antecedidos de lembranças de seus outros ex noivos, era uma mistura de medo e vontade de acabar com a relação ali, naquela hora.
A marcha nupcial entoada anunciou a entrada da noiva e no altar um ansioso Andrés aguardava.
O olhar angelical de Salomé brilhou de felicidade ao percorrer os 30 metros até o altar acompanhada de seu pai.
Eram 17h30min mim quando sorridentes os dois deixaram a igreja e sob aplausos e chuva de arroz, foram cumprimentados por todos os presentes que dedicaram a esfuziante Salomé felicidade eterna com seu novo noivo.
O sol se punha entre as montanhas quando o cadilac branco dirigido por Andrés contornou floridos caminhos até a pousada mais longínqua da cidade, de onde não podia se avistar Santa Fé, mas de uma deslumbrante paisagem no lado oposto.
O jantar a luz de velas, foi generosamente apreciado por Andrés, por sua vez Salomé, pouco aproveitou do banquete, talvez por cansaço, ou quem sabe alguma indisposição.
Um banho relaxante a dois na banheira da pousada foi o fechamento do lindo dia, que anunciava uma noite fantástica, não sem antes, com as apaixonantes carícias ser sorvido um litro do mais amadurecido vinho da adega da pousada.
Exatamente a meia noite os noivos preparavam-se para deitar, sob a relaxante musica andina, quando Andrés viu-se sozinho no quarto.
A mala de Salomé embaixo da cama lhe chamou a atenção, porque embaixo da cama?
Eram detalhes da vida a dois que só mais tarde com o tempo poderia descobrir, agora não era hora, decididamente.
Salomé voltou com um brilho surreal nos olhos, parecia fome... Fome de amor, fome de... Quem sabe de que?
Amaram-se a exaustão, a madrugada silenciosa foi testemunha dos gemidos apaixonados que cruzaram a noite.
Na penumbra do quarto na alta madrugada, com os olhos semicerrados Andrés vislumbrou algo a mover-se, esticou o braço, não sentiu Salomé, um frio na espinha, o pôs em alerta, pois lhe veio a cabeça o pior:
____Meu Deus seqüestraram Salomé...
Na sua visão sonolenta, aquelas sombras no quarto eram de bandidos que levaram Salomé, e aguardava assim a sua vez para reagir.
Virou-se e esperou, ouviu a porta do banheiro fechar e passos lentos vindo para a cama, pensou agora é a minha vez...
Quando os passos pararam, virou-se rapidamente...
A mão esticada de Salomé um leve sorriso e o convite:
____Vamos amor, apreciar o nascer do sol no vale?
Andrés vestiu-se, e puseram-se a caminhar, Salomé estranhamente vestida de noiva.
A 600 metros da pousada sob um rochedo, Andrés sentou-se na frente e Salomé, esta enlaçando as pernas na barriga de Andrés.
O silencio foi o prenuncio do que iria acontecer.
Ele sentiu as pernas de Salomé afastarem-se de seu corpo, quando se virou a forma arredondada do silenciador do revolver de Salomé o deixou a principio em pânico, e depois pensou:
____Se eu tiver 1 minuto...
num segundo de descuido da moça, da maneira que estava, segurou firme os tornozelos de Salomé e violentamente os ergueu, batendo a nuca da moça nas pedras, fazendo a desfalecer
O dia já amanhecia quando numa estradinha ao lado do alto despenhadeiro, acharam Salomé agonizante...
Depois da extrema-unção, embaixo do vestido um punhal e no cabo do punhal desenhados 6 traços...E enrolados numa pequenina bolsinha, fios e agulhas para sutura...
Num último instante puderam ver os lindos olhos de Salomé partirem famintos para a eternidade...
 
Malgaxe

 
 
Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 07/09/2010
Código do texto: T2484121
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