Fada Negra

Fada Negra

O odor da terra e sangue se mesclava em uma doce fragrância de morte. Os sons das espadas entoavam a canção dos mortos. Nossos guerreiros cegos em fúria destruíram a tudo, condenando nossos reinos e nações ao esquecimento, pois não haveria mais bardos para contar as historias de terror que aqui permaneceram.

Eis que eu, um mago da oitava geração, descendente do grande feiticeiro Andarot, testemunhei nossa destruição. Escrevo à luz de velas tímidas, da qual a chama logo se desvanecera.

No princípio nos magos, sabíamos da existência dos chamados multiversos, espelhos de nossa própria realidade. Havia um em particular, denominado mundo real, um universo cinza, de gigantescas construções. Seus habitantes guerreavam por motivos tolos, eram ambiciosos e destrutivos, diferentes dos nossos.

Enquanto a destruição eclodia lá, a paz e a harmonia reinavam aqui e observávamos aqueles seres estranhos, intrigados com a sua natureza profana. Mas algo penetrou em nossas barreiras mágicas, invadindo nosso plano. Uma força poderosa e maléfica pairava pelos vales corrompendo nossas criaturas, espalhando o ódio e a discórdia aos nossos povos. Foi assim que surgiu a primeira grande guerra, chamada de Lua Sangrenta. Todos os nossos vales sucumbiram à secura, águas que um dia foram cristalinas tornaram-se lodosas, turvas e poluídas. A fome, a velhice e a doença não pouparam nem mesmo nossos seres mágicos que pereceram na miséria.

Nossa rainha observava a tudo com olhos de pesar. Sentia que dia após dia a força negra se fortalecia. A rainha era um dos seres mais belos de nosso mundo, era uma fada poderosa e sábia. Era justa e amável e possuía um encanto único, capaz de abrandar um coração aflito.

Então nossos melhores sacerdotes foram reunidos em um conselho emergencial, eu estava entre eles. Estudamos pergaminhos e registros antigos a procura do encantamento perfeito. Recolhemos cada ingrediente, organizamos o altar, eu estava ciente do risco, pois a nossa rainha tentaria absorver as forças malignas, servindo assim de receptáculo. Era tudo o que tínhamos, era vencer ou fracassar diante de nossa única esperança.

Diante do seu trono ela recitou os versos em língua antiga. O vento gélido tornara-se violento e as sombras moviam-se ao redor do seu frágil corpo. Ela absorvia para si cada sombra, diversas e revoltas, representações do puro mal. Mas algo estava errado, eu podia sentir apenas no olhar de agonia e dor da nossa rainha. Ela se prostrou ao chão na tentativa inútil de lutar. Tentamos nos aproximar para impedir o encanto final, mas uma barreira mística nos impedia. E nas sombras pude vislumbrar o turbilhão de imagens violentas que poderiam facilmente enlouquecer um homem comum.

Quando não pode mais suportar, rendeu-se a próprio tormento, soltando um terrível grito, que estava sufocado em seus pulmões. Subitamente as sombras lhe envolveram o corpo, como uma grande mortalha. Suas feições angélicas foram transpostas por uma face fria e rígida, seus olhos antes de um azul fulgido, agora eram sombrios e vazios. E em seus lábios um sorriso diabolicamente traiçoeiro.

Erguendo apenas os dedos finos ela exterminou um a um dos sacerdotes, com um poder que jamais vira igual. Lutei além do que as minhas forças permitiam, resisti, a beira da morte fui jogado ao calabouço, meus poderes foram extraídos, minha essência fora roubada, mas ainda sim, sobrevivi. E agora prisioneiro eu sou, a espera da morte certa, ou a espera de um herói que venha nos libertar.

Nossa rainha fora corrompida, nosso mundo será extinguido, este será o fim da terra da fantasia.

Fim

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Taiane Gonçalves Dias
Enviado por Taiane Gonçalves Dias em 02/09/2010
Reeditado em 06/09/2010
Código do texto: T2474769
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