Além do Terceiro Sono


       Ethel veio da cozinha para a sala e seguiu a luz fosca da janela da sala, e até ela foi, os olhos vermelhos, já era a oitava noite que o badalar do velho relógio da sala a acompanhou no cruzamento de mais uma longa madrugada de angustia, e quando conseguia relaxar, o seu corpo como que recebendo abruptos empurrões, punha-se em alerta, e as dores na alma eram tantas que o alívio estava logo ali, na forma de pequenas cápsulas azuis, calmantes misturados a leves anfetaminas.
A violenta vida que Ethel teve não ressurgia quando estava em alerta, mas no mais profundo do sono, por isso a relutância em dormir, era como mergulhar em piscinas de sangue, horror vivido por ela ao longo de 25 anos.
A necessidade de ver o semelhante agonizando era como um lenitivo para a alma daquela mulher, que arrastava hoje e aos 56 anos era como um coche fúnebre, carregando todas as mortes que lhe recaíam.
Já tivera a força de 3 homens adultos, fora uma bela jovem nórdica, que atraía os homens e os matava com requintes extremos de crueldade, mutilando de seus órgãos sexuais, e por fim os degolava, escrevendo com o sangue a data do crime, ao lado.
Acreditava em sua demência que tudo aquilo não havia acontecido, que era fruto de pesadelos inexplicáveis, mas uma coisa a apavorava, o repousar do corpo até o limiar da morte, por isso as drogas para suportar.
A casa em que Ethel vivia, era retirada do povoado, numa leve colina.
O tempo castigou e pintou de negro uma bela casa que já foi de um lilás claro e rodeada
de flores. Ethel cumpriu prisão por 10 anos, por homicídios e saiu porque detectaram uma doença mental, vivia agora fora do povoado nesta casa, cedida por parentes, mas por opção vivia sozinha.
Esta casa era o reduto não de uma pessoa comum, mas de um ser que exalava o cheiro putrefato de sangue, que ali, matou e enterrou todos os desavisados que cruzaram o seu caminho.
E que depois de liberta, continuava ali com seus fantasmas, apesar de seu cérebro não ter armazenado estas lembranças.
Todos que olhavam da estrada a casa afastada 400 metros dela, sabiam viver ali uma serial killer e que era visitada uma vez por mês pelo médico. Alguns parentes levavam alimentos de cada quinze dias, e era tudo que sabiam ninguém ousava se aproximar de um inferno tão evidente.
Era uma tarde verão, quando 3 garotos vinham pela estrada, e sentiram um forte odor de carniça, vindo da casa e muitos abutres sobrevoando aquele local.
Com um velho revolver WW 38 cravado na mão esquerda, uma perfuração entre os olhos, e na mão direta, várias cápsulas de barbitúricos, o corpo apodrecia pelo menos há uma semana.
Ao ingressar no mais profundo sono, um terrível pesadelo a acometeu, exatamente o último homem a quem ela matou, surgiu a sua frente, depois de degolado, empunhando um coração pulsante...
Ethel que cochilava com a arma na mão sempre, neste momento abruptamente acordou e inconscientemente disparou a arma esfacelando o próprio cérebro, numa cena dantesca.

Malgaxe

 
Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 29/08/2010
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