O Guarda-Freio
 
Juarez de Dios tinha o destino da estação de trens de seu pequeno lugarejo, era o guarda freio, pessoa responsável pela segurança na manobra de trens no pátio  de manobras de uma estação férrea.
Mas Juarez era mais que isso, tinha o poder de vida e morte sobre 2 mil vidas distribuídas sobre 400 moradias a beira dos trilhos, mas somente ele sabia disso, ou, digamos, aceitava como possível este item na vida de todos, e que a todos passava despercebido.
Era um estrangeiro naquele lugar, apesar de viver ali há 30 anos, a boca pequena era tido e havido como uma pessoa passível de desconfiança, apenas por ser de outra região da terra.
A mais ou menos um mes do dia da tragédia, começaram a desaparecer pessoas, na verdade namorados que ao luar trocavam carícias e que ao nascer do dia eram tidos, pelos seus parentes, como desaparecidos.
Tudo foi minuciosamente olhado, até o interior da casa de Juarez foi sumariamente revistada, pois lhe recaía a maior suspeita, por ser ele um estrangeiro, será?
Seria Juarez um homem pacato, capaz de um ato tão hediondo?
Havia apenas um homem que sabia a história de Juarez de Dios, mas misteriosamente sumiu em uma caçada no alto das montanhas que cercam o lugarejo, aliás, arredores que o Guarda-Freio, conhecia como a palma da sua mão.
A única pista que tinham do monstro que sumia com as pessoas, foi uma sombra sobre os trilhos numa noite nebulosa, nada mais...
E era tenebrosamente horrenda à noite nas montanhas, e a cada semana uma nova vítima, era no inconsciente coletivo uma silenciosa matança, recheada de sinais da mão de satanás, pois em alguns casos gritos desesperados varriam as madrugadas em desesperadas tentativas de salvação, gritavam como animais a caminho do sacrifício, e ao longe os lamentos dos parentes impotentes, vendo a inevitável tragédia desenhando-se no breu da noite, e intimamente aguardavam sua vez.
Foi numa chuva de verão antiga que uma composição puxada por uma velha Maria fumaça foi parada no vale atrás das montanhas, num tempo em que eram normais estas blitz das autoridades do vilarejo, mas era distante o bastante para que ninguém da cidade soubesse o que se passava.
Na verdade eram três os guardas que revistavam os vagões, e naquele dia retiraram, sem que os outros passageiros vissem, uma mulher e três crianças, e algemaram no ultimo vagão, o estrangeiro Juarez de Dios, que vinha ao povoado para trabalhar de Guarda Freio nunca mais soube dos seus filhos e mulher.
Entre a neblina da manhã a figura curvada de Juarez, engraxava os engates dos trilhos, a locomotiva que vinha e passava pelo povoado, estaria ali exatamente as 12h00min horas, hora do almoço.
A cidade foi construída ao lado do trilho principal, mas eram entrecortadas por outros três trilhos para manobra, todas as casas sem exceção ficavam de um lado ou de outro de uma das linhas do pátio de manobras.
Depois de levantar a neblina não se via mais ali Juarez, provavelmente foi abastecer a caixa de água que ficava no posto que antigamente era usado para a revista de passageiros e hoje a parada é só para encher os tanques de água.
As 11h50min mim no meio de duas montanhas num vale mais ao sul, surgiu à longa composição.
Duas máquinas, e 76 vagões de combustível, sendo que logo depois das máquinas, um vagão em que viajam o maquinista e seu ajudante, um grande vagão para apenas dois passageiros.
A 1 km da estação, se fosse possível, alguém observar, poderia ver apenas 1 operador, mas a velocidade incompatível com a que uma composição deve ter na hora de parar, seria impossível afirmar que alguém na janela daquele bólido estivesse sorrindo....
Mas, sim Juarez estava sorrindo na direção da locomotiva.
A cem metros da rodoviária, gritos de horror puderam ser ouvidos, dentro daquele segundo vagão, e logo depois ao invés das locomotivas, seguirem pela linha principal, foram bruscamente desviadas para o centro do povoado e mais ou menos no meio deste, descarrilou, lançando de um e de outro lado dos trilhos, vagões que espalharam mais de 2 milhões de litros de combustível, que explodiram a um só tempo, carbonizando tudo e todos a sua volta antecipando o juízo final, no mais diabólico dos festins.
Juarez seqüestrou as pessoas, manteve-as presas até ter a confirmação da vinda da grande composição, e só assim, na parada do trem para abastecer de água, matou os dois condutores, trancafiou as vitimas no primeiro vagão, e levou todos, inclusive a si mesmo, para a tragédia que devastou o vale, numa vingança terrível.

Malgaxe

 
Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 27/08/2010
Reeditado em 27/08/2010
Código do texto: T2463531
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