A Recenseadora
 
Turíbio Vales Urtiga, 46 anos, Seo Tutu, aposentado, por lidar com coisas escusas, aposentou-se cedo e no bairro tinha a casa no terreno mais alto, uma mansão espetacular de 23 cômodos, 12 quartos, tinha ele 4 empregados, e orgulhava-se de ter tido 7 esposas, que devido a fama do sujeito caíram no mundo e nunca mais voltaram, apesar de Turíbio gabar-se aos 4 ventos que ele tinha “descarregado os entulhos” da vida dele.
O fato é que ele era do tipo “galinha” diz que não perdoava nem buraco de tijolo, a vizinhança feminina, não andava de roupas curtas no bairro.
Toda a tarde montava seu corpanzil na varanda e tal qual uma sentinela via o mundo lá de cima, escarrapachado em sua cadeira de palhinha especialmente vinda do vale do Jequitinhonha, trazido por um compadre, ponta firme até embaixo d água, guardador de segredos, uma finura de cabra, excelência de amigo.
Numa bela e escaldante tarde de primavera, lá no começo da ladeira, depois de umas duas espreguiçadas, Seo Tutu,  observou com sua sofrível visão, a mais bela morena que seus olhos já viram, levantou de supetão da cadeira, correu pegar os óculos fundo de garrafa, e pousou sua respeitável barriga sobre a mureta e firmou os olhos...
___Oxente...Ma que coisa linda sô!
___Vamo vê a mercadoria de perto, quando ela chegá aqui.
Voltou e sentou em sua cadeira, e durante 1 hora, acompanhou aquele belo espécime feminino, no seu entrar e sair das residências sem entender nada.
Lá embaixo na calçada passou um molequinho de leva e trás e gritou pro Seo Tutu.
___Owww Padinhu, o tar de Censo vem vino aí, aquela moça morena lá atrais.
Turíbio passou umas duas vezes a língua na boca, tirou o lenço do bolso, enxugou o suor abundante, e balbuciou...
___Hummm, censo, que bicho é isso?
___Ma isso qué dizê que o materiá vai chegá aqui tumem, bão, muito bão.
Serpenteando pela ladeira a bela recenseadora, chegou em frente a casa de Turíbio, e maneiro ele tem seus truques, saiu da varanda pouco antes, para que quando a recenseadora chegasse ele atendesse a bela morena.
Primeiras palmas na frente do portão.
Extremamente solicito Turíbio atendeu a moça e “radiografou” da cabeça aos pés a bonita jovem, com o colete, mas decerto por descuido, sem o crachá.
Turíbio a fez entrar e sentar no sofá da sala, preparando seu vocabulário, para a certeira conquista.
A sua ânsia de descarregar o verbo meloso em cima da recenseadora, não o deixou ver que ela não usava maquiagem, talvez por recato ou para fazer o mais discreto possível este momento.
Sentada meio de lado, começou as perguntas do questionário, e a cada resposta, Turíbio transbordante de charme, atirava-se na moça envolto em risos e galanteios desmedidos.
A face sóbria e séria da moça, não diminuía o ímpeto pegajoso de Tutu, que já perguntara de onde era a moça, se era casada, quantos anos tinha.
Quando lhe foi perguntado sobre o estado civil, Turíbio abriu o repertório de autopromoção e falou, falou, até se cansar sobre as aventuras amorosas, e ao final com um sorrisinho animado disse:
___... E pronto pra casar de novo.
Para impressionar a recenseadora, passou a mão num sininho em cima da mesa, e balançou o objeto estridente.
Logo entrou correndo na sala uma mulatinha, com olhos brilhantes...
___Sim senhor padinhu.
___Trais um suco pra moça.
No desenrolar de toda a entrevista, pelo menos umas 3 vezes Turíbio foi ao banheiro, e voltou enxugando a testa encharcada de suor.
Depois do suco e já encerrada a entrevista, Turíbio fez pela quinta vez um convite para que a moça voltasse outra hora, fora do serviço, para conversarem melhor.
Na incerteza de que conseguiu alguma coisa Turíbio foi ate a frente da casa com a recenseadora, e antes de ir embora fez questão de pegar na mão da moça.
Largou a mão da moça no momento em que perguntou a ela a única coisa que ainda não sabia sobre ela.
___Quar o seu nome mesmo, moça?
Ela sorriu, desceu dois degraus da escada e já na calçada da rua, sob o olhar insano de Turíbio exclamou:
___Luiz Carlos, mas pode chamar de Lalá.


Malgaxe
 
Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 25/08/2010
Reeditado em 25/08/2010
Código do texto: T2459194
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