A Primavera ( PARTE 5 de 9)
- Porra, que cara mais maluco! - Disse o gordo com o pé no meu pescoço. - Amarra os pés e as mãos dele, Juca.
- E o cara morto? Ele matou, a gente devia ligar pra polícia...
- Dizer o q? Que nós invadimos a casa pra sequestrar ele? Cai na real.
Em poucos segundos eu estava amarrado e indefeso, o homem de barba engordurada me levantou pela gola da camisa até bem perto do seu rosto. Nos olhamos nos olhos.
- Vamos limopar sua bagunça, esconder esse corpo, depois levar vc pro chefe.
-Que chefe?
Ele me arremessou contra a parede com força. Não lembro de mais nada.
Deva tinha sumido, o cheiro de sangue na sala foi ficando cada vez mais suave até que desapareceu no ar. Sonhei com um apartamento em chamas, uma garotinha sendo lançada nas chamas... depois um carro azul, um Opala... Ví a batida, pessoas presas dentro dele, meu rosto ardendo das chamas... Mas não era eu que guiava, era outro homem, ele saiu do automóvel gritando, me pedindo ajuda, uma garotinha de cabelos negros e uma mulher queimavam no banco do passageiro presas pelo cinto de segrança.
Agarrei o homem pelos cabelos chamuscados e o coloquei no pota-malas do meu carro. Lembro dos seus grandes olhos escuros de surpresa quando eu o golpeei com minha faca e o vi morrer.
De repente tudo foi ficando mais quente, mais abafado, mais tênue...
-Acorda, seu puto! - Disse o gordo - Tá na hora de ver o chefe!
-Quem é seu chefe? - Perguntei ainda zonzo.
-Vc e ele tem contas a acertar, eu não queria estar na sua pele.